I’ll always prove you wrong: a nova era da Dance Gavin Dance 

Banda adentra nova fase com o álbum Pantheon e conversa com Downstage sobre o futuro e vinda ao Brasil

Arte: Laura Retamero

Quando pensamos em post-hardcore progressivo — principalmente o famoso swancore — é inevitável não lembrarmos dos riffs brilhantes e complexos do Dance Gavin Dance. Em mais de 20 anos de atividade na cena hardcore, a banda não é conhecida apenas pela qualidade da música, mas também pela sua resiliência e adaptação diante de passados complicados. E, em conversa exclusiva com o Downstage, Andrew Wells e Matthew Mingus deixaram bem claro: tem muito chão pela frente ainda.

Pantheon, novo álbum que será lançado em setembro, marca o início da nova fase da banda com um “novo” vocalista e com o som que os fãs já conhecem, mas repaginado e com mais espaço para experimentação.

Para os ouvintes entusiastas do hardcore um pouco mais pesado e não tão pop, o lançamento será um prato cheio junto de elementos um pouco diferentes na discografia da banda – já sendo apresentados nos singles divulgados. 

A RESILIÊNCIA DIANTE DE UMA NOVA ERA

Foto: Paris Arianna

Com lançamento marcado para setembro, Pantheon é o primeiro disco da Dance Gavin Dance com um novo vocalista em 12 anos — mesmo que já conhecido pelos fãs — e simboliza o começo de uma nova era. E, quando se trata de novas eras, a banda entende muito bem. 

Em duas décadas de história, DGD teve quatro trocas de vocais limpos principais. Jonny Craig, Kurt Travis e Tilian Pearson marcaram suas presenças à frente do microfone, o último tendo trabalhado em oito álbuns, e, agora, Andrew Wells assume o cargo diante do novo lançamento (e spoiler: dos próximos também).

Foto: @matthuecole

Andrew já havia participado dos últimos trabalhos da banda como backing vocal e terceiro vocal. Em 2022, o disco Jackpot Juicer foi lançado e o músico foi, finalmente, anunciado como membro. Faixas como “For The Jeers” e “Swallowed by Eternity” comemoram sua participação oficial.

Após a saída de Tilian, Andrew foi consolidado como vocal limpo principal e, inevitavelmente, muitos comentários comparativos – positivos e negativos – foram feitos pelos fãs. 

“Se eu não tivesse casca grossa, eu não estaria nesta indústria. Eu estaria surtando todos os dias”, confessa Andrew. “O debate sobre o vocalista principal faz parte da banda durante toda a sua existência. As pessoas ou amam ou odeiam os cantores por tudo e qualquer coisa, seja em suas performances ao vivo, suas entregas, suas composições.”

O vocalista explica que se as comparações negativas afetassem o trabalho da banda, poderia ser uma situação mais complicada. Porém, a realidade versus os comentários são histórias completamente distintas. 

Foto: @matthuecole

“Toda vez que a banda trocou de vocalista ela teve que se reconstruir. Mas, dessa vez, não passamos por isso. Nós tivemos uma de nossas turnês mais bem sucedidas de todos os tempos. Nós tivemos mais pré-salvamentos em Pantheon do que tivemos em Jackpot Juicer por milhares”, conta. 

Matthew, baterista do grupo, agradece o carinho e entusiasmo dos fãs, mas disse que o jeito que lida com os comentários negativos é bem simples: não lendo nenhum deles. “Aprendi minha lição há muito tempo. Postei alguns vídeos tocando bateria, recebi comentários ruins e pensei ‘nossa, eu sou péssimo’”, brinca. “Respeito muito os nossos fãs. Mas é isso que queremos fazer, e ou você gosta de nós e nos acompanha de verdade, ou não precisamos de você.” 

“Os nossos haters são sempre as mesmas pessoas e elas continuam vindo aos shows e escutando as músicas”, acrescenta Andrew. Em clima de brincadeira, diz: “Então o que tenho a dizer a eles é: obrigado. Obrigado pela atenção.” 

Um ano antes de Pantheon ser anunciado, em maio de 2024, dois singles foram lançados para apresentar a entrada oficial de Wells como vocalista principal, “Speed Demon” e “Straight From The Heart”. Ambos possuem composições que serviram como um prelúdio para a nova era da banda e, também, como um aviso — tanto para os fãs quanto para aqueles que gostam de odiar. 

Em “Straight From The Heart”, Andrew canta: “I’m not burning out, won’t fade away. Time to shine brighter, I’ve always been a fighter”. E, em “Speed Demon”, anuncia: 

All I needed was some time to prove you wrong, I’ll always prove you wrong  

A EXPERIMENTAÇÃO E CELEBRAÇÃO DE PANTHEON

Foto: Jonathan Weiner

“Pantheon é um álbum 100% autêntico Dance Gavin Dance”, afirma Andrew. 

Para os amantes dos discos mais antigos da banda, o próximo lançamento deve agradar bastante. O vocalista destaca que um dos objetivos que tiveram produzindo o álbum era voltar às suas raízes lá de trás. “Queríamos sair um pouco do pop que acabamos caindo bastante nos últimos álbuns, mas de uma forma que também prestasse homenagem à nossa discografia, tendo músicas como ‘Midnight at McGuffy’s’ que ainda encaixam nessa sonoridade”, compartilha o vocalista. 

A homenagem aos trabalhos anteriores não se limitou apenas à algumas músicas da tracklist. A estética de Pantheon remete, imediatamente, ao Mothership, álbum de 2016. Matthew pontua que, enquanto eles não tentam imitar nada do que fizeram no passado, Mothership foi um álbum ‘épico’ para a banda e o baterista acredita que o novo trabalho estará no mesmo patamar:

“Pantheon tem a sonoridade familiar do DGD, mas também elementos novos, diferentes influências de diferentes gêneros musicais. Se você acha que sabe o que pode esperar do novo disco, você está errado.” 

Andrew também responde às comparações entre Pantheon e Eidola — grupo em que atua como vocalista. “A arte e a estética já estavam prontas, veio muito do Jon e do Will. Esse trabalho acaba sendo uma criação minha também, então minha personalidade se infiltra aqui e ali. Mas é 100% Dance Gavin Dance.” 

Em vários momentos durante a conversa, Andrew e Matthew enfatizaram que a grande diferença de Pantheon comparado aos outros trabalhos da discografia da Dance Gavin Dance é a colaboração

Foto: @matthuecole

“Não foram apenas alguns de nós se encontrando e escrevendo, ou apenas um escrevendo e enviando. Nós todos sentamos juntos, escrevemos todos os instrumentos juntos”, conta Matthew. Andrew complementa: “foi a primeira vez na história da banda que o processo vocal foi feito dessa forma colaborativa. Nós todos no mesmo time, compartilhando ideias e conceitos, se unindo, se encontrando e tentando coisas novas.” 

A exploração dos vocais é facilmente percebida nos singles lançados. Nos versos de Jon Mess, um dos fundadores da banda e vocalista de screams, é nítida – e muito bem-vinda– a forma como o cantor vem experimentando diferentes registros e entonações. 

E, se antes o contraste entre os dois tipos de vocal se destacava de forma mais evidente, agora a harmonização entre Andrew e Jon surge como um elemento novo que vem ganhando força nessa nova fase. O cantor conta que essa exploração é intencional:

“Nós percebemos que nossas vozes funcionam muito bem juntas e começamos a experimentar a partir disso com mais intenção, pensando: ‘Ok, como isso soa?’ Como soa quando empilhamos os gritos? E quando o Jon está mais à frente e eu dou suporte na afinação? Ou o contrário, quando eu conduzo a melodia e o Jon adiciona uma textura por baixo? Isso ajuda na dicção, deixa o som mais cheio e completo?”

Todo esse trabalho na produção também se fez presente na composição das letras. Os fãs já estão acostumados com os versos excêntricos de Jon, e Andrew revela que, ao assumir os vocais limpos, também tentou trazer mais coerência às composições das faixas. 

“No passado, normalmente os dois cantores eram independentes. Muitas músicas eram sobre coisas completamente diferentes ao mesmo tempo. Jon pode estar cantando sobre brócolis enquanto o outro fala de amor, coração partido ou traição”, comenta o vocalista, em tom de brincadeira.

“Quando eu entrei com os vocais limpos, quis manter esses temas característicos da banda, mas também seguir uma direção nova, decidindo sobre o que cada música fala. Pegamos uma ideia e pensamos: ‘Como podemos expandi-la e, pela primeira vez, cantar sobre o mesmo assunto juntos?’ Foi legal porque conseguimos pegar os versos mais caóticos do Jon e adicionar algo mais centrado na realidade, construindo uma narrativa ao redor”, finaliza.

E, por falar em caótico, Pantheon nem sempre teve esse nome. Na verdade, eles pensaram em algumas centenas de títulos diferentes — um mais insano do que o outro. “Um dos nomes idiotas que eu mais gostei foi Science Barbecue”, Matthew conta dando risada. No bloco de notas do seu celular, Big Shot, Haunted Galaxy, Grandfather Paradox, Heresy e Primeval Void foram outros títulos considerados. “Chegamos no ponto em que só estávamos colocando duas palavras juntas e jogando no ar.” 

Foi Will Swan, guitarrista da banda (e gênio musical, na humilde opinião desta que vos escreve), que trouxe um norte criativo e o nome oficial foi sugerido por ninguém mais, ninguém menos, que Jon. 

Iniciando a divulgação do disco, “Midnight at McGuffy’s”, “All The Way Down” e “Trap Door” foram os primeiros singles, todos acompanhados de clipes. Os integrantes também conversaram sobre os vídeos e o caminho que estão começando a tomar em relação à direção criativa.  

O clipe de “Midnight at McGuffy’s” surgiu inicialmente com a ideia de ter uma estética de sitcom dos anos 90, mas acabou evoluindo para algo bem mais caótico e artístico. Matthew revela como foi um pouco do processo: “Eu e o Will nos encontramos e juntamos nossos roteiros. Ele é super entusiasta e entendido de cinema e tem ideias muito loucas. Depois o diretor entrou e adicionou o estilo dele por cima. A gente está buscando levar os clipes em uma direção mais esquisita e artística do que costumamos fazer em lançamentos anteriores.”

“Nós colocamos nossos corações e almas neste álbum. Esperamos que todos gostem. Estamos muito orgulhosos”, finaliza o baterista.

O PASSADO, O FUTURO E A TÃO ESPERADA VINDA AO BRASIL

Foto: Divulgação / Shelter Music Group

Matthew dividiu com o Downstage como foi o processo de superação diante de tantas dificuldades nos últimos anos. 

“Nós já passamos por muita coisa. Houve momentos em que pensei ‘cara, talvez devêssemos só deixar [a banda] ir e seguir em frente’”, Matthew desabafa. “Mas eu me dediquei tanto e sacrifiquei muitas coisas na minha vida por essa banda. Eu genuinamente a amo. No final do dia, é arte. E eu amo criar arte, e amo fazer isso com os meus melhores amigos”. 

Na mesma época em que o último vocalista deixou a banda — em meio a assuntos delicados que afetaram todo o grupo — o baixista Tim Feerick faleceu, em abril de 2022, desestabilizando os integrantes.

Foto: @matthuecole

“A última coisa que ele iria querer era que desistíssemos. Ele tinha muito carinho pela banda e se dedicou muito. Ele rolaria no seu túmulo se nos visse desistindo depois de tudo”, declara o baterista. “A melhor forma de honrar a sua memória é continuar fazendo arte, tocando música e fazendo nossos shows. É continuar trazendo amor e felicidade para os fãs que querem, precisam e merecem isso”.  

Para Andrew, desistir nunca foi uma opção. “Sinto que nasci para isso, é a minha vocação. Com o Dance Gavin Dance, em especial, é pelo amor que sinto por esses caras. Passar a última década com eles foi fundamental para moldar quem sou como pessoa e como artista. E os fãs também fazem tudo valer a pena. Para mim, não há outra escolha: nós simplesmente temos que continuar”, finaliza o vocalista.

Após momentos mais sérios da entrevista, resolvemos quebrar o clima com uma brincadeira: “Agora vem a pergunta mais importante, o assunto mais sério de todos.” Andrew e Matthew se ajeitaram na cadeira, se preparando. Afinal, as últimas duas perguntas haviam sido bem delicadas. 

Após um pouco de suspense, veio o questionamento mais aguardado: “Quando vocês vêm pro Brasil?” Entre risadas, Andrew respondeu com convicção: “Nós vamos.” 

“Faz muito tempo desde a última vez. Estivemos em Curitiba e São Paulo e definitivamente queremos voltar. Nós temos planos de fazer uma turnê internacional com Pantheon”, anuncia o vocalista.

Os integrantes elogiaram o público e a comida brasileira, e explicaram que, apesar de ainda não haver datas confirmadas, conversas e negociações já estão em andamento. Por enquanto, a banda se prepara para a próxima turnê nos Estados Unidos, marcada para outubro, com planos de explorar o mercado internacional em 2026. 

Além das preparações para as próximas turnês, o grupo já está trabalhando em um novo projeto e planejando entrar no estúdio para gravar ainda este ano. “Estou muito empolgado com tudo o que já fizemos e também com o processo de encontrar o nosso som daqui pra frente. Nós não conseguimos parar.”  

No final da conversa, Andrew e Matthew deixam um recado para os fãs brasileiros: “Estaremos no Brasil assim que possível. Venham nos encontrar, venham aos shows e vamos fazer dessa nova era uma celebração.”