Âncora mostra lado B mais intimista com EP acústico

Atendendo a um desejo antigo do público, grupo lança trabalho apresentando novas versões do repertório

Foto: Larissa Queiroz Arte: Marfelo Lacerda / Downstage

A poucos meses de completar sua primeira década da carreira, o grupo carioca Âncora, formado por Feelz, Johnny, Marcos, Mateus e Rodrigo, revisita seu repertório e apresenta ao público cinco versões mais intimistas de suas músicas em seu mais novo EP, acústico em casa.

“É uma coisa que a gente já vinha querendo fazer”, contou Johnny, o guitarrista da Âncora, em entrevista exclusiva ao Downstage. “A gente já tinha feito [versões acústicas] em alguns eventos […] e calhou de nessa última oportunidade termos a chance de apresentar algo novo.” 

(Foto: Larissa Queiroz)

A banda, que tem como marca de seus trabalhos um instrumental agressivo inspirado em nomes como Bring Me The Horizon e Architects, viu nas limitações impostas pela pandemia de COVID-19 a oportunidade de realizar uma vontade antiga dos músicos — e também muito pedida pelos fãs. O momento mais “experimental”, como descreve Johnny, abre o leque para novas possibilidades sonoras.

“A gente hoje tá muito numa vibe de sair um pouco da nossa caixinha, dessa ‘identidade’ que a gente criou porque o tempo vai passando e a gente vem muito nessa ideia de ‘Vamos fazer isso aqui porque isso parece com a Âncora“, explica. “Então estamos muito em uma ideia de vamos produzir o que a gente gosta, do jeito que a gente gosta e torcer para que as pessoas gostem também.”

Questionado sobre o que a banda pode apresentar musicalmente daqui pra frente, Johnny prefere não se limitar: “Se eu fosse te falar pra futuro, eu diria que podem sair músicas muito mais pesadas do que a gente tá acostumado a fazer, e músicas também muito mais leves do que hoje a gente faz”, revela. “Nossa produção não está empacada, digamos assim, em uma única identidade sonora. A gente agora tá experimentando muito mais.”

Sobre alterar a sonoridade de canções já existentes, o vocalista e compositor Feelz afirma que não foi um grande desafio para a Âncora. “A gente sempre pegava o violão e produzia algo parecido com o resultado em que a gente chegou com esse som […] é essa pegada que a gente sempre gostou, com os instrumentos mais voltados para a música clássica”, detalha o músico. “Um pouco mais suave, mas passando a mesma mensagem que a gente transmite num som mais pesado.”

As influências para essa nova roupagem, no entanto, permanecem na cena do post-hardcore. “A gente ouvia muito há um tempo um álbum de versões reimaginadas de músicas do Hands Like Houses“, revelam Johnny e Feelz, durante o bate-papo. “E não é um remix, não é uma ‘versãozona’, não é um cover. Os caras recriaram as músicas deles em outra vibe. E eu [Feelz] falei assim: ‘cara, se a gente for fazer alguma coisa tem que ser isso’. Então pra esse trabalho que a gente fez agora, entramos muito nessa pegada de reimaginar as músicas mesmo, do começo ao fim.”

(Foto: Larissa Queiroz)

Âncora e a Pandemia de COVID-19

Entrando no tema da pandemia, os músicos afirmaram que o EP, cuja ideia surgiu após uma live para a qual prepararam as versões acústicas, é um produto direto das barreiras e oportunidades que surgiram nos últimos anos. “Sempre tivemos muita vontade de fazer esse material, mas nunca levamos como prioridade”, revela a dupla. “Se não tivéssemos essas restrições hoje, a gente talvez não tivesse lançado esses sons agora.”

Além do lançamento de acústico em casa e as versões reimaginadas de O Amanhã, Entre o Medo e a Coragem, Somos Quem Queremos Ser, Sós e Tempestade, a Âncora ainda disponibilizará na íntegra o material audiovisual de cada uma das faixas transmitidas na Forever Emo no fim de agosto de 2021. Todos os vídeos serão lançados no canal do YouTube da banda aos poucos, iniciando com O Amanhã na última segunda-feira (13).

“Para o cenário musical foi péssimo, pros shows, a gente perder isso tudo…”, comenta Feelz diante do cenário pandêmico que afetou 2020 e 2021. “Mas [esse período] trouxe oportunidades pra gente criar e desenvolver coisas novas que talvez estivéssemos jogando mais pra frente se não existisse esse tipo de restrição.” 

(Foto: Larissa Queiroz)

Para além das dificuldades comuns a toda a indústria musical, a banda ainda precisou lidar com a mudança do vocalista Feelz para Curitiba e a nova realidade de produzir música à distância. “Nós somos aqui do Rio de Janeiro e o Felipe precisou se mudar, então a gente precisou produzir tudo totalmente online. Inclusive a última música que a gente lançou antes do EP também foi produzida dessa forma”, conta a banda. “Gravamos, filmamos clipe, todo mundo da sua casa. Então foi sem se encontrar, sem ter aquela experiência de tocar junto. E a pandemia veio pra gente reinventar esse tipo de coisa.”

Pensando nos próximos passos, os músicos colocam a retomada de shows como motivo de animação e ansiedade: “A gente lançou um EP no final de 2019 [nota do autor: A Verdade em Cada um de Nós]. Fizemos o show de lançamento e o segundo show que a gente ia fazer trabalhando esse EP foi cancelado já por conta da pandemia”, relembra Johnny. “Acho que o fogo tá maior até pra gente sair correndo pro palco e ao mesmo tempo a gente tá tendo que escolher os shows que valem mais a pena até pela locomoção de todo mundo.”

Apesar das dificuldades, a Âncora não esconde a animação com a perspectiva de voltar a tocar junto, com todos os integrantes. “A ideia agora é voltar a fazer shows, assim que for seguro, tentar descobrir como vai ser esse método de produzir à distância”, revela o guitarrista.