LiL Lotus e ERRØR BØY: do soundcloud para o mundo

Álbum mistura elementos do Emo Rap com o Pop Punk

Imagem: Divulgação / Epitaph Records

Por Marfelo Lacerda

Muitos dos artistas dessa nova safra do pop punk já se encontravam em gêneros análogos, é o caso de LiL Lotus, pseudônimo de John Villagran. Ele não é nenhum novato na cena, tocando em bandas de post-hardcore no Texas quando jovem e construindo sua carreira no Emo Rap através do soundcloud. Lotus lançou mais de 40 músicas entre 2016 e 2018 e o projeto BOYFRIENDZ com Smrtdeath e Lil Aaron em 2019.

(Imagem: Reprodução / Instagram)

Esse cenário pós-MGK foi especialmente frutífero para artistas vindos dessa cena do Emo Rap como 24kgldn, Powfu, Iann Dior e Poorstacy. Mas Villagran não teve pressa: ele buscou as peças certas antes de fazer sua transição para um público maior. Em 2020, ele lançou três pequenos EPs pela gravadora Epitaph Records, amadurecendo seu som enquanto fundava a banda de post-hardcore If I Die First, lançando dois EPs com ela até então e uma colaboração com a banda Seeyouspacecowboy.

A última peça para o quebra-cabeça de LiL Lotus foi o mega produtor John Feldmann, da banda Goldfinger, responsável por incontáveis álbuns clássicos como os três primeiros do The Used e o The Young and The Hopeless do Good Charlotte. Recentemente, ele tem trabalhado com artistas como Fever 333, MOD SUN, Jxdn e girlfriends.

Juntos, Villagrán e Feldmann criaram o primeiro álbum completo do Lil Lotus: ERRØR BØY.

A primeira faixa, Think Of Me Tonight, chega mostrando o que esperar do álbum. Ela apresenta o refrão ainda na intro com a voz de Lil Lotus bem ao centro em cima de um violão processado com uma delicada guitarra antes de explodir num tremendo hino pop punk digno de Warped Tour, repleto das letras gráficas típicas tanto desse gênero, como do emo rap.

Logo em seguida o álbum traz do reforço de Chrissy Costanza (do Against The Current) para flertar mais com o pop no single Romantic Disaster, onde o refrão contagiante se alterna com estrofes levemente dançantes pra fazer qualquer um no canto da festa balançar os ombrinhos. 

Em Over And Over Again, Lotus pega uma página emprestada do manual de seu amigo lil aaron, mestre em combinar guitarras e beat programados com vocais processados. Produzida por Matt Malpass (MGK, Trippie Redd) a faixa vai crescendo e acrescentado elementos e acaba num maravilhoso refrão final com uma linha de voz secundária tomando a frente antes de dar espaço para a sequência de Rooftops – uma animada break-up song sobre aproveitar a última noite antes de ir embora – e Butterfly K: uma retomada das batidas de trap com uma linha de guitarra que lembra muito The Great Escape do Boys Like Girls, além de trazer um respiro à sequência de músicas vibrantes que a antecedem. 

No single Girl Next Door, Lotus traz lil aaron numa faixa que mistura o estilo dos dois passeando entre batidas de trap e refrões com baterias secas apostando nas harmonias das duas vozes. Se os beats até aqui foram usados pontualmente, em Lips That Kill eles tomam a frente carregando a faixa entre os refrões no que parece ser um aceno ao passado do artista no Emo Rap. Doctor Doctor é outro ponto alto onde a angústia fica evidente nos vocais rasgados que Lotus finalmente consegue trazer pra essa que é a faixa mais pesada do álbum, podendo ter saído direto de um álbum do Senses Fail.

Travis Barker faz sua primeira de duas aparições em Not Getting Over This, curiosamente a faixa cai muito mais pra antiga sonoridade de Lotus assim como as duas faixas seguintes: Fake Love e Why U Do Me Like This. A primeira sendo uma das mais pop do álbum, abusando do 808 enquanto a segunda vai de um “mumble” para uma pegada melódica; típica do Emo Rap trazendo pouquíssimos elementos que já não fossem comuns no som pregresso de Lotus

Na última faixa, Don’t Fuck This Up, vemos o retorno de Barker dessa vez com sua assinatura muito mais clara num refrão energético mesmo que em, comparação com outras collabs de Travis, as baterias sejam até bem simples. A música tem um final que deixa o ouvinte dividido: um crescendo que termina de forma abrupta ao invés de explodir — dando um certo gosto de “quero mais” para uma faixa que até ali não havia entregado tanto. Será que um último refrão totalmente carregado vingaria a música? Ou seria essa expectativa o final perfeito para o álbum? 

Veredito

(Imagem: Reprodução / Instagram)

Lil Lotus traz uma bagagem muito grande do seu tempo na cena para ERRØR BØY, mas agora o encontramos lapidado pela experiência de Feldmann, ainda que ele não tenha produzido todas as faixas. Os dois primeiros feats são excelentes, trazendo um tempero a mais para a música — porém a participação de Travis Barker parece sub-aproveitada nas duas faixas.

Estamos falando aqui do artista que colaborou em faixas como I Think I’m Okay, 11 minutes, Transparent Soul e muito mais. O álbum tem alto e baixos e talvez a pressão das faixas mais energicas deixa aquelas mais calmas menos charmosas; ; uma vez que elas não soam especialmente confessionais ou intimistas. A exceção é Butterfly K que realmente traz um respiro mais delicado à primeira metade do CD.

Os dois Johns conseguem trazer o melhor um do outro à tona, as faixas onde mais sentimos a produção característica de Feldmann são as que mais vemos Villagran brilhar. Ficamos aqui torcendo pra essa parceria nos trazer muitas outras músicas incríveis no futuro.

Para fãs de: lil aaron, Girlfriends, Machine Gun Kelly