Underoath é consistente, profundo e pesado em Voyeurist

O sucessor de Erase Me olha para o futuro sem se desprender de suas raízes, resultando em uma obra agressiva e coesa

Capa: Fearless Records

O Underoath é uma banda consagrada no meio do post-hardcore/metalcore, donos de uma discografia sólida e diversificada, além de serem uma referência para inúmeros artistas da nova geração. A banda que lançou seu primeiro trabalho em 1999, o visceral Act of Depression, entrega em janeiro de 2022 seu mais recente álbum de inéditas, o excelente Voyeurist.

O som do Underoath foi se atualizando ao longo dos anos, trazendo em cada álbum novas nuances e flertes com diferentes sonoridades. Em seu primeiro full, The Changing Of Times (2002), ainda com Dallas Taylor nos vocais rasgados, o som era calcado no post-hardcore com fortes elementos de screamo. Já com as primeiras mudanças em sua formação, resultando na saída de Dallas e na entrada do vocalista Spencer Chamberlain, o grupo tirou um pouco do peso e agressividade presentes no álbum de 2002, para apostar num som melódico e mais acessível.

(Foto: Dan Newman)

They’re Only Chasing Safety (2004) e Define The Great Line (2006) colocaram o Underoath em total evidência na cena musical e já são considerados clássicos na discografia da banda, além de serem discos importantes dentro da cena post-hc/metalcore. Os vocais berrados de Spencer, combinados com os vocais limpos e melódicos do baterista Aaron Gillespie, são um dos principais diferenciais no som da banda, resultando em uma sinergia única.

Em 2008, lançaram o álbum Lost in the Sound of Separation, onde o som volta a ficar pesado e agressivo, porém, com elementos de música industrial. O relacionamento dos membros estava bem tenso, quase resultando no fim da banda. Antecedendo a separação do grupo (que viria a acontecer em 2013), Ø (Disambiguation), de 2010, é o primeiro trabalho sem o membro fundador Aaron Gillespie, sendo substituído por Daniel Davison (ex-Norma Jean).

(Foto: Dan Newman)

A banda voltou às atividades em 2015, com Aaron de volta à formação.  Após um período de 8 anos sem lançar um álbum de inéditas, o grupo lançou o disco Erase Me (2018), dando início a uma nova fase da banda. O Underoath sempre foi conhecido por ser uma banda cristã, porém, com o lançamento de Erase Me a banda se desvinculou desse rótulo. O disco apresentou uma sonoridade moderna, mas condizente com as raízes e principais influências da banda, deixando os fãs curiosos com os próximos lançamentos.

No dia 14 de janeiro de 2022, o Underoath finalmente solta seu tão aguardado disco de inéditas. Voyeurist vem para reafirmar que o Underoath segue sendo uma das bandas mais relevantes do gênero. O álbum abre com a energética Damn Excuses, uma porrada que acerta o ouvinte em cheio com uma dose certeira de peso e agressividade.

Hallelujah conversa com o Underoath do passado, melódico e experimental, onde a atmosfera da faixa envolve o ouvinte e o deixa imerso na canção. A diferente I’m Pretty Sure I’m Out Of Luck And Have No Friends começa introspectiva mas reserva seus momentos de peso para o final.

Em um feat completamente inusitado com Ghostmane, o Underoath entrega um dos momentos mais interessantes da obra em Cycle. Thorn tem uma suavidade que contrasta perfeitamente com a agressividade presente no álbum. A faixa é delicada e agressiva ao mesmo tempo, algo que o Underoath domina com maestria. (No Oasis) é melancólica e sombria, preparando o ouvinte para a canção seguinte, que funciona como uma continuação direta. A banda mostra sem som está sempre olhando para frente em Take A Breath, onde mantém suas principais características ao mesmo tempo que insere novos elementos musicais.

Marcando um dos melhores momentos de Voyeurist, o Underoath mergulha na desesperança em We’re All Gonna Die. Com um instrumental atordoante e os vocais rasgados de Spencer, a faixa mostra sua desilusão em versos como “You could just throw me away/ I’m not good enough to be saved” e seu descaso ao cantar “Hey, we’re all gonna die, what difference does it make?”.

Numb é outra música que faz a banda brilhar. É o Underoath confortável e seguro, equilibrando com perfeição peso e melodia, sem dúvidas uma das melhores tracks do álbum. Pneumonia, a faixa mais longa do disco com mais de 7 minutos, foi parcialmente inspirada pela morte do pai do guitarrista Tim McTague.

Voyeurist é surpreendente e mostra que o Underoath é merecidamente um dos grandes nomes de sua geração. Consistente e interessante, o álbum tem tudo para se tornar um favorito entre os fãs. A banda continua atualizando sua sonoridade sem perder sua personalidade, resultando em um dos trabalhos mais impactantes do começo do ano.

Para fãs de: Architects, The Devil Wears Prada e Saosin