Inconsistente e superficial, Love Sux não supre expectativas

Sétimo álbum de Avril Lavigne explora elementos da música pop e se destaca, em grande parte, por sua excelente produção

Capa: DTA Records

Três anos após o lançamento de Head Above Water, a cantora e compositora Avril Lavigne deu margem a críticas em seu novo álbum de estúdio. É inegável que até mesmo quem não é fã da canadense depositou grandes expectativas acerca do Love Sux – principalmente após os seus últimos dois álbuns de estúdio, visto que ambos fugiram um pouco do caminho trilhado por Avril no início de sua carreira e não se equipararam aos primeiros lançamentos em termos de sucesso e qualidade.

O resultado, no entanto, deixa um pouco a desejar: composto por 12 faixas de curta duração e totalizando pouco mais de 33 minutos de música, Love Sux surpreendeu ao entregar composições rasas e repetitivas, enquanto o destaque do trabalho é a produção musical de Travis Barker.

(Foto: Brian Ziff)

Abrindo o disco, Cannonball mostra para o ouvinte o que esperar do novo trabalho: uma batida rápida, muita guitarra e a bateria marcante do pop punk moderno. De cara a música não entrega o melhor de Avril Lavigne, mas sua vibração é ideal para compor a setlist de um show.

A faixa subsequente é Bois Lie, uma das canções mais esperadas em colaboração com Machine Gun Kelly. A participação que tinha tudo para dar certo deixou a desejar ao entregar uma composição fraca e imatura. A melodia segue bem trabalhada, entretanto, o eu-lírico de temática adolescente não reflete o potencial da dupla. 

Em terceiro lugar temos Bite Me, faixa que já havia sido lançada para divulgação anteriormente. Responsável pela junção de elementos de destaque da assinatura moderna em consonância com uma produção de altíssima qualidade, Bite Me é, sem dúvidas, o carro-chefe de Love Sux.

O disco segue com mais uma participação especial: o single Love It When You Hate Me, em parceria com blackbear, se mostra um trabalho bem característico do cantor americano. Os versos em rap de bear casam com a batida eletrônica implementada na faixa, somando à voz de Avril e fazendo contraponto à bateria de Travis Barker. É uma receita simples para o sucesso que dá o tom do álbum.

A quinta música é a auto-intitulada Love Sux, cuja composição explica a mensagem principal do novo disco. Baseada em uma produção com temática de decepção amorosa, a faixa faz muito sentido ao considerarmos o cenário musical atual, porém, talvez por pender mais ao pop, sua tendência é a superficialidade.

Kiss Me Like The World Is Ending é uma das poucas músicas do álbum que mais remete aos trabalhos antigos de Avril Lavigne. Se não fosse pelas referências contemporâneas em momentos isolados da faixa, poderíamos facilmente imaginá-la em outros álbuns. O refrão é propício para um coro em perfeita sincronia e a ponte nos transporta diretamente para o Goodbye Lullaby, repleta de nostalgia.

A primeira parte do álbum não surpreende muito além dos singles já divulgados. As inéditas entram como complemento, mas deixam o ouvinte esperando por algo mais característico como o Let Go ou o Under My Skin. A sétima música de Love Sux faz jus ao seu título e traz consigo versos e melodias igualmente impactantes.

Em contrapartida à primeira metade do disco, Avalanche apresenta mais maturidade e nos remete a uma face de Avril Lavigne que normalmente está escondida nas entrelinhas. A música em questão dá equilíbrio à sequência de faixas exploradas até então, expondo sentimentos de forma leve e em conjunto com uma sonoridade embalante.

Déjà vu fala sobre relações baseadas em ciclos infinitos de expectativas não supridas, dando uma certa continuidade à temática adolescente que compõem o álbum. A faixa de número oito é agitada e relembra a animosidade presente em dois dos maiores singles de Goodbye Lullaby, What The Hell e Smile.

Surpreendentemente, F.U. atribuiu toda a essência da cantora em menos de três minutos de duração, onde composição e sonoridade atingiram a combinação perfeita entre as eras Under My Skin e The Best Damn Thing. Com riffs similares aos de He Wasn’t, F.U. é provavelmente a melhor canção de Love Sux.

(Foto: Brian Ziff)

Já a música de número 10 é uma colaboração de dois minutos e meio com Mark Hoppus. Cheia de identidade, pode-se dizer que, ao ouvir o álbum pela primeira vez, All I Wanted é a primeira faixa a atingir as expectativas dos fãs, uma vez que fala por si só no que se refere à liricidade e harmonia.

A décima primeira música do disco, Dare To Love Me, mostra quem a cantora canadense realmente é por trás dos holofotes de forma sucinta e muito bem elaborada. Assim como Avalanche, é uma faixa extremamente pessoal e traz grande vulnerabilidade em sua composição.

Break Of A Heartache encerra o álbum em grande estilo, levando em consideração a produção investida em apenas um minuto e cinquenta de música. No entanto, assim como em boa parte do trabalho, o lírico segue na mesmice e finaliza uma sequência de refrãos rasos e infantis.

Para quem é fã, o Love Sux passa uma mensagem gostosa de volta para casa, mas a experiência sonora proporcionada pelo disco recém lançado pode ser comparada a uma montanha russa de uma descida só, cuja subida remete às seis primeiras faixas de seguimento completamente arrastado e repetitivo; enquanto isso, a descida é caótica, memorável e profunda, simultaneamente. Por fim, o Love Sux pode não ser um dos melhores trabalhos da cantora, mas nos deixa na esperança de que Avril reencontre o seu estilo nesse percurso sinuoso entre o Pop e o Pop Punk em possíveis trabalhos posteriores.

Para fãs de: Machine Gun Kelly, WILLOW e MOD SUN