Retrospectiva Downstage 2021: EPs

Trabalhos mais curtos que se destacaram ao longo do ano e que merecem a sua atenção

Arte: Giovanna Zancope / Downstage

Por Fábio Forni, Luis Antonio, Bia Vaccari, Camila Brites, Hugo Daflon, Carol Monteiro e Vini Pereira

O ano de 2021 foi marcado por inúmeros lançamentos de alta qualidade. Existem trabalhos fora da curva em todos os gêneros musicais, o que acaba tornando o hábito de acompanhar os lançamentos uma tarefa deveras difícil e trabalhosa. Muitas coisas boas acabam fugindo do radar dos fãs de música, algo ainda mais recorrente em meio ao volume de informação que as plataformas de streaming fornecem aos usuários. E é para ajudar os curiosos musicais que as famosas listas de final de ano servem.

Fazer aquele apanhado dos lançamentos que se destacaram ao longo do ano pode fazer a alegria de quem não teve tempo de acompanhar tudo ou apenas procura conhecer mais trabalhos que passaram despercebidos pelo seu radar.

Com algumas bandas optando por lançar trabalhos mais curtos e de rápida absorção, os EPs estão em alta e cada vez mais presentes nos lançamentos anuais. O Downstage separou um listão com alguns que se destacaram em 2021 e merecem a sua atenção.

Acústico em casa – Âncora

Atendendo a um desejo antigo do público, o grupo lançou um EP de versões reimaginadas do repertório da banda. Com uma sonoridade tradicionalmente mais “pesada”, nesse trabalho o grupo carioca optou por se reinventar em apresentações acústicas.

I Just Wanna Know What Happens When I’m Dead – Hot Milk

Com uma sonoridade que muitas vezes vai lembrar os ouvintes de Paramore, o grupo de Manchester parece seguir o caminho contrário da banda de Nashville. Enquanto Hayley Williams e sua turma vão se aproximando cada vez mais do pop ao longo dos anos, os ingleses do Hot Milk passaram do dançante EP Are You Feeling Alive?, de 2019, para uma fase agressiva e, por que não, emo, no EP I Just Wanna Know What Happens When I’m Dead de 2021.

Pretty Poison Nessa Barrett

A partir de composições melancólicas e autorais, Nessa Barrett se liberta das críticas recebidas ao longo de sua jornada no aplicativo TikTok e mostra seu verdadeiro eu do início ao fim em Pretty Poison. Lançado em setembro de 2021, o EP conta com 7 faixas e ao todo soma pouco mais de 17 minutos de música. Sonoramente composto por instrumentais sombrios e taciturnos, o debut de Nessa Barrett contém relatos líricos maduros e íntimos de seu transtorno bipolar, depressão e do bullying online que sofre há 3 anos, nos transportando de maneira vívida para a atmosfera criada pela jovem de apenas 19 anos.

A Dream About Love – Circa Survive

A Dream About Love mostra, mais uma vez, a capacidade do Circa Survive em entregar algo diferente, mas com consistência e emoção. As 6 faixas perambulam por melodias elétricas, que refletem sobre o amor e a vida. Cada lançamento da banda é algo novo, mas que consegue nos ater ao sentimento de pertencer ao Circa de sempre.

ExistênciaBayside Kings

Uma banda que dispensa apresentações! Definitivamente, um dos principais nomes da cena, agora finalmente em português. Letras pontuais com críticas vorazes, instrumental sempre muito bem trabalhado, com uma bateria marcante e bem pedrada, com as cordas ainda mais pesadas, constroem o ambiente perfeito para os vocais marcantes que gritam mensagens extremamente atuais. Existência é um trabalho que marca uma fase ainda mais madura do Bayside Kings. Depois de anos de estrada, é o primeiro trabalho lançado do grupo em português. Esse EP traz consigo muito mais emoção e proximidade com o seu público, entregando de coração e alma as várias camadas da nossa existência.

Mohawks & DuragsOxymorrons

O grupo Oxymorrons é a mistura perfeita do hip-hop com o rock alternativo. E o EP Mohawks & Durags chegou para comprovar isso. Para capturar o som, que abrange gêneros distintos, de forma eficaz a banda usou a experiência musical dos produtores John Feldmann, Jason Aalon Butler, The Hustle Standard e Zach Jones. Esse é um trabalho que canaliza toda a essência do Oxymorrons e que abrange a verdadeira existência de Dave, Ashmy, Matty e Jafe.

DESPERATE TIMES DESPERATE PLEASURESBoston Manor

DESPERATE TIMES DESPERATE PLEASURES é uma verdadeira viagem por toda a jornada musical de Boston Manor. O EP mostra a banda britânica de forma mais consistente do que nunca, apresentando 5 faixas inspiradas em diversos gêneros musicais e dando ênfase aos vocais limpos e firmes de Henry Cox. Mostrando maturidade sonora e pessoal, DTDP marca uma virada na carreira do grupo, que trocou de gravadora ao assinar com a SharpTone Records em julho desse ano. Os 19 minutos e 37 segundos que compõem o EP entregam tudo nos riffs e sintetizadores de forma magistral, enquanto o eu lírico de cada canção se apresenta rebelde e assertivo, contribuindo para que este seja um dos melhores lançamentos de 2021.

I Won’t Reach Out to YouHot Mulligan

Um ano após o lançamento do seu terceiro álbum full, o Hot Mulligan surgiu com um novo EP de canções inéditas (vale ressaltar que também lançaram um EP de versões acústicas). I Won’t Reach Out to You, soa muito mais contemplativo e reflexivo que o normal da banda, como se fosse um exercício de olhar para trás e tudo que vivemos nesse período onde o mundo entrou em pausa. Letras densas e bem trabalhadas, com instrumentais dançantes o suficiente para contrastar com as letras sentimentais.

Desde 1988Leandro Neko

O projeto “de volta às origens”, do Neko, é definitivamente algo que não podemos deixar passar batido. Neko já é figurinha recorrente na cena, já que tocou nas bandas Doyoulike? e Tópaz. Quando as bandas foram diminuindo suas atividades e chegaram ao hiato, Neko migrou para outro lado da música no seu projeto “O Amor Existe”. Anos depois, ele vem com um projeto que carrega seu nome e o traz de volta para suas origens do pop punk e do emo. Com muita personalidade e elementos modernos, as 4 músicas do EP não só garantiram um lugar especial nos destaques do ano, como empolgaram os fãs com tudo que ainda pode vir desse projeto maravilhoso.

Everything NiceArm’s Length

Mais um fruto bem sucedido da mistura entre emo e pop punk. Um EP incrível e que no fundo todo mundo adoraria que a banda tivesse colocado músicas a mais para preencher e ser um disco full, já que a qualidade elevada do produto final faz os fãs lamentarem que sejam apenas dezessete minutos de um flow e dinâmica musical incrível.

Model CitizenMeet Me @ The Altar

O power trio de Pop Punk com influências Easycore, tem garimpado seu espaço com muito trabalho e talento. As gurias já faziam por merecer toda a moral que foram construindo ao longo dos últimos 4 anos, chegando a esse EP com uma base forte e bem estabelecida da sua identidade própria em meio a tantas referências. Com músicas cativantes, riffs bem marcantes e uma bateria com uma pancada atrás da outra, é quase impossível ouvir o EP sem ficar com as melodias dos refrãos na cabeça. É definitivamente um cidadão modelo dentro da cena Pop Punk em constante mutação.

Let The Chips FallGarage Fuzz

Let The Chips Fall marca uma nova fase para o Garage Fuzz. A lendária banda de hardcore santista, teve uma grande mudança em sua formação com a saída do vocalista Alexandre Cruz Sesper, e a entrada de Victor Franciscon (ex-Bullet Bane). O EP conta com 3 faixas inéditas e mostra que o Garage Fuzz está mais vivo do que nunca, além de mostrar todo o potencial de Victor nos vocais. Mais um trabalho de alta qualidade de uma das maiores referências quando o assunto é hardcore nacional.

IIIZebrahead

Marcando a saída do vocalista e guitarrista Matty Lewis, e a entrada de Adrian Estrella, o EP III mostra um Zebrahead que olha para o futuro com segurança. Com 5 músicas, o disco carrega toda a personalidade da banda e cativa logo na primeira canção. Um nome já consolidado no pop punk e que coloca na pista mais um trabalho que merece atenção.

Thoughtz & PrayerzHeart Attack Man

Em Thoughtz & Prayers, o Heart Attack Man vem com peso, agressividade e atitude. Com uma sonoridade torta e estranhamente contagiante, a banda adiciona mais um trabalho interessante em sua discografia, pegando o punk rock e adicionando diferentes influências. Para quem gosta de bandas como IDLES, Thoughtz & Prayerz vai ser uma grata surpresa e certamente um novo vício.

Torn in TwoReal Friends

O Real Friends retomou suas atividades e para a alegria dos fãs lançou o EP Torn in Two. Com Cody Muraro nos vocais, a banda entrega um trabalho introspectivo e catártico, com a sensibilidade que só o Real Friends sabe colocar em suas canções. Composto por 10 faixas, o EP traz 5 músicas, com duas versões de cada, deixando o ouvinte com aquele gostinho de quero mais e ansioso pelos próximos lançamentos da banda.

A Tear in the Fabric of LifeKnocked Loose

O Knocked Loose é uma banda que vem ganhando cada vez mais espaço na cena do hardcore beatdown, sempre com trabalhos muito sólidos, cheios de referências e um peso extremamente único. Trihando seu espaço desde o full “Laugh Tracks“, neste ano a banda liberou o EP “A Tear in the Fabric of Life“, um ato apoteótico com início, meio e fim, acompanhado de um visual de mais de 20 minutos, que cerca toda a atmosfera das 6 músicas presentes no trabalho. Com certeza um dos EP’s que mais chamaram atenção em 2021.

ZIIThe Devil Wears Prada

O The Devil Wears Prada sempre entrega trabalhos conceituais, se preocupando com todos os aspectos, desde o visual, o instrumental, até todo o ambiente sonoro que carrega dentro das faixas. Dando continuação ao Zombie EP lançado em 2011, em 2021 a banda libera o ZII, uma obra atualizada visando os dias atuais, transformando as cinco faixas presentes no EP em uma verdadeira epopeia, onde é possível ver a jornada da personagem central. Mais um ótimo trabalho do sexteto, abrindo caminho para outros magníficos álbuns.

Cabuloso – Mães Católicas

Com fortes referências do rock noventista, o Mães Católicas não contentou-se em lançar apenas um EP em 2021, mas sim dois: a dupla excelente formada por Cabuloso e Queijo Mussarela. Com canções que dificilmente saem da cabeça e letras que flertam fortemente com a melancolia, o trio formado em Taubaté é uma boa surpresa do ano e que definitivamente merece ser acompanhado de pertinho em 2022.

As Safe As Yesterday – Two Trains Left

Resgatando a mais pura essência do pop punk, os franceses do Two Trains Left optaram pela qualidade ao invés da quantidade em As Safe As Yesterday, seu EP de estreia. Já há seis anos em atividade, o resultado do trabalho é criativo, consistente e energético. Angústias particulares, fuga da cidade natal e a ansiedade pelo agora: tudo está aqui, distribuído em sete faixas que explodem em versos prontos para ficarem na mente.

Fantasmas – Ale Sater

No início desse ano, Ale Sater tirou algumas canções de sua gaveta para dar vida ao impecável Fantasmas, o segundo EP de sua carreira solo. Diferente da atmosfera cosmopolita que possui as músicas do Terno Rei, aqui o cantor e compositor traz um clima mais bucólico para seu trabalho, propondo, literalmente, uma fuga do urbano como os próprios escritores da literatura árcade diziam com o lema Fugere Urbem. O EP é composto de quatro faixas, incluindo os singles previamente lançados Nós e Peu, essa última que conta com um clipe.

Nightstand – mirabelle.

A coisa mais interessante que os franceses do mirabelle. conseguiram fazer em Nightstand foi justamente entregar quatro faixas totalmente diferentes uma da outra que dificilmente alguém conseguirá ouvir o EP sem gostar ao menos de uma. Ao mesmo tempo, as canções não soam avulsas no trabalho; existe uma ligação, algo que as conecta, o que deixa o trabalho ainda mais fascinante. As músicas aqui retratam meras crises existenciais e questionamentos profundos sobre pertencimento, com desabafos regados a álcool que começam na faixa-título até explodir no refrão de Shitshow.

Downtiming – Camp Trash

Fruto de uma sensibilidade sem tamanho, Downtiming é não só a maneira certeira que os americanos da Camp Trash encontraram de se mostrarem ao mundo num primeiro trabalho, mas também dar forma à trilha sonora que todo adolescente já quis ter em sua vida. Em quatro faixas bem trabalhadas, a banda formada em Bradenton, na Flórida, é uma viagem à juventude distante e memórias que rodam tão facilmente na mente quanto uma fita em VHS.

The First Rock Band on Mars – The First Rock Band on Mars

Quando o Yellowcard acabou, Ryan Key voltou-se para outros projetos musicais tanto como produtor quanto como compositor. Um belo dia, ele e Kellin Quinn, vocalista do Sleeping With Sirens resolveram se juntar para formar a The First Rock Band on Mars com o autor de livros infantis James DiNanno e o vocalista do Ballyhoo!, Howi Spangler. O resultado? Uma banda de pop punk com um tom mais divertido e uma atmosfera um tanto… universal, visto que o principal objetivo é voltar o gênero para o público infantil e até mesmo para a família.

Cheap Smokes and ChampagneA Better Hand

Outro EP de estreia de uma banda para se prestar atenção é Cheap Smokes and Champagne, do trio de Minnesota A Better Hand. Com uma estética inteira trabalhada no neon (desde seus singles), os americanos entregam no trabalho inaugural, definitivamente, uma boa impressão. As batidas e melodias são fortes e enérgicas para mesclarem na dose certa com a intensidade de suas composições, que abordam o quão desesperado o eu lírico está para se desvencilhar das memórias de seu passado que tanto lhe assombram.

Personas – nfpdc

Para celebrar os dois anos do excelente Nunca Foi Pra Dar Certo, a banda Personas dividiu com o mundo o EP nfpdc, com quatro faixas do trabalho reimaginadas. O trabalho recebe uma capa que faz referência a do seu disco homenageado, com a chama das canções ainda mostrando-se viva mesmo após dois anos sem tocá-las ao vivo. Junto ao lançamento, a banda também liberou o clipe de Sobre o Fim.

new low – nightlife

new low é o EP de estreia do trio nightlife, que visa resgatar justamente um pouco da vida noturna para seu trabalho, como o próprio nome diz. São três faixas irresistíveis de se ouvir apenas com um play, misturando elemento de R&B e funk ao punk que claramente é a principal referência aqui. É um trabalho tão fora de caixa que dificilmente bandas que passam toda a carreira tentando, conseguem alcançar o que o nightlife fez em 12 minutos.

The Lives We Leave Behind – Farhampton

Talvez o nome de um dos mais famosos episódios de How I Met Your Mother faça você ficar perdido ao pesquisar Farhampton, um quarteto de pop punk de Chicago com apenas 400 ouvintes mensais no Spotify. Em 2021, eles liberaram o primeiro EP da carreira, The Lives We Leave Behind, com cinco músicas que merecem ficar em loop no seu play. Tudo é feito de forma totalmente independente e com uma estética que transborda para todo o trabalho visual e audiovisual da banda. Definitivamente um grupo para se ficar de olho.

The Best Day of my Life – Ryan Oakes

Ryan Oakes está presente em diversas playlists editoriais do Spotify, além de acumular mais de 50 mil inscritos em seu canal do YouTube. O artista de apenas 25 anos começou sua carreira de forma totalmente independente, onde se mantém até os dias atuais e dividiu em 2021 com o público o EP The Best Day of my Life, em que bebe de influências pop punk e da estética neon e colorida do gênero. Suas letras trazem um sentimentalismo nítido resgatado de suas referências, transformando seu trabalho em algo 100% fácil de se identificar.

Poser – Ricky Himself

Talvez um dos maiores destaques do ano, Ricky Himself surgiu em fóruns populares do reddit e em playlists escondidas no Spotify, mas foi o suficiente para chamar atenção de ninguém menos que Mark Hoppus do blink-182 e dar vida ao excelente Poser, o primeiro EP de sua carreira.

I Wouldn’t Call This Success…but It’s Close Enough – SoSo

Boas doses do pop punk que não nos cansamos de amar: é isso que você encontrará no primeiro EP da carreira do SoSo, um nome um tanto curioso para uma banda, mas o suficiente para ser memorável. Diretamente da Austrália, esse quinteto traz refrões marcantes e fáceis de ficarem na cabeça, tudo isso num trabalho 100% descontraído, bem no estilo blink-182 de zombar de si mesmo, como visto no nome do trabalho I Wouldn’t Call This Success…but It’s Close Enough e até mesmo na descrição do grupo, “Offensively Average”.

Strong Enough to Fall – Lonely Avenue

Os californianos do Lonely Avenue optaram por atrair o público para o EP Strong Enough to Fall logo na arte da capa, que traz bastante da estética monocromática que a banda adotou para essa nova Era. Um pop punk energético e acelerado, com letras tão profundas e melancólicas dispostas a propor um contraste com sua sonoridade, esse grupo fecha a lista da melhor forma possível — e ainda te entrega um nome para se ficar de olho em 2022.