Ganhando o underground português, Memorial State lança o EP Bloomed

Com seu segundo trabalho de estúdio, a banda balança o underground português cantando as loucuras do cotidiano

Arte: Inaê Brandão / Downstage

Despertando mentes para vários aspectos da natureza humana com um instrumental intenso e cheio de atmosferas. Esse é o som da banda portuguesa Memorial State, que tem como norte o punk alternativo/emo, com pinceladas de shoegaze e aquele feelingzinho de pop punk. Após o lançamento do seu primeiro álbum Heavy Colors em 2020, agora chegam com seu mais novo EP, o maduro e certeiro Bloomed. Diretamente de Porto, Portugal, batemos um papo com o brasileiro e baixista da banda Vinícius “Piuí” Buenaventura sobre o início da banda, trabalho e planos para o novo lançamento. Confere aí!

Foto: Memorial State / Marcelo Cabral

O outro lado do oceano uniu o trio que formou o Memorial State em 2019, após um anúncio do Facebook onde Léo DaCosta e Guilherme Toledo se encontraram. “Eles precisavam de um baixista e uma colega de faculdade do Gui, que era de Curitiba, como eu (porém só nos conhecemos aqui porque ela foi onde eu trampava e ficamos amigos porque ela me reconheceu de um show em Curitiba com minha antiga banda) – a banda antiga era Better Leave Town, que fez um barulho na cena underground de Curitiba – me apresentou e foi isso! Alinhamos as ideias e a coisa estava formada!”, conta Vinicius. Mesmo mudando de ares e de continente, é impossível se desprender de uma época em que tocar era quase que exercício obrigatório no fim de semana.

Mesmo com a mudança e a adaptação, Vinicius ainda embarcou nessa nova empreitada e trouxe com ele o background adquirido durante todos estes anos, mesmo que tudo acontecendo de forma inédita. “Não tem como não carregar o background todo. Acontece com todo mundo, a gente tem nossas experiências e isso nos influencia mesmo sem percebermos, não é? Mas também é óbvio que em outro país e com pessoas recém conhecidas, precisamos sambar conforme o ritmo!”, o que desperta ainda mais curiosidade e novas possibilidades. “Acho doido pensar que isso tanto tem a ver com a banda, como o processo de imigração. Ou seja, mesmo que se carregue referências do passado, é uma construção nova que temos pela frente”, comenta o baixista.

Da ótica de Vinicius, dá pra sacar que Portugal é um local confortável para músicos independentes e, consequentemente, do underground, de se desenvolverem serem reconhecidos. “As casas de shows existem, são bem organizadas, tem bons equipamentos, tratam os artistas bem e a coisa acontece! E na nossa pequena experiência aqui, acontece até mais por incentivos da cultura pelo Estado, do que pelo público, que é muito pequeno dentro do punk/hardcore (é bom apontar que no metal/grind/etc é muito maior)”, mesmo comparando e enaltecendo a forma de DIY que temos na América Latina. “O DIY da América Latina é real e a gente sabe dar muito valor. No contexto europeu, você tem mais grana, mais estrutura, mas não a mesma paixão! Temos diferenças muito grandes, mas também similaridades, que é preciso se mexer pra mais coisas acontecerem”, afirma Piuí.

Bloomed nasceu dentro de um apartamento, enquanto os estúdios estavam fechados por conta da pandemia de COVID-19, usando fones e uma bateria eletrônica. Essa reclusão auxiliou na produção do EP, podendo o trio se dedicar em cada faixa com calma e cuidado. Representando um amadurecimento claro da banda, o trabalho anuncia uma nova era dentro do que é o Memorial State, salientando tudo aquilo que o trio conversou no início do projeto, principalmente na parte lírica. “Acho que desde a conversa original da formação da banda, nós falamos sobre o que tínhamos vontade de expor no projeto e sei lá, tá mais ou menos por aí, letras que conversam com temas variados, mas que no fim, exploram as adversidades de viver nesses dias insanos”, e que dias, hein!?

Com a flexibilização e as casas de shows a todo vapor, os planos do Memorial State é tocar e trabalhar com algumas novidades. “Temos algumas datas de shows pro verão daqui e outras mais estão sendo fechadas. Por enquanto o plano é tocar e dar continuidade a composições que não entraram no EP para termos mais material em breve”, mas e o Brasil? “Ir para o Brasil seria demais! Temos vontade, com certeza! Mas essa expectativa ainda tá longe. Quem sabe tudo se alinha, não é?”, almeja Vinicius.