As muitas faces e sentimentos de LAVOLTA em Sinto Muito

Disco é o primeiro trabalho completo da banda desde 2016

Capa: LVT Records

Em seu primeiro trabalho completo desde Sublimar (2016), a banda natural da Grande São Paulo, traz em Sinto Muito uma abordagem mais suave e sensível sobre sua visão da realidade e as relações sociais e, em momentos mais intimistas, sobre relacionamentos. A mina de ouro da LAVOLTA é sua poesia, cuidadosamente entrelaçada em sons que só poderiam resultar de muita influência genuinamente brasileira.

Pela segunda vez, a banda começa com uma introdução, uma faixa bem curta que dá ao ouvinte uma prévia do que esperar do projeto; leve e acústica anuncia todo o sentimentalismo que está por vir.

(Foto: Divulgação)

Euforia é a segunda faixa e apresenta níveis incríveis de criatividade nas melodias rítmicas. Com uma produção bem presente, trata ideias de hereditariedade e onde estamos versus onde estiveram nossos parentes, aonde se vai em contraposição por onde se foi.

A faixa seguinte já traz influências do rock dos anos 2000 e uma melodia bem brasileira enquanto o vocalista explica como quer aproveitar a vida, já que o tempo é curto demais para ser desperdiçado.

A música na quarta posição é Abismo É Para Quem Tem Asas. Escolhida como primeiro single, não foi sem motivo: mais sombria e pesada, foi produzida por Lucas Silveira (Fresno) e alcança vocais de rasgar ao mesmo tempo que guitarras atingem tons de metal juntando toda a frustração sobre a desconexão entre as pessoas, além de vários comentários sociais certeiros.

A faixa título cria uma imagem, “São Bernardo após às seis/ Chove frio outra vez” e existe nessa melancolia de fim de tarde chuvoso pra revelar que o que tem por trás do nome não é um pedido de desculpas e sim um desequilíbrio num relacionamento que não ia nada bem. E essa imagem é pintada com as melhores palavras possíveis na extensão da música, mostrando não só o potencial poético como também a evolução e amadurecimento dos artistas desde o último trabalho.

Em seguida vem um interlúdio curtinho pra dividir o álbum ao meio, e nesse curto período remete ao trabalho anterior e à faixa seguinte, 2608, que usa um piano dramático pra emoldurar a dor do fim de um relacionamento, sem deixar de admitir parte da culpa e reconhecer a própria evolução. Destaque para o solo de guitarra sob os background vocals que é um toque extra especial.

Deixa, a nona faixa, pode facilmente ser a melhor e mais bem trabalhada faixa do projeto. Mais saudosista e existencial, o instrumental é tão detalhado quanto os vocais, o que significa que tudo tem muita intenção e dedicação para criar essa peça única que vai crescendo e explode em cada refrão, cada vez mais, até culminar na última seção que é singularmente mais otimista e com gostinho latino em sua essência.

Mel Negro é mais uma parceria e se destaca pela bateria que sai do plano de fundo e ressoa pelo corpo inteiro. A próxima, Nostalgia, é extremamente criativa e demonstra mais uma vez que a banda não tem vergonha ou remorso em utilizar das mais diversas inspirações e recursos em suas composições.

Pra encerrar, Sou é mais dançante, com sintetizadores e uma linha de baixo bem pronunciada. É como uma conclusão para os questionamentos existenciais ao longo do álbum, é um respiro de alívio, é entender que “entre onde estive e aonde estou, sou”.

Para fãs de: Zimbra, Alaska e Cefa