Pe Lu traz folia para Carnaval dentro e fora de época

Cantor liberou seu primeiro EP em fevereiro e já se prepara para dividir álbum de estreia mais tarde em 2022

Arte: Giulia Assis / Downstage

É Carnaval, e mesmo que fora do época, há quem encontre folia em qualquer momento do ano. Em fevereiro deste ano, Pe Lu liberou o EP Carnaval de Sofá, como uma alternativa às festas de rua que em 2021 e 2022 não aconteceram. Trazendo clássicos do feriado em versões reimaginadas e introspectivas como Beija-Flor e Beleza Rara, o músico traz seu primeiro trabalho como artista solo.

“Ali pra outubro do ano passado a gente estava naquela esperança de Carnaval né? A vacina estava aceleradíssima e tal, estávamos nesse clima aqui no Brasil”, comentou o cantor ao Downstage. “Eu tenho um som mais introspectivo e minimalista, aí me perguntei: ‘como fazer uma coisa de Carnaval só que sem tanta percussão, sem sem ser tão pra frente?’, aí eu falei, ‘nossa, se ao invés de eu compor músicas e dar uma roupagem de Carnaval, porque não tentar pegar músicas de Carnaval e dar uma roupagem do Pe Lu?’, e acabou que sem querer eu fiz essa brincadeira.”

A ideia inicialmente era fazer um trabalho para quem gosta de clássicos de Carnaval, mas prefere aproveitar o feriado em casa ao invés de ir para a folia. No entanto, com as restrições e orientações de segurança da OMS, Carnaval de Sofá acabou transparecendo a realidade para a arte. “Foi isso: nasceu da vontade de fazer uma história com o Carnaval e como transformar isso para a minha realidade”, comenta.

(Foto: shiviits)

Pe Lu continua: “A cereja do bolo na verdade é que a minha mãe é baiana. Então eu tenho uma conexão sanguínea com a Bahia, e eu gosto muito de lá”, comenta. “Os melhores carnavais que eu já vivi foram lá trabalhando, curtindo. Para mim, sempre que alguém fala de Carnaval, eu penso na Bahia.”

A partir dali, Pe Lu começou a buscar repertório e novas roupagens para os clássicos da folia. E foi nessa ideia de homenagear a festa e trazer sua identidade para as músicas que nasceu seu primeiro EP solo, que em breve ganhará outros trabalhos para acompanhá-lo na prateleira.

“Comecei a produção do meu disco”, conta Pe Lu. “A ideia é que lancemos uns cinco ou seis singles e depois, em novembro, o álbum. A real é que apesar da gente ir produzindo meio que faixa a faixa, eu preciso encontrar uma uma linha condutora entre as músicas, né? Então eu estou há semanas achando referências, entendendo caminhos, buscando composições e acho que agora a gente achou uma direção legal.”

(Foto: shiviits)

Ele continua: “Esse ano vai ser o ano do meu disco. Falando como como carreira solo, é o ano que eu vou efetivar e existir como artista novo assim, sabe?”, comenta. “É um ano que vai ter música pra caramba e quem me acompanhar vai acabar participando da minha construção como artista.”

O trabalho trará bastante da identidade de Pe Lu, mas ao mesmo tempo não fugirá tanto do que foi apresentado em Carnaval de Sofá. Anteriormente, o cantor liberou os singles Transbordar, com participação de Pedro Otério do 5 a Seco, Tanta Coisa Bonita pra Ver e Samba Triste, que flerta diretamente com o lo-fi.

“No fim, vai acabar sendo um catadão de tudo isso”, brinca o cantor. “A primeira música que fizemos começa com um beat eletrônico, e gravamos uns violões, experimentando essa mistura […] um pouco eletrônico, um pouco Brasil.”

Recepção dos fãs

Apresentado inicialmente como integrante do Restart, uma coisa é fato: Pe Lu cresceu e acompanhou muitos de seus fãs crescerem durante mais de uma década. Com várias das pessoas que o acompanham hoje na casa dos vinte e poucos anos, é nítida a diferença na recepção do trabalho que o cantor hoje lança.

“A gente tem muita sorte, nós quatro”, começa o cantor. “Acho que a gente marcou a vida das pessoas de uma forma positiva, e isso cria um fã flexível, que é uma pessoa que acompanha meu trabalho porque quer e porque gosta de estar junto.”

Ele relembra, por exemplo, sua época com o Selva: “Tinha gente que não gostava de música eletrônica, mas estava ali porque queria estar junto. Então me sinto muito confortável em arriscar porque eu sei que tem pessoas que vão estar lá comigo no erro e no acerto.”

O impacto da pandemia

(Foto: shiviits)

Reconhecendo o privilégio de poder passar a quarentena em casa, Pe Lu avalia o período de isolamento social como uma oportunidade para olhar para si mesmo. “Isso fez com que eu olhasse com sinceridade pra mim como artista, então os projetos que eu estava envolvido, o que que eu queria fazer, o que que eu não queria mais fazer… e disso nasceu a minha carreira solo”, comenta.

“Talvez sim, talvez o fato dela ter nascido nesse momento tenha me colocado automaticamente no lugar de composição e de percepções mais mais introspectivas”, analisa o cantor. “Mas muito também tem a ver com outras influências minhas. Sempre gostei de música brasileira, de bossa nova, de samba… e o isolamento me permitiu ter tempo pra ir olhar pra essas coisas.”

Pe Lu ainda relembra da sensação de “perigo constante” que a pandemia de COVID-19 proporcionou ao mundo, e como reagiu à ela: “Isso faz a gente andar para algum lugar, ou pra trás, ou pra frente, ou pro lado… mas pra algum lugar”, avalia.

Restart

Presente em geração atrás de geração, o ícone do happy rock nacional marcou não só 2010 como a vida de diversos fãs. A banda completa 15 anos em 2022, e Pe Lu não esconde que a amizade entre ele, Pe Lanza. Koba e Thominhas permanece.

“A gente se fala pra caramba”, conta. “E 15 anos, é uma data importante, uma data legal. É muito possível que a gente faça alguma coisa em algum momento; shows se a gente achar que tem público, que tem pessoas querendo ver, ou de repente relance alguma coisa né?”

“É uma coisa bem mais distante, mas assim, fazer shows e tocar é uma possibilidade que sempre paira na nossa cabeça”, revela. “Mas a gente respeita o principal, que é: começamos a banda porque a queríamos tocar juntos. Então se em algum momento a gente decidir ter a banda de novo, ainda que por um espaço de tempo, tem que ser porque a gente quer tocar juntos.”

“O Restart nunca fez a despedida”, lembra o vocalista. “Fizemos um último show em São Paulo e ficamos meses sem tocar. Então o nosso último show em São Paulo não foi um último show, tipo, ‘vamos fazer esse show e ele vai ser o último’, é engraçado porque a gente não sentiu aquilo de ‘está acabando, puts, é o último dia’.”

Ele continua: “Quando a gente viu, já tinha passado a última coisa, sabe? Então a gente tem essa vontade de fazer um um encerramento assim.”