Não Leve a Mal: o fio condutor que vai contar a nova história de PLUMA

Arte: Tay Viana / Downstage

Com o lançamento do primeiro álbum batendo na porta e uma carreira já repleta de momentos inesquecíveis, PLUMA é a banda paulistana formada por Marina Reis (vocal), Diego Vargas (sintetizadores), Guilherme Cunha e Lucas Teixeira (bateria). O grupo aposta em uma pegada quase futurista, mesclando referências muito diversas, mas que resultam em um som leve, refinado, recheado de camadas e de personalidade.

Através de palavras bonitas e melodias—mais bonitas ainda—que fazem o corpo dançar, a banda promete continuar contando sua história de uma maneira rica e única com Não Leve a Mal, seu álbum de estreia. Após alguns anos de EP’s e singles, o grupo mira um uma nova fase com um trabalho mais denso, explorando o mosaico artístico que os trouxe até aqui.

Em bate-papo com o Downstage, os integrantes Marina, Diego e Guilherme apresentaram uma visão mais holística sobre o projeto, mergulhando de cabeça no passado, presente e futuro da PLUMA. A seguir, confira detalhes sobre Não Leve a Mal e conheça um pouco mais sobre o quarteto paulistano.

De 2019 para cá

Foto: Maria Cau Levy / Caio Mazzilli

Era uma vez, na Belas Artes, quatro estudantes de Produção Fonográfica que precisavam fazer um TCC. Foi assim que, no ano de 2019, surgiu a PLUMA com os seus primeiros sons. A gente meio que se formou por acaso […]. Quando começou a pandemia, nós já tínhamos esse material, mas a gente não achava que ia lançar”, introduz Marina.

Com o início da pandemia, a necessidade de liberar o projeto para o mundo veio à tona: “[…] decidimos lançar a banda e foi tudo por Zoom, desde o processo de decidir o nome da banda até fazer o mix e master [do som], achar algum material para divulgar sem que fosse presencialmente, e foi assim que a gente lançou o primeiro EP”, complementa a vocal da PLUMA.

“Agora que a Marina falou, eu estava lembrando que tinha esse hábito de lançamento da música às 00h, na virada do dia […] a gente ligava o Zoom, cada um pegava uma breja em casa, bem animado [risos]”, relembrou Guilherme. Marina, por sua vez, disse que preferia abrir um bom vinho para acompanhar à emoção dos dias de lançamento, e que esse costume seguiu firme na criação do segundo EP da Pluma: “[…] fomos uma banda bem pandêmica até pouco tempo atrás. Mas agora estamos aí, e vamos lançar o nosso primeiro álbum.”

Sobre a sensação de começar a tocar ao vivo, Guilherme comenta, para finalizar: “[…] a gente foi fazer o primeiro show no final de 2021, mas rodar mesmo foi em 2022, aí [a PLUMA] espremeu os dois EPs pra começar a tocar, pra valer, entre 2022 e 2023”.

Quando se trata de mudanças e transições, ao serem questionados sobre as diferenças entre criar EPs e criar um álbum completo, Marina respondeu sem hesitação:

Pra mim, foi totalmente outra coisa. Mesmo no segundo EP, que a gente já sabia que ia lançar — o primeiro a gente fez sem saber que a gente ia lançar, então foi feito de forma completamente despretensiosa —, ele também foi meio despretensioso […]. Dessa vez, foi: “voltamos de viagem, da maior coisa que já aconteceu com a gente, e vamos sentar pra fazer o álbum.”

A viagem mencionada por Marina foi para Barcelona e a convite do Primavera Sound. O grupo se apresentou na edição de 2022, ao lado de outros artistas brasileiros que compunham a lineup de um dos maiores festivais de música do mundo. Ao longo da entrevista, o show foi mencionado diversas vezes como um verdadeiro divisor de águas, tanto para o crescimento pessoal de cada um deles, quanto para a evolução enquanto equipe. Uma música inteira do novo álbum, por exemplo, só nasceu graças show do Tame Impala, que ocasionou uma espécie de epifania coletiva.

O cuidado com os detalhes do álbum foi tanto que rolou até um atraso: “[…] a gente queria lançar em 2023, porque as masters já estavam prontas em outubro, mas a gente ficou até agora fritando a parte visual. Trabalhamos as músicas e então trabalhamos na parte visual em parceria com a incrível Maria Cau Levy. Por isso demorou, mas rolou um aprendizado para as próximas”, comenta Diego.

Foto: Maria Cau Levy

Sobre as dores da nova fase, Marina relembra o sentimento de autossabotagem: “você espera tanto desse lugar, sem nem saber aonde quer chegar.

Guilherme complementa:

“Por ser o nosso primeiro, [o álbum] tem esse lado de ser muito mais pretencioso, em que a gente se preocupa com cada palavra que é dita, cada acorde que é tocado, tudo muito bem pensado. Mas também é um álbum que carrega a questão de ser uma oportunidade da gente se conhecer melhor, num novo momento, permitindo explorar mais aspectos e mostrar tudo o que a gente sabe fazer ao longo das 12 faixas, e não em uma música só”.

O antes e o agora das inspirações da Pluma

“Fazer show ao vivo e ver show ao vivo foi uma coisa que influenciou muito no processo de fazer esse álbum. Inclusive, a gente começou a criá-lo depois de termos voltado do Primavera Sound Barcelona, em 2022, e lá a gente viu todos os shows mais incríveis que a gente já tinha visto na nossa vida, e isso foi uma coisa que mexeu muito com a gente”, comenta Marina quando questionada sobre o processo de evolução e transformação do som da PLUMA, de 2019 até os dias atuais.

Conforme foram surgindo os primeiros trabalhos do grupo, os integrantes iam definindo, em entrevistas e vídeos postados no canal tvPLUMA, os nomes que influenciaram na sonoridade e nas mensagens transmitidas a cada lançamento.

No âmbito do rock psicodélico, as pinceladas de Tame Impala ficaram muito evidentes; quando o assunto é jazz, os rastros do classudo Dave Brubeck eram evidentes no single (e EP) Mais do Que Eu Sei Falar. Nomes como Boogarins, BADBADNOTGOD e Crumb também não ficam de fora da grande lista de inspirações da PLUMA.

Além da arte, o momento no qual estava inserido o surgimento da banda fez muita diferença no processo criativo. Em 2020, o mundo enfrentava uma pandemia que nos manteve distantes por mais de dois anos. Em Não Leve a Mal, o cenário (felizmente) é outro: “o álbum é bem pessoal, total sentimental e momentâneo. Acho também que tem a questão de que, depois que a gente viveu a vida normal [depois da pandemia], tivemos a chance de poder experimentar as músicas que a gente já tinha, mas agora em show, além de termos visto muitas outras apresentações ao vivo”, explica Guilherme.

Para quem está curioso sobre o que vai ouvir novo álbum, os meninos deixam a dica: “tem uma coisa mais dançante [house] e também tem mais rock, o que é algo diferente de antes, que era mais chique como o jazz e neo soul. Agora, deixamos fluir, e assim pudemos explorar mais”.

A voz de PLUMA também compartilhou trabalhos que a tocam do âmbito pessoal. Entre as cantoras que a inspiram na postura e atitude, estão Rita Lee, Rosalía e Billie Eilish, pois “têm arranjo, ousadia e não possuem barreiras para falar o que querem”. Já no campo linguístico e lírico, o destaque vai para Céu, já mencionada como referência em trabalhos mais antigos.

Quando o assunto é produção e arranjos, eles ressaltam a importância dos álbuns de Steve Lacey, Daft Punk e Jamiroquai no processo de composição de Não Leve a Mal.

Ainda sobre o novo disco, Marina comenta:

“Eu acho que esse álbum é uma visão mais amadurecida, em que a gente se diverte muito com as músicas e explora nossas doideiras, mas entrega algo mais conciso, menos “toma isso, toma isso, olha o que a gente sabe fazer”, e um pouco mais maduro”.

Importância da cena: como é trabalhar de forma independente?

PLUMA faz parte do catálogo de artistas da Rockambole, selo e casa de shows paulistana localizada em Pinheiros. Mesmo com todo o apoio e equipe, trabalhar com música no Brasil, de forma independente, ainda tem suas dores e delícias. “Nosso trampo com eles [Rockambole] é muito horizontal, muito em conjunto”, comenta Guilherme, ressaltando o bom relacionamento com Ygor Alexis, um dos fundadores. “Tem nichos muito específicos e uma galera incrível. Todo mundo trabalha bem, faz coisas incríveis, e ainda temos um apoio gigante do selo. É uma doideira, mas ainda é um ponto minúsculo da música brasileira”.

Foto: Maria Cau Levy

Falando sobre união, Marina comenta que “mesmo conversando, ouvindo e admirando muitos artistas independentes, muitos deles agora são nossos amigos e compartilham das mesmas dificuldades como, por exemplo, vender ingresso para show.

Para ela, esse talvez seja o maior desafio como artista independente, pois “[…] nessa fase, o que movimenta financeiramente é show, e a gente percebe o quanto difícil é convencer as pessoas a ir, comprar o ingresso e sair de casa.”.

Essa força-tarefa rendeu conexões com O Grilo que foram além do fato das duas bandas dividirem o mesmo baterista. Ao serem questionados sobre essa dualidade de Teixeira e sobre como é ter um integrante que faz parte de um outro grupo que também está com trabalhos recém-lançados, os colegas mencionam um inconsciente coletivo, e comentam que essa intersecção foi muito rica, rendendo bons insights e sons:

“Gravamos no mesmo estúdio, então é impossível não vir a influência, tanto pelo baterista, quanto pelo Pedro (vocal), que escreveu faixas do nosso álbum. O produtor também é o mesmo, então fica impossível a gente não compartilhar algo”, comenta Guilherme.

Marina e Diego aproveitaram o gancho para ressaltar que Hugo Silva, o produtor mencionado por Guilherme durante a resposta, serviu também como um amigo — e psicólogo — para o grupo, pois “às vezes rolava uma discussão e ele parava e falava “O que vocês estão fazendo? Tá todo mundo errado! [risos]”, relembra Marina.

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Ainda sobre as vantagens de poder contar com a estrutura disponibilizada pelo selo, eles explicam que toda a pré-produção e produção do disco foi feita na Rockambole, e que lá foi —e continua sendo—realmente como uma casa. “Foi salvador, pois é um espaço que a gente tem a possibilidade de experimentar sonoramente, de se reunir, de treinar as musicas antes de gravar, de compor, e essa é uma parte muito importante quando estamos na fase de criar”, complementa Guilherme.

Expectativas e planos futuros

Foto: Maria Cau Levy / Caio Mazzilli

“Agora é lançar o álbum e esperar que a galera goste”, diz Marina. Compartilhando mais sobre o momento atual da banda, o baixista finaliza dizendo que eles estão “[…] vivendo esse momento de montar o show, vendo como toca, como fica ao vivo, testando arranjos e entendendo a ordem da setlist. Mas só pelo que mencionamos, das músicas mais animadas, estamos com uma expectativa mais alta [em relação à resposta do público]”.

Para encerrar a entrevista, pedimos para que eles deixassem uma mensagem aos ouvintes e fãs. Em consenso, eles pedem para que a galera vá aos shows e “ouça o álbum na ordem”, ressaltou Marina.

Não Leve a Mal estreia em todas as plataformas nesta quinta-feira, 18 de julho, e marca uma nova fase para uma banda que nasceu sem pretensões de ficar, mas conquistou e segue conquistando seu espaço, de forma leve como uma PLUMA.