O enérgico caminho para a destruição de PUP

THE UNRAVELING OF PUPTHEBAND: Só PUP sabe como fazer a decadência soar tão agradável, confortante e libertadora

Capa: Rise Records

Em 2013, a banda que começou como Topanga, mudava o nome para algo com que se identificassem mais: PUP, abreviação de “Pathetic Use of Pontential”, o que a avó de um dos membros disse sobre a vida de rockstar. E, agora no 4º disco da banda, o nome continua perfeito pra descrever a combinação de caos, ironia e autopercepção.

Four Chords (Imagem: Reprodução / Instagram @puptheband)

A primeira faixa inicia o conceito do álbum: os diretores de uma empresa fazem uma reunião de pauta para decidir como prosseguir com os negócios. Os diretores são os membros da banda e a empresa, a própria banda e o legado que vêm cultivando por uma década. E como o título do disco revela: a empresa/banda está no caminho para a desintegração. Nas faixas 6 e 11 a história continua, demonstrando a dedicação e senso de humor que percorrem as veias do que jamais conseguiria ser uma empresa com tanta dedicação e autenticidade.

Mais pesada e mais caótica, Totally Fine trata sobre a saúde mental decadente com um refrão chiclete e irresistível. A mixagem é de lembrar o midwest emo, tendo o instrumental e os vocais ocupando o mesmo espaço no primeiro plano. Tudo adiciona à atmosfera de agonia e angústia. Sentimentos ruins são cantados, ou gritados, com tanta energia que passam a ser proveitosos e perfeitos pra gritar junto.

A terceira faixa, Robot Writes A Love Song, pode ser considerada uma música romântica, mas vai muito além disso quando se trata da perspectiva de um computador arrebatado por sentimentos humanos que o fazem preferir a autodestruição. A banda quis alcançar o “equilíbrio entre emoção sincera e completa idiotice”, tudo isso sobre um instrumental frenético e uma estrutura única define um dos maiores sucessos do disco.

Matilda era o nome da guitarra do vocalista Stefan Babcock, que foi muito querida e muito usada durante anos a fio. A faixa trata sobre o abandono da guitarra a partir do momento em que sua sonoridade e qualidade não eram mais suficientes ou equivalentes aos padrões da banda. Aproximando-se mais do indie rock, a música é mais melódica e melancólica, sob a perspectiva de ser abandonada e trocada por outra.

Relentless começa um momento pesado e mais sombrio, sem tempo pra brincadeiras ao tratar sobre a ansiedade, dificuldades e turbulências de viver de música; sobre nem sempre querer estar onde está, mas saber que seria pior estar sem. As próximas músicas vão tratar como relacionamentos são influenciados pela carreira musical, como o trabalho pode se tornar um obstáculo, ou até como a carreira em si é como um relacionamento paralelo.

Em Waiting, o eu lírico reflete sobre a insistência numa relação que continua não dando frutos, tendo como um truque na manga o específico caso de ir às reuniões dos Alcoólicos Anônimos no porão de uma igreja só pra encontrar com a outra pessoa, indo contra os princípios anarquistas; um toque pessoal e irônico que torna toda a dor mais universal.

Na 10ª posição encontra-se Grim Reaping, uma música de protesto, o que, nesse momento em especial, contempla a autodeclaração de banda Punk. Sobre como “é uma arte/ como continuamos a destruir uns aos outros”, em tradução livre, dessa vez tratando a autodestruição de um grupo, ao invés do solitário eu lírico.

Pra fechar o projeto, o quarteto canadense produziu mais um espetáculo, PUPTHEBAND Inc. Is Filing For Bankruptcy é o desfecho do conceito, em que a empresa imaginária declara falência, mas, longe disso, a banda reúne esforços para um momento histórico. Recheados de sarcasmo, mencionam que talvez daqui alguns anos também desistam da música e viagem para o mundo da venda de seguros.

(Foto: Vanessa Heins)

Nos momentos de mais seriedade, mas nem tanta assim, ponderam sobre o início da carreira e suas dificuldades em contraposição aos momentos mais recentes e a evolução e os benefícios conquistados, sempre continuando com a mesma mentalidade destrutiva, torcendo para não estragarem tudo antes do sucesso. Mais adiante na música, na ponte, decidem “I’m truly grateful for the life that I’ve led/I’m just being dramatic” (Estou verdadeiramente grato pela vida que levei/só estou sendo dramático).

A linha que trespassa toda a trajetória do grupo é a habilidade de transformar a raiva, frustração e auto ódio em melodias frenéticas e refrões cheios de deliciosos Gang Vocals, os tornando perfeitos pra gritar junto numa arena cheia de outras pessoas que também sentem que a música, assim como a vida, é uma benção e uma maldição, mas, afinal, ossos do ofício.

Para fãs de: Mom Jeans., Modern Baseball e Tigers Jaw