Spiritbox revela diferentes tonalidades em Eternal Blue
Grupo canadense entrega primeiro álbum consistente e se destaca no universo do metal moderno
A cor azul reflete a busca das pessoas por paz e tranquilidade em meio a um mundo bastante inquieto. E foi exatamente isso que Courtney Laplante, frontwoman do Spiritbox, trouxe em Eternal Blue. Despida de todos os seus medos, ela junta-se ao marido Mike Stringer, também guitarrista da banda, para compor as letras mais poderosas e íntimas que possui dentro de si.
O álbum mostra a vulnerabilidade de conviver com a depressão, em sua maior parte, mas também apresenta vivências pessoais e a forma de lidar com relacionamentos. A primeira música, Sun Killer, nos mostra batidas eletrônicas que remetem ao techno, uma variação da house music, porém mais pesada e com batidas mecânicas. E como se não bastasse a surpresa, ainda temos como primeiro verso “I Was Born To Break” seguido por uma letra intensa sobre como conviver com os seus próprios demônios.
Em seguida temos Hurt You, um dos singles lançados antes da estreia do álbum, que nos apresenta riffs pesados, vocais limpos e gritos a plenos pulmões, tudo isso em uma única faixa. É uma música que gera identificação, pois, além do refrão cativante, provavelmente traz familiaridade do público com a letra, que fala sobre situações que estão fadadas ao fracasso, mas você insiste nelas mesmo assim.
Yellowjacket conta com a participação de ninguém menos que Sam Carter, vocalista do Architects. A combinação das vozes de Sam e Courtney, somado à agressividade dos riffs e da letra, fazem com que a música seja uma das mais potentes do álbum. Sam Carter parece se entregar 100% ao projeto e canta na sua forma mais brutal ao longo de toda a faixa.
As canções The Summit e Secret Garden mostram outra tonalidade do Spiritbox, que não se limita em somente fazer um som pesado, mas que também parte para uma vertente diferente, nesse caso para o pop, sem perder sua essência. É isso o que mais impressiona no trio canadense, em como eles conseguem perambular pelo metal, eletrônico e o pop sem sair da sua base principal. O refrão de Secret Garden é possivelmente a melhor definição de ‘música de arena’, onde todo mundo está cantando em coro e mesmo tom.
Silk In The Strings chega para contrastar com a faixa anterior, já que não possui vocais limpos, apenas o gutural da frontwoman acompanhado de riffs eletrizantes e batidas pesadas. Logo em seguida, mantendo a mesma vibe, vem o famoso single “Holy Roller”. Essa é, provavelmente, a melhor sequência do álbum para os fãs mais conservadores do metal, somando as duas músicas, são quase 6 minutos ininterruptos do metalcore em sua forma mais pura.
A próxima é a faixa-título Eternal Blue, a perfeita definição do que é o Spiritbox. Apesar dos vocais limpos, tendenciosos para o pop, ao fundo é possível perceber Mike Stringer e Bill Crook com um instrumental consistente, reforçando a solidez da banda, além dos sintetizadores que estão perfeitamente colocados na canção.
We Live In A Strange World é a surpresa mais agradável do disco todo, sendo a música que mais se difere de todo o som produzido até aqui, mas é justamente nela que vemos o experimental do grupo. O Spiritbox não tem medo de saborear e de se entregar para o novo, criando resultados acima da média para o seu primeiro trabalho. Halcyon começa como qualquer outra faixa do álbum, com aquela melodia cativante e riffs bem embalados até que, nos 30 segundos finais, você é levado para outra dimensão.
A penúltima música é Circle With Me, uma adição de estúdio de última hora e, assim como em Secret Garden, ela parece que foi feita para gritar em um show, de olhos fechados, apenas sentindo seus riffs. Com o breakdown mais marcante de toda a obra, o single veio acompanhado de um clipe poderoso, com passagens de câmera muito bem pensadas.
Para fechar com chave de ouro temos Constance, uma canção de vocais limpos e com uma letra pessoal para a vocalista. A música é uma homenagem à sua avó, que faleceu durante a pandemia em decorrência da demência. Courtney não teve a oportunidade de se despedir e foi então que decidiu compor para que, ao menos, conseguisse encerrar esse ciclo em sua vida. E nada como algo tão significativo e bonito para finalizar um álbum tão majestoso.
O Spiritbox fez valer todo o hype gerado em torno do seu primeiro trabalho. É um disco consistente, com vocais e instrumentos que te deixam em êxtase do começo ao fim, além de possuir uma produção audiovisual de alto nível, que consegue ser transmitida nos mínimos detalhes através de seus videoclipes. Eternal Blue é sobre se conectar com a beleza de mundo catastrófico e não se limitar a um gênero do metal em específico.
Para fãs de: Architects, Deftones, ERRA