Boston Manor no Brasil: a saudade que vira encontro e a promessa de uma “verdadeira celebração”

Vocalista Henry Cox detalha a aguardada estreia no país, revisita o passado e dá pistas sobre o futuro do Boston Manor.

Arte: Tay Viana | Fotos: Megan Doherty

Há ciclos na música que parecem roteirizados pelo destino. Para a banda britânica Boston Manor, um desses ciclos está prestes a se fechar. Uma década depois de batizar um de seus primeiros EPs com a palavra mais brasileira que existe, Saudade, o grupo se prepara para, finalmente, desembarcar no Brasil daqui a duas semanas. A longa espera está prestes a virar um encontro que promete ser histórico.

Foto: Megan Doherty

Em uma conversa por vídeo, a poucas semanas da turnê, o vocalista Henry Cox reflete sobre a jornada até aqui. Com um sorriso quase tímido e uma sinceridade palpável, ele admite que a realidade atual supera qualquer sonho do início da carreira. Para ele, a chance de tocar no Brasil soava como “um sonho distante”, algo que ele jamais acreditaria ser possível. “Se você tivesse me dito que eu poderia tocar fora do Reino Unido, eu não teria acreditado”, confessa, lembrando da época em que a maior ambição era “tocar para 200 pessoas em Manchester”.

Essa percepção de um sonho se realizando guia toda a preparação para os shows. Afinal, como montar o repertório perfeito para um público que nunca te viu ao vivo? A resposta é clara: será “uma verdadeira celebração”. Henry promete uma “setlist eclética, com músicas de todos os discos”, garantindo que a banda vai entregar “mais coisas antigas do que normalmente tocamos” para retribuir o carinho de quem os acompanha há tanto tempo.

Foto: Harry Steel

A viagem ao passado, aliás, já começou nos ensaios. Henry conta que tem se divertido ao revisitar as raízes da banda. “Eu tenho praticado, cantando muitas coisas do Be Nothing que eu não cantava há muito tempo”, revela, aquecendo o coração dos fãs de longa data. 

E, falando em clássicos, a infame “Cu” (abreviação de “Copper” para eles) não ficou de fora da conversa. Ao ser questionado sobre a possibilidade de tocar a música que virou “piada interna” no Brasil, devido ao seu significado, ele ri, confirmando que sabe da situação, e promete levar a ideia para a banda, deixando no ar a chance desse momento icônico acontecer.

Os elementos que tornam o Boston Manor único

Mas o que define o Boston Manor vai muito além de uma ou outra música. A identidade da banda é construída sobre pilares criativos muito sólidos. Um deles é a coragem de evoluir sonoramente, algo que Henry credita aos próprios fãs.

Foto: Dan Cunniff

Ele recorda que, após o sucesso do primeiro álbum, a mudança drástica para o Welcome To The Neighbourhood poderia ter sido um risco, mas o público os acompanhou. Essa aceitação, segundo ele, abriu um “espaço onde pudemos explorar um pouco mais” do que talvez outras bandas consigam, permitindo que os sintetizadores e novas texturas se tornassem parte fundamental de seu som.

Essa sonoridade caminha lado a lado com uma identidade visual forte, concebida dentro de casa. Henry, que é designer, geralmente apresenta a visão inicial, mas o processo é totalmente colaborativo. “A banda é formada por pessoas muito visuais”, explica. “Dan [baixista] é um ótimo fotógrafo”, ele destaca, ressaltando o papel do colega em grande parte da estética do grupo. 

É essa sinergia que permitiu a criação de projetos ambiciosos como os álbuns conceituais Datura e Sundiver, uma experiência que Henry descreve como “a coisa mais recompensadora que já fizemos em nossas carreiras, criativamente falando”.

O passado como inspiração para o futuro

De volta ao presente, e pensando nos fãs que podem estar descobrindo a banda agora, Henry elege Datura como o ponto de partida ideal, um álbum que, para ele, encapsula tudo o que o Boston Manor tem de melhor. Mas, claro, não deixa de citar novamente Welcome To The Neighbourhood como uma ótima pedida, tendo em vista que foi ali onde tudo mudou.

E essa imersão nas músicas antigas para a turnê parece estar acendendo uma faísca para o que vem a seguir. Com o aniversário de 10 anos do Be Nothing se aproximando em 2026, a nostalgia pode ser o combustível para o futuro. Henry revela, de forma sutil, que a banda “começou a escrever novamente agora”, dando a entender que essa conexão com as raízes está inspirando novas ideias.

Ele adianta, no entanto, que essa inspiração não significa um retorno ao som do passado. “Não estou dizendo que vamos fazer um álbum pop punk de novo”, pondera, explicando que a vontade é de resgatar algo mais profundo: a “simplicidade por trás do sentimento e da intenção” que aquelas canções passavam. No fim das contas, essa capacidade de se reinventar é o que os define. “O legal disso tudo é que estamos sempre mudando”, conclui.

Ao final, o recado é direto para o público brasileiro. A voz de Henry transborda expectativa e gratidão. “Nós amamos o Brasil. Estamos muito empolgados por finalmente ir. Se você é fã há cinco minutos ou cinco anos, tanto faz, nós amamos vocês”. A gratidão é selada com um “obrigado” arriscado em bom português.

Serviço – Boston Manor em São paulo

  • Data: 14 de setembro de 2025
  • Horário: 17h (abertura das portas)
  • Local: City Lights – Rua Padre Garcia Velho, 61, São Paulo
  • Ingressos: https://fastix.com.br/events/boston-manor-em-sao-paulo
  • Valores: Meia-entrada e meia solidária: R$ 180,00 – Inteira: R$ 360,00