Linkin Park recomeça em excelente forma e segue sem medo de trilhar seu caminho

Após longa pausa, a banda retorna com From Zero, que resgata o melhor de si e mostra que não há como fugir do que está debaixo da pele

Foto: Warner Records e Machine Shop Recordings

Se a parte mais difícil de terminar algo é recomeçar, o novo álbum do Linkin Park é resultado de um período de sete anos de hiato, em que os rumos que Mike Shinoda e companhia tomariam não estavam nada nítidos. Após a morte precoce de Chester Bennington, em 2017, tudo se tornou uma incógnita. “Nós temos uma reconstrução a fazer, e perguntas para responder, então vai levar tempo”, Mike disse a um fã no Twitter.

Sem saber se a banda seguiria, e buscando manter-se ativo, Shinoda começou a compor e produzir novas faixas, convidando vocalistas que, de alguma forma, se conectassem ao legado do LP. Foi apenas no período pós-pandemia, ao se reaproximar dos colegas de banda, que as coisas voltaram a fazer sentido.

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Foto: James Minchin III

“Quando eu comecei a ouvir a voz da Emily [nas gravações], foi a primeira vez que meu cérebro aceitou como uma música do Linkin Park, afirmou o co-fundador da banda em entrevista sobre a escolha da vocalista Emily Armstrong, que chamou a atenção pelos anos de carreira com Dead Sara.

Para o lugar de Rob Bourdon, que optou por não continuar na banda, o escolhido foi Colin Brittain, que além de um excelente baterista, tem uma longa carreira como produtor e compositor para bandas da cena.

Os demais membros retornaram aos seus postos para fechar o time. Assim, o sexteto trabalhou nas 11 faixas de From Zero (algumas delas também contam com o auxílio de outros compositores), que mostram um Linkin Park renovado, e que segue trilhando a estrada que começou há quase três décadas.

Esse ainda é o Linkin Park?

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Foto: James Minchin III

Antes de falar sobre o disco, é preciso tirar o elefante da sala: esse retorno realmente é o Linkin Park?

Embora esse questionamento tenha surgido entre muitas pessoas, essa talvez seja a maneira mais preguiçosa de interpretar a banda — e nem é uma novidade, já que é uma pergunta repetida de tempos em tempos quando lançavam uma faixa com alguns dos elementos que fizeram do grupo um fenômeno no início do milênio.

Diga-se a verdade, o Linkin Park andou por caminhos opostos aos de outros grupos da sua geração. Antes mesmo do nu metal começar seu declínio comercial na primeira metade dos anos 2000, eles decidiram rumar por outros caminhos, explorando vertentes de rock alternativo, hip hop, pop e música eletrônica, mesmo que uma parte do público discordasse dessas mudanças. 

A vontade de seguir o próprio caminho é justamente um dos fatores que mantém a banda viva no imaginário do público por tanto tempo, emplacando ao menos um hit a cada disco. É por isso que tentar ouvir um álbum novo buscando apenas pelo Hybrid Theory ou o Meteora não faz sentido desde 2004 — e faz ainda menos em 2024, quando se trata de uma nova formação. 

Foto: Mava Villamizar

Emily não é Chester, nunca pretendeu ser, e isso não poderia ser melhor. Embora muitas das canções lembrem o ouvinte do eterno vocalista (trata-se da mesma banda, afinal), a forma que Armstrong constrói melodias e emprega seus vocais é muito diferente, e isso foi muito explorado em From Zero. O pré-refrão de “Cut the Bridge” e os agudos impressionantes de “Good Things Go” não deixam dúvidas quanto a isso.

O mesmo vale para Colin, que imprimiu sua marca como baterista, respeitando o histórico da banda. Suas linhas em “Casualty” e “IGYEIH” mostram que o novo integrante veio para somar, com timbres de bateria que se destacam, especialmente nos momentos mais pesados.

Sim, ainda é o Linkin Park. Uma banda que estabeleceu suas próprias regras — o nome do álbum faz referência ao nome original do grupo, Xero —, mas que não se repete e não tem medo de se reinventar.

O DISCO

From Zero é tudo que um álbum do Linkin Park precisa ser. Tem peso, raiva e emoção. Punchlines, berros e lindas vozes melódicas. Scratches, bases eletrônicas, synths, riffs pesados em afinações graves. Ainda assim, ele surpreende o ouvinte.

Tudo começa com a magistral “The Emptiness Machine”, primeiro single dessa nova era. Aqui, Mike canta o primeiro versos e refrão, e logo apresenta Emily, que mostra a que veio, cantando em diversas regiões e usando diferentes técnicas vocais. É uma legítima canção da banda, ao mesmo tempo que traz um frescor novo.

Logo de cara, também é possível entender a tônica das letras do disco, que abordam relacionamentos difíceis, mas se desdobram em dilemas sobre o próprio grupo, como o processo de superar a morte de Chester, continuar a banda sem ele e reencontrar a própria essência.

As canções usam de analogias, como o peso da coroa, pontes rompidas e tornar-se independente do que já te prendeu. Na balada “Over Each Other”, a vocalista canta “Arranha-céus que criamos estão caindo e despencando sobre o solo / já superamos um ao outro?”, dando voz ao processo de reconstrução vivido por seus companheiros de banda.

Musicalmente, o álbum mostra um dos grandes trunfos do LP: sua coesão e sintonia. Os riffs de Brad Delson, a linha de baixo de Dave Farrell e as pickups de Joe Hahn são perfeitamente balanceados, e um ótimo exemplo é “Casualty”, a mais pesada do disco, que deve ser uma das mais aguardadas pelos fãs durante os shows da turnê.

Por falar em peso, “Two Faced”, “Heavy is The Crown” e “IGYEIH” também representam essa faceta, com elementos de diferentes eras do LP. As músicas trazem Emily na sua melhor forma, alternando entre vocais mais limpos e rasgados, para não sobrar nenhuma dúvida de que ela está onde deveria.

Também há espaço para explorar outros elementos. “Overflow” é inventiva, com elementos de hip hop que Mike já explorou em seus trabalhos solo e no Fort Minor, e excelentes programações de Joe Hahn. “Stained”, por sua vez, tem elementos eletrônicos, que lembram as composições do One More Light.

O álbum se encerra com a belíssima “Good Things Go”, marcada pelo dedilhado de Delson, que guia o flow de Shinoda e a potente voz de Armstrong.

Ouvir From Zero do início ao fim é gratificante. É como ver o brilho no olhar de uma pessoa que você ama e que, da sua maneira, superou uma fase difícil. 

Mais uma vez, o Linkin Park recomeça e encontra um lugar onde pertence.