Mayday Parade abraça suas origens em What it Means to Fall Apart

Trabalho marca o sétimo álbum de estúdio da banda

Capa: Rise Records

Se tem algo que Mayday Parade nos ensinou ao longo de todos esses anos (mais especificamente desde o primeiro EP, Tales Told by Dead Friends) é que há sim maneiras de colocar em palavras tudo aquilo que nos recusamos a explicar ou dificultamos em expressar. Famosa pela melancolia e altíssimo grau emotivo nas composições, a banda lançou seu sétimo álbum de estúdio na última sexta-feira, intitulado What it Means to Fall Apart.

Com um título direto e com a sensação de dedo na ferida, o grupo norte-americano mexe com os mais profundos e amargos sentimentos logo na arte de capa. A imagem não só traz referência ao seu trabalho mais famoso (A Lesson in Romantics, 2007) como também retrata a sensação de estar se dividindo em pedaços que vão voando com o vento conforme os dias se passam — e a dor fica.

(Imagem: Reprodução / Twitter)

Derek Sanders usa e abusa de seus vocais ao longo de todo o trabalho, incluindo faixas que inicialmente podem soar estranhas para os fãs mais antigos (sobretudo os que reprovaram o quinto álbum, Black Lines). No entanto, Mayday Parade sempre cumpriu muito bem a tarefa de manter-se fiel ao seu público independente do andar da carruagem comercial e dos algoritmos do streaming, e em What it Means to Fall Apart não é diferente.

O trabalho começa com Kids Of Summer, que pode muito bem resgatar a memória afetiva daqueles que se apaixonaram pelo grupo estadunidense com Kids in Love ou até mesmo da atmosfera de veraneio em Jamie All Over. Não é apenas na arte de capa que o Mayday Parade olha com carinho para seu passado e para o que fez a banda chegar onde está hoje, e sim para o conjunto de sua obra.

Como sempre, as composições entregam um forte apelo emocional que dificilmente pode ser reproduzido ao lado de uma garrafa de vinho e um celular com crédito. Não há limites para os românticos incorrigíveis da Flórida, e What it Means to Fall Apart mostra muito bem isso.

Derek no clipe de One For The Rocks And One For The Scary (Imagem: Alexander Bemis)

Golden Days é uma lágrima que escapa de um choro proibido. A letra é repleta de emoção, mas flerta diretamente com o mais sombrio lado do ser humano. Não é equivocado dizer que essa canção em específico fala muito bem do sentimento que o período de isolamento social deixou em cada um de nós e da sensação de não ter para onde correr no fim do dia.

Embora ela aborde as declarações amorosas bem tradicionais de Mayday Parade, Golden Days é introspectiva e retrata o sentimento de não se reconhecer mais após um período turbulento.

Nas três faixas seguintes, o eu lírico traz uma composição mais simples sobre despedidas, rupturas e sobretudo saudade. É algo mais íntimo, e é por isso que Think Of You é cantada de maneira simples, em voz e violão. O salto já é mais alto para If My Ghosts Don’t Play, I Don’t Play, em que a banda mais uma vez revisita sentimentos obscuros utilizando fantasmas como metáforas.

Enquanto essa fala de nunca caminhar sozinho, a trilogia narrativa fecha-se com Sideways, que explora ainda mais o sentimentalismo quase ultrarromântico e o uso excessivo das metáforas para substâncias químicas.

A abordagem muda para uma letra mais alegre, porém numa sonoridade triste no single One For The Rocks And One For The Scary. O contraste emocional repete-se em Bad at Love, cujo título é completamente autoexplicativo, mas traz com sucesso o uso da temática que jamais soará batida quando usada por Mayday Parade.

Notice permanece repleta de declarações, mas é em Heaven que tudo muda e pode inclusive soar um pouco estranho para os fãs mais antigos. Enquanto a faixa quatro flerta muito mais com instrumentos mais presentes e uma sonoridade mais pesada, a nona canção traz batidas eletrônicas e uma voz autotunada de Derek Sanders. É um complemento curioso e que a princípio soa como fora de sintonia diante de todo o álbum, mas que funciona.

(Foto: Bridget Craig)

A melhor do álbum, Angels Die Too, já mostra o eu lírico em repleta situação de esgotamento emocional. Embora What It Means to Fall Apart opte por não seguir uma narrativa em suas canções, o disco possui uma constância já familiar em trabalhos da banda. O trabalho destaca-se na discografia e abraça as referências e toda a história que fizeram o Mayday Parade ser quem ele é, de fato. No entanto, o sétimo disco do grupo dificilmente ganhará o espaço que seus títulos de maior sucesso e apelo emocional possuem.

You Not Me e I Can’t do This Anymore encerram o trabalho composto por doze músicas. Enquanto a undécima faixa relata um término visto do ponto exaustivo e desistente, I Can’t do This Anymore viaja para o interior do sentimentalismo e psíquico humano, abordando a sensação de solidão e estaca zero emocional.

De um modo geral, o Mayday Parade permanece agradando seu público desde o primeiro trabalho e encontrando maneiras de contar histórias e sentimentos há mais de uma década, mas dificilmente substituirá no coração do público lugares especiais como os que A Lesson in Romantics ocupa. É interessante, contudo, observar que a banda não se perde em suas canções e mantém a essência daquilo que a faz única por tanto tempo.

Para fãs de: We The Kings, You Me At Six e Every Avenue.