Green Day acerta a mão com o grudento e viciante Saviors
O trunfo de Saviors é não tentar inovar e mergulhar no pop punk pegajoso que consagrou a banda
Após um longo período de trabalhos inconsistentes e tentativas frustradas de inovar, o Green Day parece finalmente ter acertado a mão com o grudento e viciante Saviors, seu décimo quarto álbum de inéditas.
O que esperar de uma banda que colocou o punk rock novamente em evidência em 1994 com o lançamento de Dookie, um álbum recheado de hits que consolidou o que hoje conhecemos como pop punk, e que quase dez anos depois lançou a ópera rock American Idiot, álbum que solidificou de vez a carreira do Green Day e se tornou um musical da Broadway?
A resposta é simples: Um bom disco. A essa altura o Green Day não precisa provar nada para ninguém. Isso é fato. Mas essa segurança também pode ser uma faca de dois gomes, já que a banda não entrega um trabalho consistente e realmente relevante desde American Idiot.
A tentativa de replicar a ambiciosa ópera rock em 21st Century Breakdown saiu pela culatra e apenas serviu para deixar o disco à sombra do seu antecessor. A trilogia Uno, Dos, Tré também não funcionou, com o próprio Billie Joe Armstrong reconhecendo e que os álbuns não tem foco e foram um erro.
Veio então Revolution Radio, que contava com um viés político forte e singles poderosos, dando uma nova vida ao Green Day. Mas as coisas logo voltaram a desandar com o lançamento de Father of All Motherfuckers, um disco sem direcionamento, errático e vazio.
Mas o single The American Dream is killing Me mostrou que nem tudo estava perdido. E não está mesmo. A faixa que abre o mais novo trabalho do Green Day, Saviors, resgata o pop punk grudento e viciante que está presente nos melhores momentos da banda.
Você certamente ficará cantarolando o refrão da música por um bom tempo depois da primeira audição. É o Green Day fazendo o seu melhor, mesclando refrão pegajoso, punk rock e crítica social.
O álbum segue de forma consistente em sua maior parte. Look Ma, No Brains! figura entre as mais animadas e viciantes, enquanto Bobby Sox flerta (ainda mais) com o pop e é a que mais conversa com os últimos discos da banda. É importante frisar que o Green Day se reencontrou ao mesclar temas politizados e problemas cotidianos, temática que a banda domina e explora com sabedoria desde a era Dookie.
One Eyed Bastard rendeu ao Green Day uma acusação de plágio pela semelhança de seu riff inicial com a do sucesso So What, da cantora Pink. Polêmicas a parte, é facilmente um dos pontos altos de Saviors com sua sonoridade contagiante.
Saviors mantém o nível alto com Dilemma e 1981, essa última mostra que o Green Day retomou a boa forma e que a escola Ramones de fazer música nunca falha. Outro ponto alto da obra e talvez uma das melhores música do Green Day nas últimas duas décadas é Living in the ’20s. Com um instrumental pulsante e uma pincelada de hard rock, a banda brilha e mostra que sabe o que faz.
O disco desacelera e perde o fôlego na reta final. O Green Day é uma banda que tem boas baladas, mas Father to a Son não se destaca muito e soa semelhante a coisas que a banda já lançou anteriormente. A faixa título se encarrega de levantar o ânimo antes do fim e o álbum encerra com a balada Fancy Sauce.
Saviors veio para mostrar que o Green Day ainda não entregou os pontos e que pode lançar bons discos. Seu maior trunfo é não tentar inovar e mergulhar no pop punk pegajoso e empolgante que consagrou a banda. A obra é facilmente um dos trabalhos mais consistentes da banda em quase duas décadas, já figurando como um dos grandes lançamentos de 2024. Os fãs de Green Day venceram dessa vez.
Para fãs de: Ramores, blink-182 e The Offspring