Deb and the Mentals na fervorosa Babilônia

Agora em português, a banda relembra o poder do rock nacional na voz de uma mulher

Capa: El Rocha Records

Para o seu segundo álbum completo, seguindo Mess de 2017, Deb and the Mentals se repagina, tal qual um camaleão, agora só com letras em português, mas ainda com o mesmo charme da sonoridade dos anos 90/2000.

Babilônia é o sobrenome da frontwoman da banda, mas a Babilônia, historicamente, foi um norte para as civilizações que viriam a se organizar e um dos mais prósperos e importantes centros urbanos; além de, anos depois, com a construção dos Jardins Suspensos da Babilônia, ter se tornado referência de um paraíso na terra. E assimilando o otimismo pós-pandemia que estamos vivendo, também estamos entrando num novo formato de civilização, o círculo se completa.

O disco começa com a missão de te transportar para essa nova realidade, com uma introdução curta de efeitos sonoros, estática e sons revertidos com a participação de Cris Botarelli da banda Far From Alaska. O som flui perfeitamente para segunda faixa, Maratona, o primeiro single do projeto, com uma introdução mais longa, pesada, com riffs coloridos e bateria pungente. Mantém o tom e atmosfera desde o solo de guitarra até a letra sobre como correr de si próprio é correr em círculos e, portanto, é correr atrás de si mesmo, demonstrado com a música terminando no mesmo lugar em que começou.

Rouca é de lembrar a grande Pitty, nas melodias e na potência do vocal feminino. Circundando as mesmas palavras, é sobre ocupar os espaços e soltar a voz e não aceitar ser calada e diminuída, o que soa bastante como uma mulher querendo se impor; ao se aproximar do fim, vai desacelerando até sobrar só uma guitarra suave e melancólica.

A faixa na quarta posição é o momento mais punk do disco. Como muitos clássicos, é bem curta e é repleta de vocais de apoio cheios de raiva e frustração; Antissentimental é intensa e sombria durante toda sua curta existência.

Foto: Murilo Amancio

Em Nenhum Lugar é iniciada com o som de cavalgadas e uma arma sendo disparada e logo após os vocais aparecem sob um filtro no que é uma declaração bem Rock n’ Roll, até atingir sua metade, quando o filtro é retirado da voz e a produção impecável de Fernando Sanches continua a brilhar. No trecho “Distância não separa/ Eu de você/Mas o silêncio sim” temos mais detalhes sobre o relacionamento retratado e o sabor amargo e roqueiro faz ainda mais sentido.

Foto: Murilo Amancio

A próxima faixa é Letargia, a faixa mais querida pelos ouvintes do Spotify, soa como quem cresceu ouvindo Legião Urbana, com algumas guitarras mais pesadas adicionadas. Sobre saúde mental, a faixa trata sobre se sentir apático, entorpecido, paralisado. Já as próximas faixas falam sobre a fase após o fim de um relacionamento e tentar lutar contra os sentimentos que ainda vivem conosco, sobre tentar impor um fim.

A faixa 9 é Colidir, com um instrumental mais aberto e mais leve, se comparado com outros momentos do projeto, confabula sobre deixar as existências e as mentalidades coexistirem entre as pessoas.

E então atinge-se a última música, Ópera Da Loucura, com participação ilustre do guitarrista do Ratos do Porão, Jão. Como numa poesia, Deb diz “disputando espaço / num lugar vazio” como um apogeu que liberta o solo de guitarra pesadíssimo e sujo, o corpo da faixa.

Com direito a harmonia de gritos acompanhando, a guitarra é implacável, até que tudo se extingue e lentamente, tomam forma os sons eletrônicos e estáticos, e exatamente da mesma forma como se iniciou, o projeto se esgota. Como mais um ciclo completo.

Para fãs de: menores atos, Putz e Violet Soda