Modern Baseball: um diário escrito a muitas vozes
A história de um dos nomes mais emblemáticos e sinceros do midwest emo.
Muitas bandas começam no colégio e, eventualmente, algumas ficam maiores do que o “eu adolescente” de seus integrantes poderia imaginar. Esse é o caso da Modern Baseball, ou MoBo, como veio a ser abreviado futuramente. Essa história começa em Brunswick, Maryland, uma cidadezinha de aproximadamente sete mil habitantes, onde Bren Lunkens e Jake Ewald nasceram e viveram sua adolescência.
Bren era apaixonado por Hannah, irmã gêmea de Jake, que junto do irmão, cantava em uma banda que tocava covers de Paramore, e foi em uma apresentação de fundo de quintal que Bren e Jake se conheceram. Bren havia pisado em cocô de cachorro e Hannah disse que ele não precisava se preocupar, já que seu irmão, Jake, sempre carregava um par extra de tênis no carro. Foi assim que os dois se conheceram e acabaram ficando amigos.
Um dia combinaram de ir até a casa de Jake, depois da aula, fazer um som e, perambulando no porão da casa, que eles encontraram algo que eles nem sabiam que precisavam, mas que iria mudar as suas vidas: um livro chamado “Modern Baseball Techniques”. Foi assim que no final desse grande aglomerado de coincidências do destino, uma banda histórica foi formada.
A banda originalmente era composta apenas por Bren e Jake, mas quando eles se mudaram para a Filadélfia para cursar a faculdade, acabaram conhecendo Ian Farmer e Sean Huber, e agora o quarteto estava completo.
Bren e Jake escreviam músicas como se fosse um diário pessoal, ali desabafavam seus anseios, angústias e imaturidades de uma forma autêntica e até bem humorada, mesmo sem deixar de lado aquela pegada autodepreciativa, mas com melodias animadas que poderiam ser facilmente tocadas em festas.
Sports foi o primeiro álbum da banda, lançado em 2012. É um ótimo álbum de estreia, é simples, é pessoal, é intimista e fácil de se identificar. O álbum traz um diálogo sobre ser um jovem apaixonado e inseguro, que muitas vezes tem vergonha de gostar de alguém, ou triste por ver alguém que se é apaixonado, com outra pessoa. É um álbum interessante e cheio de pequenas sacadas que dão toda a personalidade individual para as músicas.
Como por exemplo em Tears Over Beers: a música conta uma história em várias etapas. Começa contando de uma experiência que ocorreu mais ou menos aos 15 anos de idade, quando Jake canta “…the girl who’s next to me…”, ao invés de seguir cantando, ele fala “Wait, next to— right next to me? Oh, God”, como um jovem nervoso porque sua paixonite estava logo ali ao lado. Ao mesmo tempo, no segundo verso, quando é representado uma experiência que supostamente ocorreu durante a faculdade, temos o mesmo verso cantado, “…the girl who’s next to me…”, mas dessa vez fica por isso mesmo, deixando bem claro, mesmo que em um pequeno detalhe, o amadurecimento pessoal de uma história para a outra. Isso é Modern Baseball.
O primeiro show da banda foi feito na casa onde eles moraram enquanto estudavam na Filadélfia, e o preço da entrada era três dólares ou uma foto do Michael Jordan, o que fez com que a casa ganhasse o apelido de “The Michael Jordan House”, casa essa que acabou se tornando muito importante para a cena underground local.
Então em 2014 sai o segundo álbum completo da banda, You’re Gonna Miss It All, que pra muitos é considerado o melhor de sua discografia. Foi com esse álbum que a banda ganhou mais notoriedade na cena, graças a uma tour com The Wonder Years, fazendo a tour do álbum The Greatest Generation, Citzen com o Youth, Real Friends com Put Yourself Back Together, e ainda a banda Defeater com o Letters Home. Essa tour expandiu o alcance da banda que agora era apresentada ao público das outras bandas, aumentando assim, sua base fiel de fãs e colocando a banda no hall das bandas mais talentosas e importantes da sua época.
O álbum em si soa mais maduro que o anterior, e tem uma dinâmica um pouco mais refinada, intercalando uma música de cada um dos dois vocalistas, mesmo que às vezes pareça que Jake é quem guia a experiência do álbum. É nesse álbum também que se encontra o maior hino da banda, Your Graduation, uma história cantada com muito sentimento e verdade, que acaba te prendendo nos versos enquanto te guia por uma viagem triste que já no primeiro verso, te faz entender a dor que Bren sente devido a saudade de alguém. É um álbum que soa como um abraço aconchegante.
Foi com muita expectativa que em 2016, Modern Baseball lançou seu terceiro álbum full, o Holy Ghost. Mas pra entender um pouco melhor tudo que esse disco é, é preciso mencionar o EP MoBo Presents: The Perfect Cast, lançado em 2015 e que serve como o ponto de transição da banda. No EP é possível notar as letras um pouco mais tristes e intimistas em um novo nível. Bren já começava a externalizar algumas pistas de sua depressão e de como a rotina de shows influenciou muito sua tristeza na volta pra casa, quando se via completamente sozinho e mal saía de lá. O som mudou um pouco também, agora tinha influências de indie rock, além do pop punk e emo.
Ao mesmo tempo em que Bren enfrentava uma guerra interna e silenciosa, Jake perdeu seu avô, o que também intensificou sentimentos mais íntimos e reclusos, e tudo isso viria a refletir no lançamento do Holy Ghost e o amadurecimento contínuo que vinha desde o início da história da banda, mas nesse momento, ficava mais nítido a seriedade de algumas músicas e o peso humano das histórias. Não era mais só sobre perder um amor, era sobre saber o que fazer daqui pra frente e como sentir as coisas da vida.
Agora a primeira metade do álbum é cantada por Jake e na faixa 7 tem a “passagem de bastão” quando Jake inicia a música e Bren termina. A segunda parte do disco segue a mesma linha que Bren apresentou nos outros álbuns da banda, um lado romântico desesperado e que agora era mais que apenas triste. O amadurecimento nas músicas deste álbum pode ser bem exemplificado quando Jake usa a sequência formada pelas músicas Mass, Everyday e Hiding, para expressar sua vontade de estabelecer um futuro onde ele possa desacelerar, ter filhos e não ter que viajar o tempo todo.
O álbum termina com a música Just Another Face, que fecha o trabalho de forma maravilhosa, mas muito triste. Nesta faixa, Bren se refere a si mesmo como uma “perda de tempo e espaço” e que não entende seu lugar no mundo e sabe que precisa mudar, mas que tem vergonha de pedir ajuda. Bren foi diagnosticado com Transtorno Bipolar e também foi para reabilitação por abuso de substâncias. Just Another Face é uma música sobre estar doente, pensar em desistir de tudo e ter pessoas com você que vão estar sempre ali para te ajudar a não deixar a peteca cair.
Devido aos problemas de Bren, muitos shows foram cancelados para preservar seu tratamento, e foi assim que a banda entrou em um hiato indeterminado, que muitos já aceitaram ser definitivo. Jake e Ian têm outra banda, Slaughter Beach, Dog, e Sean leva uma vida comum.
Durante seus, aproximadamente, sete anos em atividade, a banda angariou uma base muito sólida de fãs que cantavam suas músicas a plenos pulmões, tamanha era a identificação com suas letras e histórias. Foi assim que Modern Baseball transformou um “simples diário” adolescente em um best-seller que era reescrito a cada show com várias vozes diferentes, fazendo que cada linha fosse sempre uma nova mesma linha vibrante em vários diários que contavam quase que a mesma história.