Entre lutos e lutas, Bella e o Olmo da Bruxa lança segundo disco
Afeto e Outros Esportes de Contato explora a interseção entre a vulnerabilidade das lutas e do permitir sentir.

“Outro dia eu vi em um vídeo a frase ‘Sexo sem amor é só jiu-jitsu’ e por mais tosco que pareça é um pouco verdade”. A brincadeira de Pedro Acosta consegue resumir bem a proposta do disco Afeto e Outros Esportes de Contato, segundo disco da Bella e o Olmo da Bruxa, que explora a interseção entre lutas competitivas e o ato de amar.
Cinco anos depois do seu disco homônimo, a banda de Porto Alegre chega ao seu segundo álbum com algumas mudanças. Pedro, que era baterista na formação anterior, agora é o vocalista principal que nesse meio tempo teve a adição de Ricardo De Carli (o Hik), que além de baterista assina a produção do novo disco.

Quando questionados sobre o que mais mudou nesses cinco anos de intervalo, Hik brinca: “só não mudou o nome da banda”. E Pedro completa, “esse disco foi muito mais produzido. E não falo nem do ponto de vista sonoro, mas ele foi mais pensado, teve muito mais atenção nos detalhes”. Pedro conta que o número de pessoas envolvidas no AEOEDC é incomparavelmente maior do que no primeiro disco. “Tivemos vários produtores somando ideias e contribuindo. Nós quatro construindo juntos as músicas, mais gente pensando em visual, no conceito, e tudo isso que engloba o disco sem ser só o disco”.
Hik acrescenta que a turnê realizada em 2024 foi um dos elementos importantes na composição do álbum. “O fato de a gente ter feito uma turnê juntos fez com que a gente se conhecesse melhor. E pra além disso, a gente curtiu tanto a identidade da nossa performance no palco que com certeza isso tá no disco (…) tanto que quando a gente foi gravar bateria eu pedi que o Pedro sempre estivesse junto tocando guitarra. E eu não queria uma guitarra gravada. Eu queria a sensação do ao vivo”.
As faixas
Na segunda faixa do disco, “Nova Paixão”, temos versos que “conversam” com “Sophia Netuno”, do álbum de 2020.
Nosso esconderijo ficou e nada a gente consertou // Nosso esconderijo espera por você, nem tudo a gente vai consertar.
Sobre a composição dessa faixa, Lipo comenta: “minha intenção nessa faixa era falar de mudanças, das mudanças que a gente passa na vida e como a gente se adapta, mas é também uma música que fala especialmente da Bella. É uma música autorreferencial. É sobre tudo que a gente já passou. Eu só não quis deixar isso tão claro pra não ficar um textão de twitter (…) mas ela é sobre encontrar novos amores, novos jeitos de fazer as coisas e novos caminhos pra continuar indo atrás dos seus sonhos. E esse verso que você citou é uma singela homenagem ao que a gente já foi”.

Já sobre a faixa “vou me matar”, que foge da sonoridade habitual da banda por carregar baterias eletronicas e elementos da música pop, Lipo comenta: “essa faixa surgiu na época que eu tava montando meu disco solo, o Ableton Jr., e foi muito legal ver como a banda abraçou ela (…) a primeira versão dela no violão era horrível mas eles falaram ‘vamos colocar no disco’ e a gente foi construindo juntos até ela virar o que virou”. ao que Julia complementa “é o gênero lipopop”.
Sobre “vou me matar”, Lipo conta que tinha a preocupação que uma faixa que fale sobre se matar pudesse cair mal entre os ouvintes. “Eu ainda tive o cuidado de, na letra, falar logo no verso seguinte que não vou me matar”, completa o guitarrista.
Ainda sobre a construção do disco, Pedro explica de onde veio a ideia do pagode “Teu Pra Vida Toda / Uma Rosa Sem Espinho” que fecha o disco. “Eu cresci consumindo muito pagode por causa do meu pai. Todo sábado e domingo aqui perto de casa tem uma roda, então eu sempre tive essa referência. Fora que eu acho que tem tudo a ver com as músicas tristes que a gente faz (…) esse foi um dos primeiros pagodes que eu escrevi e eu só tenho a agradecer ao Lipo, Hik e Julia por toparem essas ideias malucas que a gente tem. E agradecer ao público também, aos fãs que são tão legais com a gente que dão a segurança de a gente fazer essas doideiras”.
Quando mencionado sobre o single E as Frases?, que narra as experiências do luto e da ausência, e a relação com “A Melhor Música do Mundo”, de 2024, que compartilha da mesma temática, Pedro compartilha, “o meu pai faleceu em 2021 e ‘A Melhor Música do Mundo’ tem tudo a ver com isso, foi na mesma época que eu compus ela, mas depois aconteceram um monte de coisas. Eu perdi um amigo de infância algum tempo depois. Mas o estalo pra eu escrever ‘E as Frases?’ foi quando minha cadela Estrela faleceu (…) e isso mostra muito do amadurecimento de um disco pro outro porque as dores sobre as quais a gente canta são outras. As pessoas vão deixando de existir, os animais que a gente ama vão deixando de existir e a gente tem que continuar vivendo.”
Afeto e Outros Esportes de Contato

Questionado sobre a escolha estética do disco, de trazer a fisicalidade das lutas pro título das músicas, título do disco e da capa, Pedro conta que a ideia veio da sua experiência com lutas marciais: “Na luta, às vezes você tá no chão tomando porrada e parece que você vai morrer. Mas aí o relógio acaba e tá tudo bem. Você ficou bem. Você não morreu. E esse lugar de vulnerabilidade é muito parecido com as nossas relações afetivas. O disco explora esses pontos em comum.”
Ele continua: “E tem toda uma alternância na luta que tu tá frágil ali, mas ao mesmo tempo tu se sente potente, às vezes, quando tu consegue acertar um golpe, fazer alguma coisa, sabe? Mas principalmente essa parte de ficar tudo fodido, tomar um pau e depois tá tudo bem, sabe? Uma hora tá tudo bem (…) e se a gente parar pra olhar com carinho tem algo de poético ali. Tem algo que é compartilhado com outros momentos da vida onde a gente precisa se colocar numa posição vulnerável”.

Bella e Uma Enorme Perda de Tempo
Sobre a história por trás da faixa que conta com a colaboração da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, Pedro conta que a música existe há anos. “Lá em 2022 a Sophia Chablau veio fazer um show aqui em Porto Alegre e a produtora deles entrou em contato querendo que a gente tocasse junto. Acabou que eles ficaram aqui em casa alguns dias e numa dessas noites a gente começou a criar uma música.
A gente tocou ela no show lá em 2022 e depois nunca mais falamos no assunto. Até que no ano passado a gente tava em turnê passando por São Paulo, conseguimos reunir toda a banda da Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, fomos tentando lembrar o arranjo daquela música que nasceu lá em 2022 e gravamos ela”.

Quando questionados sobre o desejo de gravar novas colaborações e qual seria o feat dos sonhos, Pedro responde: “Pra mim seria o full circle assim, de começar a banda aqui no Passo da Areia em Porto Alegre e terminar no próximo disco com o Lucas Silveira, da Fresno, cantando uma música da Bella sobre o litoral gaúcho”. Já para Julia, o full circle seria gravar com a banda inglesa Who Put The Bella In The Witch Elm, que carrega no nome a fraternidade com a Bella e o Olmo da Bruxa.
A banda entra em turnê nos meses de setembro e outubro para promover o disco e passará por 15 cidades diferentes, incluindo, pela primeira vez, cidades do nordeste como Salvador, Maceió e Recife. Ingressos para todos os shows estão disponíveis através deste link.