Luke Hemmings e repaginação do rock progressivo

Vocalista da 5 Seconds of Summer explora sonoridade e composição em primeiro trabalho solo

Capa: Sony Music Entertainment Australia

O vocalista, compositor e agora multi-instrumentalista Luke Hemmings usou a crise global e o distanciamento social para se familiarizar com a trajetória e os bastidores da carreira que já completa 10 anos. Em seu Instagram, compartilhou que o processo de criação de disco solo o “ajudou a entender quem sou e como cheguei aqui”.

A mudança de cenário e colaboração com o compositor e produtor Sammy Witte, além de sua noiva Sierra Deaton, resultou em 12 faixas introspectivas mergulhando em questões de saúde mental, medo da vulnerabilidade e fugir dos próprios sentimentos, viver no automático e se distanciar das pessoas, não apreciar o presente e não perceber o passar do tempo. 

(Foto: Reprodução / Twitter)

Em 13 de agosto de 2007, Luke criou o que seria a conta oficial de sua banda 5 Seconds of Summer no YouTube. Exatamente 14 anos depois, seu primeiro projeto pessoal, When Facing the Things We Turn Away From, é compartilhado com o mundo, o resultado de muita reflexão e o confrontamento com emoções que não tiveram chance de chegar à superfície ao longo da carreira. 

O primeiro single e faixa de abertura ao álbum, Starting Line, foi lançado junto ao anúncio do projeto, introduzindo o tom e a perspectiva que permeiam a estreia. Além disso, a faixa estabeleceu um alto padrão, talvez alto demais, com o ritmo crescente e a lírica melancólica sobre as consequências de uma realidade tão grandiosa e dinâmica e a priorização de crescer e evoluir como artista, negligenciando o pessoal e psicológico.

Sonoramente, cria a atmosfera de um medo se intensificando, uma angústia e ansiedade; a intensidade aumenta, mas não tem liberação da tensão ou conclusão, ressoando como a amargura de não poder recuperar o tempo ou mudar o passado. Uma aposta promissora, mas que não foi sustentada em todos os momentos, o disco começa num embalo e perde força ao encontrar sua metade, a temática sendo reciclada e os vocais se perdendo entre os sintetizadores. Saigon, a segunda faixa, tem um agridoce da nostalgia em contraposição com o enfrentar dos sentimentos, sabor que só reaparece nos momentos finais do ciclo.  

(Foto: Reprodução / Twitter)

A faixa de número oito, Slip Away, merece ressalvas, intensamente narrada em 1ª pessoa, Hemmings retrata o destino de um relacionamento confirmando seus medos, deixando o ouvinte completamente perdido entre realidade e narrativa. Nesse momento são apontados os pontos fracos, as melodias sem inovação e os falsetes rasos, e os pontos fortes, a voz de peito e belting e a vulnerabilidade que escorre pela sonoridade. Em menções honrosas negativas, faixas como Motion e Mum não mantém o engajamento e são como um banho de água fria. 

O australiano claramente encarou esse projeto como um experimento, procurando diferentes formas de preencher o espaço sem seus três companheiros de banda e se apoiando mais nas inspirações de nomes como George Harrison e Neil Young e artistas solo que roubaram a holofote no fim da década de 60. Com a adição de elementos pop e contemporâneos na produção é que se perde a coesão encontrada nas letras: experimentar em criar uma atmosfera é propor momentos de imersão e outros de decepção. 

As faixas de destaque deixam evidente que é na simplicidade da sobreposição que brilha o vocalista: cru, intimista e cheio de sentimento. E é por isso que as 2 últimas tracks são os tesouros, tendo Bloodline tratando vícios de família e o fantasma que é a hereditariedade e Comedown, a chave de ouro, o Grand Finale levado ao pé da letra; o instrumental gradual que te arranca o fôlego e te aproxima do âmago do artista, te forçando a encarar sensações diversas, mas que acabam em arrepio.  

Para fãs de: 5 Seconds of Summer, The Maine e Hayley Williams