Weatherworn é introspectivo e vulnerável em Postcards
Banda norte-americana traz sentimentos obscuros e brinca com opostos em segundo trabalho de estúdio
Olhar a capa de Postcards já é uma experiência mesmo antes de apertar o play. O segundo disco de estúdio da banda da Virgínia do Norte, Weatherworn, segue com sua tradicional arte simplificada, como um desenho digital que não brinca com texturas e sombras. No entanto, após três singles que de certa forma encaixam-se um no outro, a imagem final oferece quase que uma narrativa completa sobre perda e liberdade — tudo depende do ponto de vista.
A impressão é que Postcards já se inicia antes do amanhecer. É logo na primeira faixa, Debt. Error. Action. Display. que a banda descreve em pouquíssimos versos a imagem de um breu sendo tomado aos poucos por feixes de luz, mas com a mesma atmosfera dos créditos rolando na tela após um filme. É uma sensação dupla, construída de opostos; algo que mostra muito o que está por vir nas nove faixas seguintes.
“Graciosos erros navegarão nas peças deixadas em jogo”, canta o vocalista Dylan Bowers nos últimos versos da primeira faixa que não demoram para puxar a música seguinte, Last Rites.
Mais uma vez, Weatherworn brinca um pouco com a multi-interpretação nessa faixa. Last Rites pode soar como uma canção de amor se ouvida sem tanta atenção; versos como “a luz nesse lugar parece muito obscura sem você” dão impressões erradas e podem até flertar com uma melancolia a la ultrarromântica, bem como estudada na literatura portuguesa no século XIX. Contudo, o quinteto norte-americano é cava assuntos tão profundos em poucas faixas que dificilmente encontra luz para enxergar as próprias palavras.
É engraçado como isso se extende para as demais faixas. Em You Had me at Hello, é como se o eu lírico da canção anterior que via seu próprio reflexo numa pilha de ossos buscasse elementos mundanos do cotidiano para trazer um pouco mais de temperatura para seu corpo. O som de ondas se quebrando ou até mesmo o ritmo da respiração humana parecem ser motivos o suficiente para permanecer, e é tão interessante ver como isso acontece na abordagem emocional da banda a ponto de tornar um convite para uma festa algo completamente idiota.
Weatherworn, apesar de tudo, quer fechar seu arco de redenção custe o que custar. O disco chega em sua metade como se encerrasse um ato, marcando o ponto de virada do roteiro. É em Head in Hands que o eu lírico mostra como se via miserável há todo esse tempo, mas mesmo para quem cavou suas próprias agonias de forma tão aprofundada há a chance de ver a luz novamente.
É engraçado como a banda diz tanto em versos tão curtos, dificilmente compostos por mais de quatro ou cinco palavras. É interessante também observar como essa linguagem de opostos adotada lá na primeira faixa marca presença novamente na transição da quarta para a quinta música, e depois logo em seguida, da quinta para a sexta: há sussurros e acordes baixos que logo depois explodem em ondas sonoras para o ouvinte.
Nem mesmo o eu lírico consegue entrar em sintonia com sua própria mente enquanto reflete sobre vida e morte utilizando tantas metáforas, mas uma coisa é fato: toda a sua reflexão gera um trabalho de alto nível, dando vigor à nova fase do quinteto da Virgínia do Norte.
Para Weatherworn, ser intenso é praticamente um princípio de vida. Não há interesse do eu lírico e nem mesmo da criatividade emocional da banda ser blasé em suas composições. Seja vivendo a alegria no mais puro e genuíno significado da palavra ou “queimado como um poeta perseguindo a ironia; encalhado dentro da cadência dos palitos de fósforo”, Postcards entrega emoções à flor da pele de seus intérpretes capaz de transbordarem seus quatro cantos.
E como para tanta intensidade há suas consequências (como a própria psicanálise relembra em ônus e bônus), o rancor causado pela frustração e expectativa marca enorme presença em Open Casket, faixa sete do trabalho. Talvez a mais romântica das canções, mas ainda flertando com elementos e características macabras, referenciando a morte mesmo na mais discreta das formas.
Esse romance alonga-se um pouco na dupla de músicas que a segue, que contam com uma narrativa que pode causar a impressão de avulsão diante das demais. Enquanto The Patron Saint of Hopeless Cases é movimentada e fala de velocidade, pressa e correr contra o relógio, Postcards acontece num só quarto, em que o eu lírico escreve cartões postais para sua amada. Existe a impressão de uma história paralela, mas Weatherworn aqui brinca de novo com uma linguagem de opostos, sem deixar de introduzir elementos obscuros encaixados em seus versos.
O trabalho encerra com Admire the Quiet, uma canção emocionante que acompanha o protagonista da história no lugar em que encontrou: dessa vez sem se sentir sozinho e com o corpo frio, há uma energia nova que não está tomada pelo medo. Aqui Weatherworn estabelece uma conexão de sua história com o pássaro que escapou da gaiola em sua arte de capa, propondo uma reflexão sobre a prisão em que nós mesmos nos colocamos, mas também sobre pertencimento a ninguém menos que nós.
Para fãs de: Taking Back Sunday, Saves the Day e The Get Up Kids.