Junte-se ao RUCKUS!: disco do Movements envolve como uma perfeita lavagem cerebral
RUCKUS! traduz de maneira impecável a intensidade e a agressividade das composições em ritmos envolventes e vocais brilhantes
Com dois álbuns lançados, Movements compõe a cena do post-hardcore há menos de dez anos. Seus primeiros trabalhos, o EP Outgrown Things e os álbuns Feel Something e No Good Left To Give, lançados, respectivamente, em 2016, 2017 e 2020, apresentaram a banda em um tom melancólico, com composições muito dolorosas ao mesmo tempo que extremamente francas. RUCKUS!, terceiro disco da banda, não deixa de lado as letras sinceras – mas traz elementos totalmente inéditos para a discografia.
Feel Something e No Good Left To Give são discos clássicos para momentos de tristeza e desolação. Embora o segundo disco pese um pouco mais na bateria e a progressão das músicas seja mais enérgica, os dois trabalhos são voltados a sentimentos pesados e difíceis, trazendo desabafos íntimos e dolorosos.
RUCKUS! foge completamente do que já foi apresentado pela banda até aqui, trazendo algumas características semelhantes ao Outgrown Things, mas utilizando recursos e elementos que o grupo não havia tido tanto contato previamente. O trabalho envolvente do baixo nas mãos de Austin Cressey é um dos maiores destaques, assim como os vocais mais agressivos e potentes de Patrick Miranda.
Já nos primeiros segundos de um álbum de pouco mais de 36 minutos, Movements recruta os ouvintes para participar da atmosfera contagiante de RUCKUS!.
O MOVIMENTO RUCKUS!
Os comandos de uma multidão abrem o disco. “You’re One Of Us Now” introduz RUCKUS! com um coro instigando tanto o personagem quanto o ouvinte a participarem do movimento, da bagunça.
É importante destacar que ruckus, em inglês, significa um tumulto, uma agitação. Normalmente se refere a uma briga, uma situação que causa algum tipo de comoção. No começo da track, a multidão grita:
Follow the sound, you just have to trust it. Join in the crowd, join in the Ruckus.
A primeira track é muito bem produzida – foi feita especialmente para ser uma ótima abertura. Os gritos da multidão começam sozinhos, sendo eventualmente acompanhados por uma guitarra que antecipa o começo do vocal do Patrick e a bateria que entra marcante e potente.
“You’re One Of Us Now” traduz muito bem o barulho intenso do tumulto, tanto pela progressão dos instrumentos quanto pela intensidade dos vocais e o teor da composição, que parece fazer uma ligação ao conceito de uma seita.
O coro e seus gritos de comando simbolizam os fiéis recrutando para esse movimeno, esse “culto”, enquanto o vocalista narra toda a confusão de estar no meio de tudo aquilo. A letra é sobre uma pessoa que se perdeu totalmente no meio de algo que não acredita, mas se sente presa dentro de uma ideologia e de um grupo que não tem saída.
O trabalho do baixo, apesar de mais sutil nessa primeira música, já compõe o ritmo de uma maneira muito especial, diferente dos discos anteriores, e vai tomando força ao longo de toda a tracklist.
Don’t you know that there’s no way out?
I lost myself trying to get you to spit me out
I gave my mind and gave my health
It looks like Heaven, feels like Hell
“Killing Time” não apresenta a sutileza no baixo como a track anterior. O baixista Austin Cressey arrebata a 2ª track logo no primeiro segundo, expondo de maneira clara e gritante como a linha do baixo tem o poder de ditar totalmente o ritmo e a atmosfera de uma música.
Nos trabalhos anteriores da banda, o baixo era fiel ao hardcore, mais rápido, se mantendo à base rítmica de maneira mais sutil. Porém, em RUCKUS!, o instrumento virou protagonista ao se tornar mais atmosférico, mais envolvente e com muito mais groove – entregando para músicas, como Killing Time, um toque de sensualidade que é muito apreciado e bem-vindo.
Os riffs e solos de guitarra de Ira George dão brilho pra música, aliviando um pouco da sobriedade e deixando ela ainda mais cativante. Spencer York traz uma percussão na bateria que completa o que já é uma música incrível e muito diferente do que o ouvinte está acostumado a ouvir da banda. A produção inteira é excepcional e é incrível como Movements consegue surpreender imensamente logo na 2ª track.
A 3ª track, “Lead Pipe”, mantém o clima agressivo que as anteriores criaram. O baixo é, mais uma vez, o protagonista. Bem marcado logo de início, junto com a bateria que se apresenta repetitiva até explodir junto com a guitarra no refrão. Ao longo da música, a guitarra é bem reverberada e estilizada – novamente, um trabalho excepcional. É mais uma faixa com uma ótima produção nas mãos de Will Yip e Ryan Smith.
A letra de “Lead Pipe” é bem violenta e pode remeter um pouco à track inicial. Na primeira música, um coro de uma multidão tenta convencer o vocalista a participar do movimento, enquanto ele canta sobre se sentir preso, sem saída. Agora, ele revela: I’m never gonna give you what you want me to give, you’ll never play me again, I know you’ll try to cheat me if I let you in, so I won’t let you in.
E ele ainda vai além, perguntando: What will it take this time to shut you up?
Leve e ritmada, “Heaven Sent” muda a levada da tracklist. A faixa traz algumas referências, mesmo que sutis, do indie pop com o trabalho da guitarra, e os efeitos sintéticos ao longo da música dão a impressão de estar dentro de um desenho animado, como se o vocalista estivesse cantando sobre amor em uma realidade alternativa.
Essa escolha artística faz sentido ao analisar a letra, na qual Patrick revela todas as vezes que seu interesse romântico aparece em seus pensamentos e seus sonhos. É quase como se fosse um amor adolescente e floreado – que reflete totalmente na produção da track.
A melodia lenta e melancólica, assinatura da banda, dá as caras na metade do álbum, 5ª track “Tightrope”. Um piano reverberado introduz a música, em conjunto da letra emocionante e dos vocais intensos. O primeiro verso inteiro é movido por um ritmo mais lento, até a bateria tomar força no próximo. A estrutura da faixa é um pouco diferente ao resto do disco, mas é uma sad song muito comovente e crua – algo que não podia faltar dentro de um álbum do Movements.
So can I try to be somebody you could love?
I don’t know if I could ever measure up
But you took my breath like water in my lungs
And I would die to be somebody you could love
“I Hope You Choke!” retoma a agressividade e a intensidade que se impõem como protagonistas desde a primeira música. A multidão retorna nessa track, possivelmente como uma forma de enfatizar o sentimento violento que o vocalista expressa ao longo da letra.
Além disso, o retorno do coro pode ser uma maneira de trazer referência a primeira música, só que agora como uma resposta direta, vinda de alguém que conseguiu escapar do recrutamento dos “fiéis”. Isso pode ser percebido pela letra, que fala: I hope you choke on every word you’re sending, I hope it eats your soul, and when you count your blessings, I hope you choke
A guitarra é muito bem trabalhada nessa track, marcante e estridente, se mantendo ao longo da faixa inteira com um efeito dando textura no instrumental. É o tipo de música perfeita para dançar, graças ao progressão dos instrumentos, e gritar, graças ao vocal.
A track seguinte, “Fail You”, acompanha o ritmo da anterior e mantém o peso. Pela primeira vez no álbum, o Patrick eleva o vocal para um screaming em alguns momentos, o que combina muito com a letra da música – o desespero com a possibilidade de falhar com alguém e a ansiedade e frustração que ficam presas na garganta.
8ª track, “A.M.P”, é mais simples na produção, mas compensa no quanto é cativante. A guitarra é bem ritmada, aguda e brilhante. O refrão é daqueles que ficam na cabeça por dias, e isso se deve muito à mistura impecável dos instrumentos de corda com a bateria, que entregam um ritmo completamente viciante.
Entre os últimos versos, a banda introduzi um solo de guitarra mais rasgado e mais agudo, concluindo a faixa de uma maneira excepcional.
Punk rock meets post-hardcore em “Dance With Death”. Caminhando para o final do disco, a bateria na penúltima música é impactante e, em alguns momentos, a guitarra alcança agudos que podem remeter o ouvinte a alguns solos da banda Kings of Leon.
Toda a produção da track traduz a composição de maneira impecável. A progressão dos instrumentos é emocionante, a sensação de adrenalina é perfeitamente representada – principalmente quando Patrick canta: “I’m burning up, got a fever for the drive. Prayer on my lips, cover my bases if we die. Whatever comes, I know I’ve got you on my side, let the headlines run ‘three killed in the time of their lives” enquanto a guitarra e a bateria criam intensidade. É uma ambientalização perfeita, criando a atmosfera e a sensação de o ouvinte faz parte daquele momento.
A última música traz o equilíbrio perfeito entre todos os elementos apresentados até aqui. “Coeur D’Alene” é a harmonia perfeita entre a guitarra e o baixo, a bateria acompanha a melodia, e o vocal é a medida perfeita entre intensidade e suavidez.
A agressividade e a frustração de todo o disco são tranquilizados no seu momento final em uma track mais lenta, mais padronizada e consistente nos instrumentos. O baixo tem um espaço de destaque muito especial, assim como teve ao longo de toda a tracklist.
É interessante analisar a letra da música e comparar com a primeira track. “You’re One Of Us Now” traz o discurso de alguém tentando fugir de alguma espécie de culto, remetendo um pouco a uma temática religiosa. Patrick é agressivo no vocal e desabafa sobre se perder, sobre ter sido tornado em algo que não reconhece.
Já na última track, “Coeur D’Alene”, ele entrega sua vida nas mãos de outra pessoa, pedindo direção e guia, ao mesmo tempo que suplica para não ser acordado.
Bring out the best in me, straighten my spine
Your love moves me forward
Your life is my life
A MULTIDÃO GRITA
Movements continua provando seu talento em cada trabalho lançado. A escolha de produzir um disco tão diferente do resto de sua discografia, trazendo um som novo e envolvente, é muito bem-vinda. E eles não apenas provaram seu talento mais uma vez, mas também conseguiram revelar sua versatilidade como banda.
RUCKUS! explorou elementos que trouxeram uma atmosfera muito diferente do que fizeram previamente. Ao mesmo tempo que as composições se mantiveram extremamente sinceras e, em momentos, dolorosas, a produção das músicas entregou um álbum cheio de groove, intensidade e até mesmo toques especiais de sensualidade.
Em apenas 10 músicas, a banda traz toda a emoção que os fãs estavam acostumados, mas surpreende com trabalho surreal dos instrumentos – com um destaque especial para o baixo – e da produção. No fim, conseguiram criar uma atmosfera envolvente e magnética, encantando o ouvinte para fazer parte do tumulto.
Assim como uma lavagem cerebral perfeitamente executada do começo ao fim, agora todos fazem parte do Ruckus. You’re one of us now.
Para a alegria dos fãs brasileiros, Movements chegará no Brasil nos dias 9 e 10 de novembro em São Paulo e Curitiba, respectivamente.
Você está preparado para se unir ao RUCKUS!?
09/11: VIP Station em São Paulo. Ingressos no Clube do Ingresso
10/11: Basement em Curitiba. Ingressos no 101 Tickets