Stranger Things 5, vol. 1: ABBA pode até tentar, mas quem vai dominar o TikTok é a Tiffany
Uma análise da trilha sonora dos quatro primeiros episódios do novo ano da série

A cada temporada nova de Stranger Things, existe uma tradição tão importante quanto caçar easter eggs ou procurar referência a Goonies: tentar adivinhar qual canção dos anos 80 vai voltar das cinzas, dominar o TikTok e fazer adolescente de 15 anos achar que acabou de descobrir a nata da música. E agora, com o Volume 1 da quinta temporada, não é diferente. Com apenas quatro episódios, a série conseguiu — mais uma vez — criar aquela mistura deliciosa de nostalgia emprestada e estética pop perfeita para o algoritmo.
Logo de cara, a temporada já despeja em nós um desfile sonoro que funciona como um mergulho imediato nos anos 80 — e, claro, no caos emocional de Hawkins. Entre rádio pirata, sonhos esquisitos e momentos que já nasceram prontos para o corte no TikTok, o Volume 1 apresenta uma seleção que mistura clássicos absolutos e escolhas certeiras que conversam tanto com fãs da época quanto com quem só conhece estas músicas porque viu alguém usando como trilha no Instagram.

Confira as faixas presentes nos primeiros quatro episódios:
- “Rockin’ Robin” – Michael Jackson
- “Upside Down” – Diana Ross
- “Pretty in Pink” – The Psychedelic Furs
- “Running Up That Hill (A Deal With God)” – Kate Bush
- “Fernando” – ABBA
- “Mr. Sandman” – The Chordettes
- “To Each His Own” – Freddy Martin & His Orchestra
- “I Think We’re Alone Now” – Tiffany
- “Oh Yeah” – Yello
- “Sh-Boom” – The Chords
Entre elas, duas se destacam como possíveis novos fenômenos virais: “Fernando”, do ABBA, e “I Think We’re Alone Now”, da Tiffany. A primeira chega com todo o peso de uma negociação gigante, praticamente empurrada pela produção como “a nova Kate Bush”. Já Tiffany, por outro lado, vem na surdina perfeita: refrão grudento, energia de shopping anos 80 e uma cena tão doce quanto perturbadora, que já parece editada sob medida para explodir no TikTok.

E é aí que entra a magia mórbida que só Stranger Things sabe fazer. A sequência da Tiffany acontece em um momento em que a irmã de Mike, Holly Wheeler, vive um pequeno delírio audiovisual, dançando e assando bolo enquanto, na verdade, está imersa em uma situação bem menos confortável. Esse contraste entre fofura e caos, com cortes rápidos e dancinhas, já nasce pronto. A série sabe muito bem o que está fazendo — e nós também.
Portanto, nada de ficar em cima do muro, aqui vai meu compromisso público, sentimental e de alguém que acha que entende a internet: minha aposta oficial para hit do TikTok do Volume 1 é “I Think We’re Alone Now”, da Tiffany. “Fernando” pode até vir com mais verba, mas Tiffany vem com alma (e algoritmo).

Mas Stranger Things não vive só de hits ressuscitados. A série continua sendo uma porta de entrada para a nostalgia dos anos 80 mesmo para quem não tem a menor ideia de como era viver naquela época. É um fenômeno curioso ver a Geração Z — que nasce ouvindo trap, K-pop — chorar por músicas que seus próprios pais ouviram mais por osmose do que por escolha. A série cria uma nostalgia que não é vivida, é aprendida. É o equivalente musical de comprar uma camiseta vintage da MTV porque “fica aesthetic” e, que fique claro, isso está longe de ser uma coisa ruim.
E isso tudo acontece enquanto Hawkins desmorona estética e emocionalmente, com a trilha original de Kyle Dixon e Michael Stein torando os sintetizadores que lembram a gente de que, no meio de tantos hits famosos, existe uma assinatura sonora própria desse universo. Stranger Things virou mais que série: virou estética, comportamento, playlist e até catálogo de revival musical — do tipo que faz as plataformas de streaming sorrirem até o limite dos bolsos.

O Volume 1 chegou com quatro episódios — “The Crawl”, “The Vanishing of Holly Wheeler”, “The Turnbow Trap” e “Sorcerer” — lançados em 26 de novembro de 2025 na Netflix. O Volume 2 chega em 25 de dezembro com mais três capítulos, e o final definitivo “Chapter Eight: The Rightside Up” estreia em 31 de dezembro, terminando com a história e, provavelmente, com o seu emocional para o ano novo.
A trilha sonora sai em três volumes digitais entre 28 de novembro e 1º de janeiro, com versões físicas planejadas para 30 de janeiro de 2026 — incluindo vinil e, obviamente, fita cassete colorida, porque nada mais 80s do que pagar caro para comprar um formato que você nem tem onde tocar.
No fim das contas, o Volume 1 confirma o que a gente já sabia: Stranger Things continua sendo o maior motor de ressurreição musical da cultura pop contemporânea. Tiffany vem aí.
