Flowers: O florescer dramático de The Devil Wears Prada

Capa: Solid State Records

No nono álbum de estúdio do The Devil Wears Prada, Flowers, lançado em 14 de novembro de 2025 via Solid State Records, a banda entrega uma obra que parece uma colcha de retalhos emocional, ao mesmo tempo delicada e impetuosa, melódica e brutal. É uma celebração de duas décadas de trajetória, mas também um olhar profundo para as feridas internas que permanecem não cicatrizadas.

Um jardim de contrastes

Flowers mergulha em texturas amplas. A faixa de abertura, “That Same Place”, surpreende com uma introdução cinematográfica: vozes gravadas, piano suave e violinos melancólicos, criando um começo quase etéreo em um cenário introspectivo que prepara o terreno para o que virá. 

Logo, a dualidade se manifesta: em “Where the Flowers Never Grow”, sintetizadores triunfantes se entrelaçam com vocais rasgados, e a música alterna entre momentos de brilho pop e breakdowns pesados, equilibrando leveza e agressividade. Agressividade essa que é bem canalizada entre futuro e passado na poderosa “All Out”.

Há momentos mais experimentais: “Eyes” combina acordes dissonantes, cortes abruptos de vocal e uma sensação perseguidora, é como se a banda estivesse dialogando com seu próprio passado, iluminando cantos sombrios da mente. Já “The Silence”, por outro lado, reside mais no pop alternativo, dominada por batidas pulsantes e sintetizadores, afastando-se da agressividade habitual.

No encerramento, faixas como “Wave” e “My Paradise” oferecem resoluções contrastantes: enquanto “Wave” flutua no post-hardcore, “My Paradise” fecha com uma tranquilidade atmosférica com vocais limpos e teclados suaves, como se a banda se rendesse a um renascimento pacífico.

Foto: juanpardo.png

Se olharmos para os dois discos anteriores, The Act (2019) e Color Decay (2022), Flowers representa uma evolução natural, mas também um desvio ousado:

  • Em The Act, a banda já havia começado a se afastar da fúria do metalcore introduzindo arranjos mais melódicos e emocionalmente carregados;
  • Com Color Decay, esse caminho se intensificou, com produção polida, sintetizadores mais presentes e uma escrita lírica vulnerável.

Florescer ousado, mas certeiro

Agora, com Flowers, a banda abraça ainda mais essa mistura: há momentos remanescentes de The Act, quando a agressividade retorna em faixas como “All Out”, mas também ecos de Color Decay nas passagens sintéticas e introspectivas. A produção aqui é ainda mais ambiciosa, maiores panoramas sonoros, tensão dramática e uma coesão que sugere quase um conceito narrativo. 

Este álbum é simbólico: 20 anos na estrada, e o The Devil Wears Prada parece estar em uma fase de autorreflexão madura. Não se trata apenas de seguir a fórmula do metalcore clássico: a banda está mais interessada em explorar vulnerabilidade, melancolia e redescoberta, equilibrando o peso das guitarras com claridade emocional.

Flowers é uma declaração audaciosa: a banda não apenas refina sua evolução, mas redefine seus próprios contornos. É um álbum que floresce no contraste entre força e fragilidade, entre som pesado e atmosfera etérea, entre escuridão e luz. Para fãs antigos, pode parecer um desvio; para novos ouvintes, pode servir como ponto de entrada ideal. Em ambos os casos, revela uma banda confortável com sua longevidade e ainda disposta a correr riscos.