Underoath faz show catártico em São Paulo após 12 anos de espera dos fãs
Com uma apresentação intensa e repleta de entrega, a banda fez o melhor show da turnê pela América Latina, segundo o próprio vocalista Spencer Chamberlain
Um dos principais nomes do post-hardcore fez seu aguardado retorno ao Brasil após 12 longos anos. O Underoath fez uma apresentação única no último sábado (27) na Vip Station, em São Paulo, promovendo uma verdadeira celebração do post-hardcore e do metal moderno. Com um show catártico e a casa cheia, a banda se reconectou com o Brasil declarando o show na capital paulista o melhor da turnê pela América Latina, e prometendo retornar em um período menor de tempo.
O Underoath é considerado um dos pilares do post-hardcore, sendo um dos responsáveis por popularizar e consolidar o gênero no começo dos anos 2000 com uma sequência de álbuns que são considerados clássicos na discografia da banda e do estilo. A trinca The Changing of Times (2002), They’re Only Chasing Safety (2004) e Define the Great Line (2006), são discos seminais do post-hc e responsáveis pelos maiores sucessos do grupo.
Em 2008, o clima entre os integrantes não era dos melhores e o baterista e membro fundador Aaron Gillespie deixou a banda, sendo substituído pelo ex-baterista do Norma Jean Daniel Davison. A saída de Aaron teve grande impacto no Underoath, já que o baterista era responsável pelos vocais melódicos nas canções, que faziam o contraste com os berros do vocalista Spencer Chamberlain.
Já em 2012, o Underoath fez sua segunda passagem pelo Brasil, se apresentando no Carioca Club (SP) e no Music Hall (CWB). De lá pra cá, muita coisa aconteceu. A banda anunciou o seu fim em 2013, retomou suas atividades em 2015 já com Aaron em sua formação, lançaram o álbum Erase Me em 2016, quebraram sua ligação com rótulos religiosos e lançaram o disco Voyeurist em 2022.
Após 12 anos, a banda finalmente retornou ao Brasil para uma apresentação na capital paulista no dia 27 de janeiro. Às 19h, horário marcado para a abertura da casa, já havia uma enorme fila de fãs ansiosos para entrar na Vip Station. Com um leve atraso, o público começou a preencher o espaço interno da casa, aproveitando o tempo livre antes do primeiro show da noite começar para conferir o merchandising, comprar bebidas e garantir o melhor lugar para ver os shows.
A abertura ficou por conta da banda Gloria, veterana da cena underground e grande expoente do metal moderno nacional. Com um atraso de meia hora, o Gloria subiu ao palco e aproveitou muito bem o seu tempo de show, enfileirando hits de sua carreira e despertando a agitação do público presente.
Com uma presença de palco poderosa, com destaque para o vocalista Mi Vieira, que bate os punhos nas pernas, dança, interage com o público e agita sem parar durante todo o show, o Gloria fez uma apresentação muito competente e com uma energia surreal, fazendo os fãs cantarem com vontade. Vai pagar Caro Por Me Conhecer, Voa, e Bicho do Mato marcaram presença no setlist, com um destaque especial para a canção Horizontes, uma parceria entre o Gloria e Lucas Silveira, vocalista da Fresno, que subiu ao palco para cantar a faixa com a banda, surpreendendo os fãs e proporcionando um dos grandes momentos da noite. Minha Paz, um dos maiores sucessos do Gloria, fechou o show com chave de ouro colocando o Vip Station todo para cantar.
Já com a casa cheia e com o público extremamente ansioso, o Underoath sobe ao palco e abre o show com a poderosa Take A Breath, faixa do álbum Voyeurist, seu trabalho mais recente. Uma ótima escolha para iniciar o setlist, já que a música é pesada, moderna e contém as principais características da sonoridade única do Underoath.
Bastou poucos segundos para o público estar completamente tomado pela performance da banda, com a Vip Station cantando a plenos pulmões a letra da canção. A recepção dos fãs não poderia ser mais intensa, criando uma conexão imediata com a banda e proporcionando uma troca de energia surreal.
Na sequência veio um dos principais hits do UO, a música Writing On The Walls. Era impressionante ver o público cantando junto com a banda, muitas vezes encobrindo os vocais de Spencer e Aaron. Esse foi um dos poucos pontos negativos do show do Underoath, já que o som da banda não estava 100% e principalmente os vocais do baterista Aaron Gillespie estavam bem baixos e em alguns momentos passavam despercebidos.
O moshpit ficou em chamas ao som de In Regards To Myself, outro sucesso do álbum Define The Great Line. Com uma sonoridade mais agressiva, a faixa colocou o público da casa para se acabar no mosh. Um ponto alto da apresentação do Underoath é a presença de palco dos integrantes. A entrega dos músicos é absurda, já que todos curtem intensamente o show e não ficam parados um segundo sequer no palco.
Hallelujah transformou a Vip Station em uma verdadeira missa. Com os cânticos em seu início, a música transformou a apresentação em uma verdadeira celebração do post-hardcore, com seus devotos em completo transe e devoção naquele momento. Facilmente um dos momentos mais intensos e imersivos da noite. Os fãs old school foram recompensados com a presença de It’s Dangerous Business Walking Out Your Front Door no setlist. A canção que faz parte do clássico They’re Only Chasing Safety, levou os fãs a loucura, mostrando que a canção é um hino atemporal do Underoath.
O vocalista Spencer Chamberlain demonstrou várias vezes o quanto estava feliz em finalmente voltar ao Brasil após 12 anos. Spencer prometeu ao público mais de uma vez que a banda não iria mais esperar tanto tempo para se apresentar novamente no país. O vocalista ainda confessou que o show em São Paulo estava sendo o melhor da turnê e o seu favorito, reforçando que retornariam em breve e aproveitando para fazer outra promessa ao ver um fã levantando um cartaz com o nome da música When The Sun Sleeps, faixa presente no álbum The Changing of Times, dizendo que não iriam tocar a música dessa vez, mas que tocariam no próximo show do Underoath no Brasil.
A canção Too Bright To See, Too Loud To Hear trouxe um momento de calmaria para a apresentação, com o público acendendo as luzes dos celulares para criar uma atmosfera mais intimista. Na sequência a banda mandou outro clássico absoluto de sua carreira. A faixa Reinventing Your Exit trouxe uma forte dose de nostalgia para os fãs que ouviram a canção no seu lançamento no já longínquo ano de 2003. Era quase impossível ouvir Aaron e Spencer cantar de tão alto que o público berrava a letra da música.
O Underoath emendou então uma trinca de peso com a sequência You’re Ever So Inviting, Let Go e Damn Excuses. As três músicas tem uma sonoridade mais agressiva e deram aquela injeção de fôlego extra na reta final do show. Down, Set, Go, que traz os vocais melódicos de Aaron em destaque e um ritmo mais cadenciado, dando um momento de respiro antes da banda se preparar para as duas músicas finais.
A Moment Suspended in Time e A Boy Brushed Red Living in Black and White fecharam o show. Essa última, um verdadeiro hino do post-hardcore e um hit absoluto da carreira do Underoath, promoveu uma catarse final e foi provavelmente a música que o público cantou mais alto e se emocionou, mostrando o quanto o Underoath é relevante em suas histórias. Um final apoteótico para um show tão aguardado entre os fãs.
O Underoath fez valer a espera de 12 anos e fez um show catártico em São Paulo. A banda se reconectou com os fãs brasileiros e além de entregar uma performance arrebatadora, ainda deixou a promessa de um retorno breve e com a clássica When The Sun Sleeps presente no setlist. O show deixou aquele gostinho de quero mais, já que poderia ter um setlist mais extenso, ainda mais levando em consideração o longo período que a banda levou para retornar ao país. Mas o saldo final foi extremamente positivo, com uma apresentação intensa e repleta de entrega, tanto da banda quanto dos fãs.