Alexisonfire soa pesado e envolvente em Otherness

Lançando seu primeiro disco de inéditas em 13 anos, a banda mostra uma nova sonoridade e entrega um dos melhores trabalhos de 2022

Capa: Dine Alone Music

O Alexisonfire é um dos nomes mais importantes e influentes do post-hardcore. Se mantendo relevante ao longo dos anos, nem mesmo o período em que a banda ficou inativa foi capaz de ofuscar seu legado. Com o retorno aos palcos em 2015, a expectativa pelo sucessor do excelente Old Crows / Young Cardinals aumentava a cada dia. Quebrando um jejum de 13 anos, a banda lançou no dia 24 de junho de 2022, seu tão aguardado álbum de inéditas, o pesado e envolvente Otherness.

O que esperar de uma banda que sempre foi tão original e criativa? A cada disco lançado, o Alexisonfire entregava algo diferente, sempre surpreendendo os fãs e nunca permanecendo em sua zona de conforto. Com trabalhos tão distintos em sua rica discografia, a banda já não precisava provar nada para ninguém ou mesmo se forçar a lançar algo inovador. Isso não impediu o AOF de lançar mais um trabalho diferenciado e com uma nova abordagem musical.

Foto: Vanessa Heins

Otherness apresenta uma nova sonoridade, com mais peso e um cuidado ainda maior nas melodias. Committed to the Con vem com uma boa dose de peso e já entrega a nova abordagem sonora que norteia o disco. Pulsante e inquieta, a faixa abre com maestria um dos álbuns mais esperados de 2022.

Sweet Dreams of Otherness foi o primeiro single de divulgação da obra, sendo executada ao vivo durante a calorosa e marcante passagem da banda pelo Brasil, com apresentações sold out e um show inesquecível fechando um dos palcos do Lollapalooza. A música causou um pouco de estranheza nos fãs nas primeiras audições. Com um ritmo mais arrastado e com uma influência notável de stoner rock, a canção já mostrava que o Alexisonfire viria diferente e jamais se limitaria a ser uma banda mais do mesmo. Após algumas audições, a faixa se tornava viciante e ao vivo ela crescia ainda mais, se tornando um dos momentos épicos do show.

Conquistando os ouvintes logo de cara, Sans Soleil também foi um dos singles de divulgação. A faixa que conta com a performance vocal impecável de Dallas Green, transborda melancolia e cria uma conexão instantânea com o ouvinte, deixando o mesmo imerso em sua melodia. É facilmente uma das melhores músicas do álbum e também da carreira do Alexisonfire.

O peso retorna em Conditional Love, faixa que tem 100% do DNA do Alexisonfire e que poderia facilmente estar presente no tracklist de Old Crows / Young Cardinals. A sinergia entre os vocais de George, Wade e Dallas brilha na canção, enaltecendo um dos principais diferenciais do AOF. Energética e intensa, a música joga a energia do álbum lá em cima.

Blue Spade volta com o instrumental arrastado e mais cadenciado. É possível notar a influência de bandas como Baroness e Mastodon na canção, além das doses pontuais de stoner rock no instrumental. Hipnotizante e envolvente, é um dos pontos altos de Otherness, principalmente por sua singularidade.

Com uma estrutura que remete a era Young Cardinals, Dark Night of the Soul injeta uma boa dose de energia no álbum. Mesmo sendo mais intensa, a música guarda momentos mais suaves ao longo de seus seis minutos, o que mostra como a banda soube inovar dentro da sua própria sonoridade.

Foto: Vanessa Heins

Mistaken Information quebra um pouco o ritmo do disco, e mesmo longe de ser uma faixa ruim, talvez seja o momento mais fraco da obra. Dallas Green comentou em uma entrevista ao canal KazaGastão, do jornalista musical Gastão Moreira, que Mistaken Information era uma música sua, que acabou sendo incorporada ao disco, já que os outros integrantes adoraram a canção. Por esse motivo, ela tem essa vibe meio City and Colour, projeto de folk rock criado por Dallas, deixando a faixa meio deslocado no álbum.

Com muito peso, Survivor’s Guilt retoma a energia pulsante do disco e entrega um dos momentos mais viscerais da obra. Reverse the Curse, outro single de divulgação de Otherness, mantém a energia da faixa anterior e é uma das canções que mantém a identidade clássica do Alexisonfire, com aquele post-hardcore característico da banda.

Fechando o álbum de maneira épica, World Stops Turning mostra toda a genialidade do Alexisonfire em uma experiência sonora com mais de oito minutos. Com sua introdução suave no violão, passando pela intensidade do instrumental, solos alucinantes e os vocais atordoantes de Dallas, a faixa é uma afirmação de que o Alexisonfire transborda originalidade, criatividade e até mesmo ousadia, já que lançar uma música com mais de oito minutos em plena era do consumismo rápido e desenfreado, parece algo completamente fora da curva.

Otherness é mais um acerto na carreira do Alexisonfire. Um trabalho diferente, interessante e envolvente, deixando sua discografia ainda mais rica e perfeita. A banda sai mais uma vez da sua zona de conforto e se permite experimentar novas possibilidades com a segurança e maturidade de quem tem mais de 20 anos de estrada. Otherness é facilmente um dos destaques de 2022, além de ter o potencial para se tornar um favorito entre os fãs da banda.