The Great Depression: Queridinho do pop punk completa cinco anos

Terceiro álbum do AS IT IS conta a história de um personagem que enfrenta desafios com a saúde mental

Arte: Tayna Viana / Downstage

Terceiro álbum de estúdio do AS IT IS, The Great Depression se tornou um clássico do pop punk e um exemplo de abordagem da saúde mental por meio da música. O projeto foi lançado no dia 10 de agosto de 2018, mas teve início muito antes disso. Nas semanas anteriores ao lançamento de okay, segundo álbum da banda, o quarteto já planejava o próximo trabalho.

A banda fez uma transição drástica da estética colorida, plastificada e estimulante do álbum anterior para um símbolo forte, escuro e pesado que marca a abordagem da saúde mental com seriedade e profundidade. O álbum começou a ser idealizado a partir do título, que guiou a criação de toda uma estética visual e musical que reflete como o mundo está fora de ordem. 

A luta pela saúde mental é o principal tema do disco, que conta a história de um homem que fica frente a frente com a morte após uma desilusão amorosa que o leva a ter pensamentos suicidas. As letras refletem a jornada deste personagem de entendimento sobre a natureza dos transtornos e de questionamento de comportamentos problemáticos da sociedade. Elas falam sobre se sentir desconectado da sociedade, muitas vezes como um fardo, o que funcionou como identificação para muitas pessoas que passavam pela mesma situação.

“Nós abordamos esse assunto com o tremendo respeito e sensibilidade que ele exige. A conscientização e a priorização da saúde mental sempre foram imensamente importantes para nós e queremos usar essa plataforma para o bem e para desafiar comportamentos problemáticos e preconceitos. Mais do que nunca, trabalharemos ao lado de organizações sem fins lucrativos incríveis, doando lucros para causas dignas e usando nossa música na esperança de criar uma mudança positiva”, escreveu a banda ao anunciar o álbum nas redes sociais.

As músicas podem ser divididas em quatro estágios do luto, que servem tanto para a perda da esposa do personagem (apelidado de O Poeta) quanto para a aceitação de um transtorno mental. 

Foto: Ian Coulson

I: NEGAÇÃO

The Wounded World faz parte do primeiro estágio, Negação, e foi a primeira faixa a ser lançada, servindo como porta de entrada para o universo de The Great Depression. A música explicita como é difícil encontrar pessoas para se apoiar durante momentos intensos e como falhamos enquanto sociedade. 

Também fazem parte deste ciclo a canção homônima ao título do álbum e The Fire, The Dark, que fala sobre hábitos de autodestruição. Uma das letras mais pesadas do disco, o Poeta está “​​isolado e completamente suspenso do mundo, neurótico e instável, o que consequentemente compromete o relacionamento com sua esposa”, explicou a vocalista Patty Walters.

II: RAIVA

O single The Stigma (Boys Don’t Cry) discute a masculinidade e problemas sistemáticos que homens encontram quando tentam buscar ajuda na questão da saúde mental. Com uma musicalidade rebelde e agressiva, a faixa tem um videoclipe que resgata a estética masculina de cantores emo dos anos 2000 e faz um paralelo com como a forma de expressar emoções é, muitas vezes, vista como um sinal de fraqueza para os homens.

The Handwritten Letter é uma carta aberta do Poeta a sua amada, na qual ele admite que ela é a única coisa o mantendo vivo. A dependência é cantada com uma batida animada e solos de bateria de Patrick Foley. Já The Question, The Answer traz dúvidas existenciais com uma pegada mais melancólica e harmoniosa. 

III: NEGOCIAÇÃO

Em parceria com o vocalista da banda de metal Underoath, Aaron Gillespie, The Reaper explora o lado mais hardcore do AS IT IS e simboliza o ponto de inflexão quando o Poeta se encontra com a morte e percebe que não quer mais morrer. 

O narrador do álbum se depara com uma dicotomia em The Two Tongues (Screaming Salvation). Ele precisa decidir entre continuar vivo e ter uma chance com a esposa ou se deixar levar pela morte. A faixa continua com sonoridade puxada para o hardcore, simbolizando o peso da composição do grupo. 

Depois de decidir viver, o Poeta se afasta da amada e esconde seus sentimentos dela para protegê-la em The Truth I’ll Never Tell. A música retoma o lado pop da banda e traz uma batida acelerada. 

IV: ACEITAÇÃO

A tristeza e a melancolia tomam conta à medida que a última parte do álbum se inicia. The Haunting exprime a dor da morte do Poeta, ainda que com um ritmo animado. A faixa favorita de Ben Langford-Biss, guitarrista na época, The Hurt, The Hope reflete sobre a autodestruição e como essa foi a única saída encontrada pelo personagem central. 

Por fim, The End. libera todo o sofrimento do Poeta, que coloca todos seus pensamentos no mundo, mesmo que ninguém esteja ouvindo. Ainda que o título indique uma conclusão, a história do personagem fica em aberto, simbolizando a natureza dos transtornos mentais que o álbum se propôs a explorar.