Devil May Cry: adaptação da Netflix surpreende com trilha sonora pesada e história envolvente

Venha pela trilha sonora matadora e fique pelo delicioso som do choro da tóxica, e predominantemente machista, comunidade gamer 

Lançada pela Netflix no dia 03 de abril e produzida por Adi Shankar, o mesmo produtor da excelente Castlevania, a série Devil May Cry conta a história de Dante. O personagem é um debochado caçador de demônios invasores do plano terrestre, que logo se vê no meio de uma luta pela sobrevivência da humanidade, já que um coelho humanoide pretende liberar — literalmente — o inferno na Terra.

Além da clara referência à Divina Comédia de Dante Alighieri, o anime também mantém a essência dos games (principalmente nos dois primeiros episódios), que é, basicamente, ação desenfreada. Muitos tiros e sangue regados pelo som incrível do nu metal — assim como em todos os jogos — e seguidos das notórias piadinhas e senso de humor característico do protagonista. No entanto, conforme a história se desenvolve e conhecidos personagens dos jogos ganham mais espaço na trama — Lady, com razão a MVP da série — os caminhos entre a adaptação e os games divergem. E essa escolha é ótima

A FRANQUIA DEVIL MAY CRY

Reprodução: Capcom

A saga de videogames Devil May Cry teve início em 2001 no saudoso Playstation 2 e, entre altos e baixos, conseguiu se manter relevante até hoje por conta de sua história alucinante e personagem principal excêntrico. Foi inicialmente imaginada como o novo Resident Evil 4 (Dante e Leon, o protagonista de RE4, são muito parecidos), e a ideia foi recusada mas não inteiramente descartada, se tornando assim um novo projeto de hack and slash da Capcom

Reprodução: Capcom

Ainda no Playstation 2, foram lançados o segundo e terceiro jogos da franquia: Devil May Cry 2 (terrivelmente ruim) e Devil May Cry 3: Dante’s Awakening, no qual a história se passa antes do primeiro jogo e que serviu como base para o anime da Netflix. A série principal ainda conta com mais duas sequências: um fracassado reboot lançado em 2013 e um jogo mobile. 

Apesar de ser hoje a mais conhecida e para um novo público de certa forma, essa não é a primeira adaptação dos games para um meio diferente. Em 2005, seguida do lançamento do terceiro game, foi publicada uma série em mangá que relatava os eventos de um ano antes da história do jogo. Já em 2007 foi produzido um anime canônico que é considerado bom pelos fãs da saga, mas que pouco acrescenta à mitologia e pode ser tratado como um filler comercial. 

A ADAPTAÇÃO FAZENDO JUS AO NOME

Reprodução: Netflix
Reprodução: Netflix

A verdade é que, sim, a adaptação da Netflix toma liberdades no desenvolvimento dos personagens e da trama, e isso desagradou muita gente. Não é difícil de admitir que ver Dante eviscerar demônios ao som de “Last Resort” do Papa Roach é legal demais, mas a profundidade e complexidade que essa nova visão trouxe à história é mais do que importante, é necessária.

A sociedade —felizmente — não é mais a mesma de 25 anos atrás. Muitas críticas se dão ao fato da personagem Lady, secundária nos jogos, ter a mesma importância (ou até mais) do que o próprio Dante no decorrer dos eventos, e isso não é apenas misoginia básica encontrada nas comunidades gamers em todo o mundo. 

Outro ponto que, aparentemente, não caiu bem entre os fãs dos jogos, foram os paralelos estabelecidos entre a guerra dos humanos contra os demônios e as “Guerras Santas” do mundo real, promovidas pelos norte-americanos e mostrando -os como o que realmente são: a polícia do mundo — nesse caso, até de outros mundos — guiados pelo VP Baines (com a voz incrível do eterno Batman das animações, Kevin Conroy, que gravou suas falas antes de falecer em 2022). 

É possível assumir que a cena em que toca “Guerrilla Radio” do Rage Against the Machine não foi dica suficiente para o público descontente, assim como no episódio final, ambientalizando o bombardeio norte-americano ao inferno com o som de “American Idiotdo Green Day. O coelho humanóide é daqueles vilões que nos fazem questionar quem é “do bem” e quem realmente é “do mal”, pois é o seu povo que sofre e morre na mão dos humanos: um acerto gigante de Adi Shankar e do time de roteiristas.

O destaque mais importante realmente está na trilha sonora do anime e como ela eleva a belíssima animação ao mesmo tempo que ajuda a contar a história, pois isso está desde o princípio no DNA de Devil May Cry. Desde a abertura ao som da monstruosa “Rollin’ (Air Raid Vehicle)” do Limp Bizkit o espectador já sente o clima do que virá a seguir, permeando todas batalhas, e tanto o jogo quanto o anime não seriam a mesma coisa sem essas perfeitas escolhas musicais empolgantes. Vale mencionar todo trabalho sensacional da dupla australiana de música eletrônica e synthwave Power Glove, que gravou toda trilha original da série.

A trilha sonora é composta por clássicos como:

  • “Afterlife”Evanescence
  • “Rollin’ (Air Raid Vehicle)”Limp Bizkit
  • “Guerrilla Radio”Rage Against the Machine
  • “Last Resort (Power Glove Version)” – Papa Roach
  • “Devil Trigger (Power Glove Battle Version)”Casey Edwards
  • “Butterfly” Crazy Town
  • “American Idiot”Green Day
  • “Bury the Light (Power Glove Approaching The Storm Mix)”Casey Edwards
  • “Ghost”Gunship feat Power Glove

Os oito episódios de Devil May Cry já estão disponíveis na Netflix e, após uma semana de lançamento, série teve sua segunda temporada confirmada pela plataforma de streaming.