15 anos de Ciano, terceiro trabalho da Fresno e um clássico em sua discografia
Ciano colocou a Fresno em evidência no cenário musical, mostrou a evolução sonora da banda e se tornou um clássico cultuado pelos fãs, além de ser uma peça importante na cena underground
Se existe um álbum seminal para a cena emo que fez história em meados dos anos 2000, é o Ciano da Fresno, que completa seus 15 anos em 2021. O ano de 2006 foi intenso para o rock nacional e também para todos os adolescentes que consumiam música naquele período, principalmente para os que estavam em contato com o cenário underground. Na gringa, o pop punk e o emo estavam explodindo com o lançamento de álbuns como The Black Parade (My Chemical Romance), Lights and Sounds (Yellowcard), entre outros.
No Brasil, o cenário não era diferente e o emo se popularizava cada vez mais, se tornando um movimento em ascensão, que mais tarde seria lembrado como uma das últimas cenas ligadas ao rock a ganhar o mainstream, e colocar o gênero em primeiro plano na grande mídia.
Isso foi resultado de um trabalho que vinha sendo feito ao longo dos anos, e que finalmente começava a furar a bolha do underground, chegando a todos os tipos de públicos. Algumas bandas se tornaram personagens principais dentro desse fenômeno, que seria a trilha sonora de uma geração e definiria toda uma estética, indo além da música e tendo impacto até no visual de quem consumia.
Alguns álbuns foram seminais para o emo e o ano de 2006, como o Procedimentos de emergência, lançado pelo Hateen, que deu início a sua nova fase cantada totalmente em português, emplacando hits gigantescos como 1997 e Quem Já Perdeu Um Sonho Aqui. O NX Zero lançava seu álbum homônimo, o primeiro por uma grande gravadora, emplacando sucessos como Além de Mim, Razões e Emoções e Pela Última Vez. E outro trabalho que marcou o ano de 2006, foi Ciano, terceiro disco da Fresno, responsável por colocar a banda em evidência no cenário musical e que hoje carrega o status de clássico, sendo cultuado por todos os seus fãs.
Ciano foi um trabalho marcante na carreira da banda, dando maior projeção para o grupo e mostrando todo seu potencial. A Fresno já fazia um sucesso considerável no underground com os discos Quarto dos livros (2003) e O Rio a Cidade a Árvore (2004), mas com Ciano tudo ganhou outra proporção. A agenda de shows ficou mais movimentada, o que acarretou na mudança dos músicos para São Paulo. Outra grande mudança que ocorreu na época foi a saída do baixista Bruno Teixeira, sendo substituído por Rodrigo Tavares, que viria a se tornar um membro importante na formação da banda.
O álbum chegou a se chamar por um breve período Jogando Cartas com He Man, uma brincadeira entre os integrantes, já que ainda não tinham nenhum nome em mente. Como cada disco tinha uma cor, optaram por seguir essa estética e escolheram a cor azul para a obra, já que a sonoridade das músicas remetia a essa cor. A arte da capa foi feita por Bruno, irmão do vocalista Lucas Silveira, que também tinha feito as artes dos álbuns anteriores. O irmão do vocalista disse que ao ouvir as músicas do Ciano, só conseguia imaginar uma pessoa com muito frio, andando na neve e tomando chuva, tamanha a melancolia presente nas canções. A produção do disco ficou por conta de Rodrigo Del Toro.
O trabalho apresentava uma gravação e mixagem mais profissionais em relação aos seus antecessores, mostrando um nível de cuidado e perfeccionismo maior. Também foi o primeiro álbum a contar com um videoclipe mais profissional, feito para a música Quebre as Correntes, que foi exibido constantemente na MTV e ajudou a popularizar a banda.
Ciano trouxe composições mais elaboradas e com uma boa dose de peso no instrumental. Atrelado a melancolia presente nas letras, se mostrou o disco da Fresno com mais personalidade até aquele momento. Lucas Silveira já mostrava seu potencial como compositor, com letras pessoais e profundas, retratando com sinceridade os sentimentos e conflitos pessoais que são intensificados na adolescência. O músico já dava indícios de que viria a se tornar um exímio compositor, sendo considerado no futuro um dos melhores de sua geração e da atualidade.
As faixas presentes em Ciano são marcadas pelo seu instrumental encorpado e melódico, com guitarras pesadas e passagens delicadas em momentos pontuais. Músicas como A Resposta, Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco De Minhas Lágrimas, O Que Hoje Você Vê e Quebre as Correntes, conseguem executar com perfeição esse contraponto entre peso e melodia, onde o sensível encontra o agressivo e tudo funciona harmonicamente.
As influências do hardcore californiano também estão presentes no álbum, bem evidentes em faixas como Logo Você, O Peso do Mundo e Soneto Para Petr Cech. Essa influência é bastante comum na maioria das bandas da cena emo/hardcore e é algo que a Fresno iria se desprender em seus trabalhos futuros.
O disco guarda momentos sensíveis e intimistas como a belíssima Infância e outros mais românticos, como em Alguém Que Te Faz Sorrir, segundo single do álbum, que seria regravado no trabalho seguinte. Nas faixas bônus, estava presente uma das músicas favoritas dos fãs, a ótima Stonehenge.
Ciano é um álbum importante tanto para a Fresno, quanto para a cena musical daquele período. O disco acabou influenciando várias bandas que iriam surgir nos próximos anos, além de envelhecer muito bem e ganhar o status de clássico, devido a seu alto nível de qualidade. Ao completar 10 anos, a banda fez uma turnê de comemoração tocando o disco na íntegra, que ganhou uma versão ao vivo. Agora com 15 anos, Ciano segue sendo lembrado com muito carinho por todos os fãs da Fresno e principalmente pelas pessoas que vivenciaram o ano de 2006. Foi trilha sonora para muitos na época, que se identificaram com as letras, encontrando conforto e apoio em uma das fases mais difíceis e complexas da vida.
Para fãs de: Hateen, Darvin e NX Zero