Normandie encontra seu novo caminho em Dark & Beautiful Secrets

Trio sueco aborda saúde mental e religião em terceiro trabalho de estúdio

Imagem: Easy Life Records

Há artistas escondidos nos serviços de streaming atualmente que, quando descobertos, deixam a sensação de serem uma boa surpresa — principalmente quando a música cativa o ouvinte imediatamente. É o caso do Normandie, banda sueca formada em 2013 que neste ano disponibilizou o álbum de estúdio Dark & Beautiful Secrets em todas as plataformas digitais.

O trabalho é o terceiro do trio, sucessor do grandioso White Flag, lançado em 2018, e considerado pelos integrantes como o mais intimista de toda a discografia. Logo de início, Normandie propõe um convite ao público para a imersão que acontecerá ao longo das faixas em Babylon, com a frase “are you following ou falling out?”

Apesar das batidas contagiantes, dos refrões que ficam na mente, ao prestar atenção com muita calma, é possível perceber que as letras trazem consigo muito mais do que melodias superficiais. A segunda faixa do álbum, intitulada de Hostage, trata de um problema pessoal do vocalista, Philip Strand, que sofre de ansiedade e passou por inúmeros ataques de pânico ao longo de sua vida. A música tenta retratar como é conviver sendo um refém dessa condição, com os versos proferidos pelo cantor pulmões afora.

Da esquerda para a direita: Anton Franzon, Philip Strand e Håkan Almbladh (Imagem: John Gyllhamn / Reprodução Twitter)

Em seguida, o álbum leva o ouvinte por duas canções, Jericho e Holy Water, que abrem espaço para o lado religioso da questão — e que é por onde quase todo o álbum permeia. Ambas foram lançadas como singles e possuem ritmos pesados, onde Philip se abre para gritar.

Em Holy Water é possível escutar uma batida eletrônica, que dá margem para a entrada de Mission Control, talvez a maior surpresa do álbum, e que não deixou a desejar em absolutamente nada. A música é capaz de te fazer dançar com os seus sintetizadores, mas ainda sim faz pensar com a sua letra intensa.

O ritmo se perde um pouco em Bury Me Alive, talvez a faixa mais tímida de todo o trabalho — não necessariamente por ser ruim, mas por ser ofuscada pelo restante da tracklist. É uma pena, no entanto, a música ser facilmente esquecível com uma letra tão poderosa, que retrata a revolta do vocalista diante de uma quebra de paradigma religioso: talvez não exista céu e inferno, no final das contas.

Atmosphere chega para dar um respiro em um álbum que nos mostra tanto em tão pouco tempo. É uma canção que retrata a solidão e, quando pensado que Dark & Beautiful Secrets foi feito, em sua maior parte, durante a pandemia, ela traz um outro significado: mostrando um pouco da nossa fragilidade como seres humanos e a relação que temos com a internet. As grandes batidas e solos de guitarra deram lugar ao doce barulho do piano e um acústico de tirar o fôlego.

O respiro não dura por muito tempo. Já que agora o ouvinte se prepara para duas músicas com riffs, bateria pesada e letras fortes.

(Imagem: Lucas Englun / Reprodução Twitter)

Thrown In The Gutter e Renegade falam abertamente da reviravolta na vida de Philip Strand com a religião. Em Thrown In The Gutter, a parte “14 years  gone in a second” retrata exatamente a sua idade quando ele percebeu que o ambiente da igreja não fazia mais parte de quem ele era. Renegade é como se ele fechasse esse ciclo, o significado da palavra já mostra por si só “aquele que renega suas antigas opiniões ou convicções”, e não houve maneira melhor de simbolizar esse ponto final com gritos expressivos ao longo da canção.

Para fechar com chave de ouro, a décima música é Chemicals, uma entrada para uma viagem de batidas que são capazes de envolver o público com energia, além de uma melodia poderosa sobre o que podemos chamar de amor. Afinal, nada como terminar um álbum intimista falando sobre o sentimento mais particular do ser humano. É um final completamente adequado para o que parece ser uma nova fase da banda.

Se o álbum fosse um show, a vontade era de pedir bis. Com Normandie, é assim mesmo: a reprodução do álbum é fluida e natural, deixando a sensação de querer mais. A mistura do post-hardcore, com batidas pop, eletrônicas e as referências de metal alternativo levam a uma imersão incrivelmente positiva, existe algo para todos na obra. Dark & Beautiful Secrets é um álbum que não tem segredo — não é extremamente complexo, mas é perceptível que foi pensado nos mínimos detalhes.

Para fãs de: Bring Me The Horizon, Hands Like Houses e PVRIS