Architects entrega inovação e conceito em For Those That Wish To Exist

Com uma pegada mais sombria, banda de Metalcore britânica se entrega completamente na extinção em seu nono álbum

Capa: Epitaph

O ano de 2021 foi especialmente contemplado por álbuns inspiradores e conceituados, principalmente no metalcore. Os fãs tiveram tudo e mais um pouco e não puderam reclamar. E com Architects não foi diferente, muito pelo contrário.

A história da banda em si é algo de pegar os lencinhos e preparar o coração, porque não é nada fácil. Desde seu nascimento, em 2006, Architects vem sendo notado e conquistado uma legião de fãs, mas, em 2011 com o álbum The Here And Now, a banda teve sua base um pouco balançada e quase se desfez por conta de diversas críticas ruins daqueles que se diziam seus fãs. E, como se não bastasse toda essa confusão, em agosto de 2016 – logo antes do lançamento do All Our Gods Have Abandoned Us – o fundador e guitarrista, Tom Searle, faleceu após uma luta intensa de três anos contra o câncer de pele, desestruturando a banda completamente. Tanto que Holy Hell é um álbum extremamente sombrio que fala sobre o luto imenso que alguém pode sentir, unindo ainda mais os fãs e até mesmo aqueles que não gostavam ou conheciam a banda. Não é fácil perder alguém e só quem já perdeu entende o luto e o vazio que o precede.

Foto: Edward Mason

Falando agora sobre o nono álbum, a banda britânica entregou o que podemos chamar de “ápice da inovação do Metalcore” que conhecemos. Não tem como superar esses caras, eles vieram para quebrar tudo, abriram as asas de uma forma inimaginável, se tornando a banda favorita de muitas pessoas. Com 15 faixas de impressionar, os fãs não ficaram na mão com tamanha produção, e podemos ver que todas as batalhas que a banda travou até hoje só fez fortalecer ainda mais os caras.

For Those That Wish To Exist consiste em um som pesado, melódico e com o lírico totalmente focado em catástrofes naturais que, eventualmente, vão afetar cada ser humano de nosso planeta. O álbum é completo e tem uma essência surreal, sem pecar e sem errar, que entrega todos os sentimentos possíveis nos tempos sombrios em que vivemos. É impossível não cantar, chorar e gritar a plenos pulmões com cada faixa dessa obra prima.

Foto: Edward Mason

Black Lungs dá início a todo o conceito que o álbum traz de catástrofes, com um lírico extremamente real a tudo que vivemos e tentamos, sem sucesso, conviver da melhor forma possível. Como se viver um dia de cada vez fosse retardar todo o processo “lento” de decomposição do planeta em que habitamos. Porque o fim está chegando e você pode sentir o gosto das cinzas e a poeira em seus pulmões. Não há como não parar para refletir sobre a vida e tudo o que estamos fazendo no mundo enquanto ouvimos essa faixa. Não há como não repensar nossos próprios atos e tudo o que fazemos para envenenar cada vez mais a Terra.

O álbum aborda diferentes ângulos, mas com o mesmo propósito: nos fazer pensar sobre como o mundo está evoluindo em alguns aspectos, mas regredindo em outros e como isso afeta o nosso lar. Com um cinismo e pessimismo fatalista, como em Discourse Is Dead, que aborda a hipocrisia das pessoas, com um som de arrepiar, gritos incessantes e uma batida fenomenal que levanta até os mortos.

Dead Butterflies é o single que todo mundo canta e grita junto – desculpa, Animals, fica pra próxima –, com uma melodia melancólica, assim como o lírico, nos fazendo olhar para dentro de nós mesmos, lá no fundo. Quem somos de verdade? Onde nos perdemos? É um crime não se arrepiar com a faixa e cantá-la até ficar sem voz.

O começo de An Ordinary Extinction tem uma pegada de tirar os pés do chão. Com uma bateria insana e um vocal extraordinário de Sam Carter, a faixa nos entrega o melhor do metal industrial, com uma inovação que ninguém estava preparado, assim como em Impermanence, que conta com a participação de Winston McCall (Parkway Drive) e deixa o público enlouquecido. Procura uma faixa que promete te fazer delirar e se jogar no meio da plateia durante um show? Impermanence é a música certa. O vocal arrepia de uma forma sem igual – Sam e Winston mandaram demais nessa – e toda a estrutura sonora destrói todos por dentro, não há como pedir uma faixa tão completa e bem produzida como essa. Agora, uma pausa para o melhor verso do álbum: “‘Cause those afraid to die will never truly live”.

Flight Without Feathers é uma das músicas mais calmas do álbum, sem aquela gritaria toda e guitarra pesada. Sentimos um vocal mais limpo e melódico, com uma batida mais leve que releva a escuridão que o lírico nos traz. O que fazer com uma alma quebrada? É a faixa perfeita para um dia nublado com uma ventania insistente.

Animals é o principal single que deixou todo mundo insanamente ansioso pelo álbum completo. Não é de se espantar que seja uma das faixas preferidas dos fãs. O vocal do Sam está impecável, o lírico é de arrepiar, todos os efeitos sonoros encaixam perfeitamente com a composição da música e a batida é de enlouquecer qualquer um. Até porque somos apenas um bando de malditos animais, não é?

Libertine e Goliath são músicas que devem estar sempre no set de qualquer show. Ambas se encaixam perfeitamente, como se uma não existisse sem a outra. Só ouvindo para entender todos os sentimentos e sensações que elas passam, porque é como se o público esquecesse de respirar ou sentisse que está no mais profundo oceano.

Demi God é uma música deliciosa de se ouvir. Se houver raios e trovões na hora fica ainda melhor. Assim como em Meteor – uma faixa completa, com uma guitarra e uma batida consistentes, que arrepiam os pelos da nuca. Toda a composição dessa música é perfeita, cada detalhe, cada nota da guitarra. É aquela música que o fã pega um amor imenso.

E, para fechar o álbum, temos a icônica Dying Is Absolutely Safe que é a mais melódica do álbum. Com um violão impecável e um vocal sem igual, temos uma faixa que faz você chorar igual um bebê. É impossível não pegar um carinho enorme por ela e por tudo o que a compõe. O fã se sente flutuando em um mar calmo em plena lua cheia, com pássaros voando e um vento calmo e suave. É como deslizar em um sono profundo e sem sonhos. Como o abraço aconchegante de uma mãe. Como deslizar calmamente no vazio de uma morte tranquila.

For Those That Wish To Exist superou qualquer expectativa que o público tinha criado. Com letras sombrias e suaves na mesma sintonia, um vocal consistente e bem executado e uma composição impecável, tivemos sim um dos melhores álbuns de Metalcore do ano. Se os caras tinham alguma dúvida se o álbum seria bem reconhecido e notado, isso não existe mais. Não tem como falar sobre Architects sem pensar em FTTWTE. E a gente agradece de coração esse trabalho incrível mesmo depois de tantas lutas. Estamos com vocês, Architects.

Para fãs de: Spiritbox, The Word Alive e Wage War