Tiny Moving Parts: Negócio em família, passatempo e o carisma que conquistou o mundo
O legado vivo de uma das bandas mais criativas e originais da cena do midwest emo
Muitas bandas tem histórias hilárias ou minimamente complexas sobre como os membros se conheceram, ou até mesmo como começaram a tocar juntos. Mas esse não é o caso do Tiny Moving Parts.
Negócio em família
Tudo começou em uma pequena cidade do estado de Minnesota. Benson é uma cidade de pouco mais de três mil habitantes, e sem muito o que fazer. Típica cidadezinha onde todos se conhecem, vão ao mesmo colégio, compram nos mesmos mercadinhos e vão nos mesmos restaurantes ou lanchonetes. Um desses mercadinhos em específico, era do tio dos meninos do Tiny Moving Parts. O “negócio da família” era onde trabalhavam os irmãos William e Matthew Chevalier, seu primo Dylan Mattheisen e também seus respectivos pais.
William, Matthew e Dylan, tocam juntos desde muito cedo e começaram a tocar juntos ainda na escola. Começaram a fazer música para, literalmente, passar o tempo, já que uma em uma cidade muito pequena não tem muito o que se fazer.
Seus primeiros shows foram em meados de 2008. O primeiro show foi em uma cidade vizinha chamada De Graff, que fica a oito minutos de Benson e é muito menor, tendo mais ou menos 120 moradores. O primeiro repertório que a banda tocou ao vivo tinha vinte e duas músicas, começava com Smells Like Teen Spirit, do Nirvana e fechava com American Idiot, do Green Day, e no meio ainda contava com algumas músicas autorais.
No entanto, a típica pegada do midwest emo com afinações abertas só veio graças a uma das lendárias bandas da cena, Algernon Cadwallader. A banda já era uma grande influência para o trio de Benson, mas foi quando Dylan tentou aprender a introdução de uma de suas músicas que ele se deparou com a afinação aberta em Lá. Essa descoberta feita por Dylan o fascinou. Ele seguiu explorando a afinação, que veio a ser uma das principais características das guitarras do Tiny Moving Parts.
O começo de carreira
A banda lançou dois álbuns independentes e de pouco alcance antes de assinar com um selo. Em 2008, lançaram Waves Rise, Waves Recede, The Ocean Is Full Of Waves, e em 2010 o Moving to Antarctica. O primeiro, mais experimental e com uma mixagem precária, tem músicas que soam mais passivo agressivas. As quebras lentas e melódicas típicas da banda também marcam presença. Também há elementos que lembram música eletrônica em certos momentos da percussão e em alguns sintetizadores.
Já o Moving to Antarctica soa muito mais como bandas consagradas do estilo, como a própria Algernon Cadwallader, The Appleseed Cast e Thursday. É nesse álbum que a banda começa a apresentar mais da sonoridade que viria a se consolidar nos próximos discos.
Em 2013, a banda lançou o primeiro disco por um selo. This Couch is Long & Full of Friendship foi lançado em 13 de janeiro daquele ano pela Kind of Like Records. Foi através desse disco que a banda começou a ser conhecida e reconhecida pelo seu trabalho.
O disco traz letras interessantes e que fugiam do padrão emo da época, mas que ainda tinham muito de poesia do ensino médio e algumas metáforas estranhas. Como por exemplo, em Vacation Bible School, “…I had a pet wolf until I needed a coat, you gotta do what you gotta do, It is what it is”. Os arranjos soam mais limpos e melódicos como um todo. As referências não ficaram de lado, mas a banda adicionou mais da personalidade que foi criando ao passar dos anos.
Mesmo assim, o disco foi recebido como um álbum bom, mas que ficou devendo um pouco. Vale ressaltar que nesse disco é feita muita menção sobre o porão onde os três passaram boa parte da vida ensaiando, brincando ou fazendo qualquer coisa juntos. Porão esse que ainda hoje eles se reúnem para ensaiar ou passar o tempo quando não estão em turnê.
O amadurecimento do TMP
Em março de 2014, a banda assinou contrato com a Triple Crown Records, que tinha em seu portifólio bandas como Free Throw, Into it. Over It. e Sorority Noise. Logo em seguida, a banda saiu em uma sequência de turnês com bandas como Free Throw e Modern Baseball, que acabariam influenciando o caminho autoral que a banda começaria a tomar.
E em setembro do mesmo ano, eles lançaram seu quarto álbum, chamado Pleasant Living. O disco apresentou uma versão mais sólida da banda. Nesse disco a banda deu um salto na qualidade do seu som e começou a se destacar entre outras bandas do gênero. O disco acabou superando todas as expectativas colocadas em cima do trio, que muitos viam como uma banda com muito potencial.
Com o amadurecimento do som, a originalidade das melodias e da poesia de sempre, mas com um leve toque de refinamento desde o último disco, mostraram que em Pleasant Living tudo estava conectado e funcionando junto. Como por exemplo, a faixa Entrances and Exits, que poderia facilmente “resumir” o disco. Tem em seu riff inicial o mesmo riff final de Boxcar, passando a ideia de unidade musical dentro do álbum.
Essa faixa dá um respiro pro disco já no finalzinho, e faz a entrega perfeita para a próxima faixa, Skinny Veins, reforçando a ideia de como tudo funciona perfeitamente em conjunto. A banda sempre disse que seus discos são compostos para soar como uma única musica longa, e analisando por essa ótica, a quebra oferecida em Entrances and Exits faz ainda mais sentido.
Celebrate: O clássico na discografia
Dois anos depois, em 2016, veio o que é considerado o grande clássico da banda, o disco Celebrate. Depois de adicionar uma pitada a mais de pop punk à receita da banda, referência presente anteriormente mas não como um dos principais pilares, a banda retorna com um disco onde todas as faixas soam como potenciais singles.
O trabalho abre com a faixa Good Enough, onde logo depois do riff de introdução, tem um breve segundo de silêncio que é quebrado pela frase “nothing’s ever good enough!”. Nesse momento, tudo já soa como algo completo, animando e empolgando o ouvinte com a expectativa do que está por vir nas próximas faixas.
As letras do disco são impecáveis, com as metáforas de Dylan no auge. A banda traz sua já tradicional melancolia, mas dessa vez de uma forma otimista que arrebata os ouvintes e seus corações a cada canção. Celebrate é, com o perdão do trocadilho, uma verdadeira celebração para os fãs.
Músicas com refrãos marcantes, com muita segunda voz sobreposta e momentos com coro de vozes. Perfeitos para cantar com milhares de desconhecidos em um show, trazendo o público para junto da música e fazendo ser quase impossível não sentir vontade de gritar e cantar junto. É um álbum que cativa pela positividade, destinado a ser cantado por milhares de vozes desde sua produção, sendo por esse motivo que conquistou tanto o público. É como diz na faixa Minnow, “maybe everything is meant to be”.
O ambicioso Swell
Depois de um grande sucesso, é normal se esperar muito de uma banda, deixando no ar a expectativa de superar ou não seu último trabalho. Em 2018, o Tiny Moving Parts lançou Swell, um disco tão ambicioso quanto seu antecessor. O principal mérito da banda, nessa fase da carreira, é a consistência. Lançar trabalho após trabalho e conseguir soar no mesmo nível, se não melhor que o anterior, é algo que poucas bandas podem se vangloriar de ter conseguido.
Com músicas um pouco mais introspectivas, esse disco fala de ansiedade, vida adulta, além de suas implicações e inseguranças com a vida social. Mesmo falando sobre temas tão densos e complicados, conseguiram amenizar a angustia dos ouvintes sobre esses mesmos temas.
Esse disco é perfeitamente resumido pela sua capa. “Não importa as dificuldades que virão, eventualmente você vai supera-las, vão ficar marcas, mas hey, todos vamos ficar bem”. Swell tem a melhor produção da carreira da banda, quando você menos espera tem um simples detalhe de guitarra, piano, ou dos instrumentos de sopro que se repete uma única vez, mas está ali só pra preencher e abrilhantar o disco como um todo, passando despercebido na maioria das vezes.
Há quem critique o disco, e consequentemente a banda, pela falta de ousadia para tentar inovar e trazer novos elementos para a obra, imaginando até quando essa fórmula, por mais consistente que seja, vai conseguir segurar o público antes de virar mais do mesmo.
Hopeless Records e o lançamento de breathe
Na metade de 2019, a banda anunciou que tinha assinado contrato com a Hopeless Records, responsável por bandas como Yellowcard, The Wonder Years, Sum 41 e Neck Deep. Mais tarde, em setembro do mesmo ano, o Tiny Moving Parts lançou seu sétimo álbum, breathe. Como já era de se esperar para esse disco, afinal eles assinaram com a Hopeless, o disco é mais “mainstream”. Isso resultou em um álbum mais acessível, musicalmente falando.
Melodicamente, é um álbum mais simples. Ainda temos os riffs e arpejos pelos quais a banda ficou conhecida, mas com refrãos mais pop dessa vez. O grupo segue dosando bem a dinâmica, mas o trabalho acabou soando mais suave que seus antecessores. As letras seguem a mesma linha de sempre, afinal é o estilo de composição de Dylan, sua marca registrada junto de seu jeito de tocar. Porém, há quem diga que esse disco soa mais doce, ou talvez menos amargo que os lançamentos anteriores.
Para quem apontava a falta de inovação no Swell, breathe pode ser um impasse. O álbum veio com uma pegada levemente diferente, com novos elementos, mas não o suficiente pra ser considerado inovador ou disruptivo. Mesmo assim, isso não foi visto como algo totalmente negativo para a banda, ou que ofusca a qualidade final da obra, apenas é um limitador.
É algo que impede a banda de alçar voos mais altos e atingir novos patamares na carreira. Há também quem torça o nariz para alguns elementos “extras” apresentados nesse disco, como a presença do banjo em Vertebrae. Mas como os outros discos da banda, é um álbum consistente, mas que pode soar como músicas “lado b”, que não entraram nos últimos três lançamentos.
Singles novos e um possível disco novo
Em 2021, a banda lançou o single Life Jacket, e mais recentemente, em abril de 2022, o single North Shore. Sinais de que um disco novo pode estar a caminho.
O Tiny Moving Parts é uma banda animada. Você sempre os verá sorrindo muito e se divertindo em seus clipes ou apresentações ao vivo. São três primos que se divertem simplesmente por estarem juntos fazendo música.
A banda é viciada em tocar ao vivo, entra em turnês longas e depois de dois dias em casa já começa a planejar a próxima. Isso é o Tiny Movig Parts, uma banda que se tornou mundial, com muitas turnês fora dos Estados Unidos, mas que tem seu coração em uma cidadezinha de três mil habitantes no interior de Minnesota. No final das contas, seja em casa ou na estrada, eles estão sempre juntos, sendo simplesmente felizes por terem elevado o “negócio da família” para um novo nível.