“A realização de um sonho”: Tiny Moving Parts se prepara para o primeiro show no Brasil
Trio de Minnesota se apresenta na próxima edição do banda de casinha

“A gente sempre quis ir para o Brasil, e demorou tanto tempo, mas finalmente estamos indo praí!” Essa é a primeira coisa que Will Chevalier, do Tiny Moving Parts, fala em entrevista para o Downstage.
A banda de Minnesota toca no próximo dia 13 de julho, na primeira edição internacional do banda de casinha. Batemos um papo com Will sobre a vinda da banda ao Brasil, o último álbum Deep In The Blue, como é a vida em turnês, família — e um pouco sobre comida, filmes e golf.
A estreia no Brasil
Will Chevalier entra na chamada exibindo seu inconfundível bigode, e nos conta feliz que acabou de se mudar para a Califórnia, longe da sua cidade-natal em Minnesota e do restante do trio. Atrás dele há alguns quadros bonitos, que parecem ser a decoração da sua nova casa.
Logo de início, ele se impressiona com o fato do trio ser uma referência para a cena emo brasileira. “É maluquice pra mim pensar que tanta gente tão longe [de casa] gosta da nossa
banda e que podemos inspirar outros grupos e tal”.
O baterista também revela que o Tiny Moving Parts está ensaiando para a turnê na América Latina. “A gente sempre vê vários comentários de ‘come to Brazil’, ou coisas assim. Então é muito legal finalmente ir mesmo”, conta Will. “A gente cresceu em uma cidade com 3 mil pessoas, então é uma loucura tocar em cidades grandes [como São Paulo] e pensar tipo ‘uau, a gente só tava tocando covers de pop punk na nossa garagem 20 anos atrás. E agora estamos indo pro Brasil!’”
Mesmo com toda a experiência, eles ficam um pouco nervosos com essa estreia. “Tocar em um lugar pela primeira vez tem um pouco mais de nervosismo que um show comum porque a gente não sabe o que esperar, e se as pessoas vão comparecer mesmo”, ele brinca. “Mas é muito bom saber que os ingressos estão quase esgotando.”
A vida na estrada

O Tiny Moving Parts é uma banda que está quase sempre em atividade. Desde a formação em 2008, a banda já passou por extensas turnês e tem quase mil shows na bagagem.
E, apesar de estarem sempre na estrada, o brilho no olhar de Will revela o quanto eles amam essa rotina. “A gente não sente muita saudade de casa porque eu e o Matt somos irmãos e o Dylan é nosso primo. Então é como se a gente estivesse sempre viajando em família.”
“Hoje em dia, a gente não ensaia mais tanto quanto costumava”, revela Will. “Nossas músicas mais antigas, como ‘Always Focused’, ou ‘Birdhouse’, ou ‘Caution’, a gente toca todos os shows desde que as escrevemos. Tocá-las é quase como memória muscular.”
Apesar disso, para o show no banda de casinha, o trio está preparando algumas surpresas para o setlist, incluindo algumas canções do álbum mais recente, Deep In The Blue.
E, quando se trata da produção e seleção das músicas, o baterista diz que eles não têm preferências entre estúdio e turnê e que a banda se diverte em ambas as ocasiões. “O estúdio é muito legal porque você consegue ouvir músicas que já foram demos horrorosas virando versões com qualidade de álbum”.
Para ele, parte do processo é compreender como tudo vai soar em estúdio. “Uma vez que uma música está pronta e tocando nos alto falantes do estúdio, é tipo, incrível!”. Por outro lado, as turnês têm um espaço especial no coração, e não só pela música. “É muito divertido viajar para lugares que eu amo e provar comidas novas.”
Provar comidas novas mostrou ser um dos hobbies favoritos da banda e Will revela que o TMP ama aventuras gastronômicas. “O grupo que temos com nosso produtor se chama ‘O que tem pro almoço?’, porque a gente percebeu que é a primeira coisa que mandamos uns pros outros de manhã.”
O baterista conclui o pensamento perguntando: “que tipo de comida eu devo provar no primeiro dia em que a gente estiver aí?”.
Deep in the Blue e as experiências em estúdio
Em novembro de 2024, o Tiny Moving Parts lançou Deep In The Blue, seu último álbum de estúdio. O disco apresenta uma sonoridade diferente, mais amarrada e com um pouco mais de overdubs que os anteriores.
“Isso meio que acontece. A gente gravou todos os discos, menos Pleasant Living, com o Greg Lindholm”, conta Will. “Ele sempre testa coisas novas, e eu sinto que isso ajuda a fazer nossos álbuns soarem um pouco diferente cada vez, mas ainda terem o mesmo tipo de som.”
Chevalier explica sobre a sonoridade da bateria: “Usamos microfones diferentes, e acho pratos menores também, então tem mais ataque e menos sustain.” O baterista também relembra a gravação dos demais instrumentos: “Eu não entendo muito sobre guitarra, mas a gente gravou algumas partes com o microfone no amplificador, e outras direto e reamplificando, usando um Kemper para mixar digitalmente.”
O processo da produção das composições também veio à tona, que costuma ficar nas mãos do vocalista e guitarrista Dylan Mattheisen. Em Deep In The Blue, ele canta versos mais otimistas em comparação aos discos anteriores, especialmente em faixas como “I’ll Be There” e “Waterbeds Part 2”.
“Eu acho que o Dylan é muito bom em abranger várias emoções diferentes em uma única música. Ele escreve várias coisas tristes, mas acho que ele também mantém o otimismo”, descreve Will. “Acho que isso ajuda porque uma música triste é uma música triste, mas você consegue colocar um pouco de otimismo e deixá-la um pouco mais encorajadora, se é que isso faz sentido. Traz mais esperança.”
Também conversamos sobre o desenvolvimento da banda até aqui. Desde This Couch Is Long…, 7 álbuns de estúdio se passaram, e Will refletiu um pouco sobre a discografia e tudo o que já aconteceu para chegarem até aqui.

“Eu acho que eu deveria reouvir nossos discos antigos, porque as músicas que a gente toca ao vivo ainda estão muito frescas, mas tem umas dez faixas em cada disco, e é meio fácil de esquecer”, reflete. “Agora temos umas 60 ou 80 músicas, algo assim.”
“Eu acho que ainda estávamos encontrando nosso som no começo da carreira. Hoje em dia, a gente nem tenta compor nada ‘de propósito’, a gente escreve porque vem fazendo isso por muito tempo. Escrever uma música se tornou natural”, relata o baterista.
“No início da carreira, parecia que [pensávamos] ‘temos que fazer algo muito técnico pra essa música’, ou ‘essa devia ser mais devagar’, e hoje a gente só compõe o que quer que seja, e é assim.”
Tapping, estilo e negócios em família
O tapping é uma técnica para tocar instrumentos de corda em que você bate com os dedos de ambas as mãos no braço do instrumento para soar as notas. É muito popular no midwest emo, e, quando pensamos em referências no gênero, o Tiny Moving Parts costuma estar entre as primeiras respostas — especialmente para os fãs brasileiros.
Ao entrar no assunto, Will elogia o talento do primo. “O Dylan se esforçou muito para aperfeiçoar essa técnica, porque às vezes, se você faz um tapping muito rápido, ele pode ficar meio sujo ou as notas não soam direito”, explica. “Ele me mostra os dedos dele e tem uma linha na parte da frente, que é onde ele empurra as cordas. Me dá um arrepio, tipo, ‘isso aí não machuca?’ [risos] mas ele meio que já se acostumou. A maioria dos calos nos dedos são de muitos anos.”
Naturalmente, graças aos tempos quebrados e aos riffs não lineares, Will também teve que se acostumar a criar arranjos de bateria que se encaixassem à técnica. Mas, segundo ele, isso é bastante natural. “Eu acho que é até mais fácil, porque quando o Dylan está tocando, dá pra ouvir onde ele acentuou, ou as notas mais graves nos riffs.”

O baterista revela seu processo de criar arranjos: “Geralmente tem uma nota mais alta que as outras, que estão meio que preenchendo o riff, e isso me faz pensar ‘OK, essas são as notas principais’, então eu preciso colocar o bumbo e a caixa, ou um prato, pra deixar essas notas mais acentuadas.”
Ao longo da conversa, foi possível perceber que a dinâmica da banda parece ser muito simples e natural. Will revela que estar entre família é um fator que contribuí bastante. “Eu acho que ajuda no processo. Eu tive muitos amigos durante a minha vida que eu podia passar todos os dias junto, ou morar perto”, explica. “Mas eu, o Matt and Dylan, estamos sempre nos falando, seja no Natal, nos feriados, ou sempre que estamos juntos.”
Hobbies, clipes e cinema
Além da música de qualidade e dos shows incríveis e enérgicos, o TMP também é reconhecido pelos seus ótimos clipes.
“Quando fazemos um vídeo, a gente confia no diretor”, conta Will. “Não ficamos tímidos em dar opinião, porque um bom clipe ajuda a alcançar muita gente que ainda não ouviu nosso som. É um bom ponto de partida para atrair novos fãs.”
O baterista comenta que o vídeo favorito que gravaram é o de “Caution”. “A gente tinha um intérprete idoso para cada um de nós, e eu acho que eles mandaram muito bem”. Outro clipe que gosta bastante é o de “Headache”. “É como se fosse um ‘bucket list’ e gosto muito de reassistir. A gente até pulou de paraquedas pra fazer, e foi muito legal.”
Os hobbies da banda também entraram em pauta na conversa e Chevalier resume que o trio tem três principais: comida, golf e filmes. Ele aproveitou o assunto para indicar alguns para os nossos leitores:
“Eu acabei de assistir Extermínio 3 (28 Years Later) e gostei bastante. Mas acho que meu filme favorito do ano foi Amizade (Friendship), da A24. É uma comédia com Tim Robinson e Paul Rudd e tem umas dinâmicas esquisitas sobre amizade entre homens e masculinidade, eu achei bem divertido. A gente também ama os filmes dos irmãos Coen, como Fargo e Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men).”
Um pedido para o banda de casinha

Flyer: @vinicivsmrtns
Para fechar o papo, levamos um pedido especial dos fãs brasileiros: ouvir “Happy Birthday” ao vivo.
“Ok, eu vou falar pro Matt e pro Dylan! A gente não toca essa há um tempo, mas é uma das nossas favoritas. Vou falar pra eles que a gente deveria tocar aí!”, Will promete.
O Tiny Moving Parts faz sua estreia no Brasil no banda de casinha no domingo, dia 13 de julho, na Casa Rockambole em São Paulo. Bandas Zero to Hero, Chão de Taco e Glover compõem o line-up.
Os últimos ingressos estão disponíveis pelo Fastix. Para não perder nada, acompanhe o @bandadecasinha no Instagram!