Seventeen Sunsets é livre para existir, ser e criar em falling down (falling out)

Segundo EP da banda curitibana mostra um trabalho mais coeso, íntimo e maduro

Foto: Yuri Felix Arte: Inaê Brandão / Downstage

Quando a Seventeen Sunsets lançou o EP Midnight Lights em julho desse ano, o conceito por trás de todo o trabalho era fechado e sem dar margem para interpretações. Apesar de muito bem elaborado e entregando um projeto ousado para um EP de estreia de um artista independente, a banda curitibana formada por Leonardo Simões (guitarra, voz), Leonardo Ereno (baixo, voz) e André Santos (bateria) fizeram daquela Era um retrato de um escapismo em tempos de pandemia: distante de algo que o público pudesse de fato se identificar.

Inspirado em filmes de comédia adolescente como Superbad e American Pie, o EP Midnight Lights é uma festa que poderia ser vista facilmente numa série adolescente dos anos 2000, repleta de amigos, música alta e memórias que ficarão marcadas pelo resto da vida. No entanto, a Seventeen Sunsets sabe muito bem que a noite chega ao fim, e mesmo que o sentimento saudosista permaneça em about that night, a última faixa do EP, o dia seguinte é uma oportunidade de coisas novas serem iniciadas, mesmo que essas sejam mais introspectivas.

(Foto: Yuri Felix)

Essa linha de pensamento é o fio condutor de falling down (falling out), o mais novo trabalho de estúdio da banda de pop punk curitibana. Pensado desde antes do lançamento de Midnight Lights, o segundo EP traz uma Seventeen Sunsets mais madura, introspectiva e, sobretudo, ciente do seu tamanho, importância e propósito no mundo.

Justamente por não se prender a um universo temático ou por beber da água de outras bandas do gênero, falling down (falling out) mostra o trio sem verniz e sem cerimônias para se expor. São quatro faixas inéditas (encabeçadas pelo single jigsaw, liberado no último dia 22) que transbordam intimidade, vulnerabilidade e dão margem para a identificação, mas que sobretudo cumprem com êxito o papel de mostrar a Seventeen Sunsets em sua mais pura essência.

“Colocamos mais nossos sentimentos e coisas que a gente tava passando naquele momento, não pensamos exatamente numa história ou numa ambientação, como foi com o Midnight Lights“, revela o baixista Leo Ereno em um bate-papo exclusivo com o Downstage.

Sem um tema para se seguir, a banda se viu mais livre para criar e se permitir experimentar outras sonoridades, temáticas e até mesmo desprender-se de referências. “Partiu muito do cru da banda”, adiciona o baterista André Santos. “Começamos de algo que não era uma temática, e sim um sentimento. Então ele pode ser universal; ter várias interpretações.”

De certa forma, falling down (falling out) é, até então, o mais sincero trabalho da Seventeen Sunsets. Agora com uma certa familiaridade com o processo de gravação e caleijados de todos os imprevistos que um trabalho de estúdio pode render, a banda se deu ao luxo de experimentar, criar e se necessário recriar cada detalhe que não fizesse sentido para o resultado final como um todo.

“Tivemos um rolê de aceitar essas paradas”, comenta Leo Ereno, referindo-se a situações em que os integrantes não gostaram do resultado de alguma faixa antes mesmo de gravá-la. “Quando chegávamos à conclusão de que não ia dar, íamos embora e ‘em outro dia a gente vê’. Essas questões ligadas ao acabamento era como a gente via de fazer um negócio que refletisse o que queríamos passar.”

“A gente ainda mantém nossas referências”, adiciona Leo Simões. “Mas [esse EP] é contra ao Midnight Lights, que a gente queria soar como o MGK ou o blink-182, um negócio atual. Agora a gente quer soar como a gente mesmo.”

A integração de Leo Ereno na produção

(Foto: Yuri Felix)

“Caindo de paraquedas” no meio da produção do Midnight Lights, o baixista Leo Ereno chegou na Seventeen Sunsets logo no início de 2020, quando duas faixas do primeiro EP já estavam praticamente prontas e o conceito do trabalho pré-estabelecido. Antes amigos de internet e agora parceiros de banda, falling down (falling out) carrega a leveza do relacionamento dos três integrantes que agora se sentem mais à vontade tanto musicalmente quanto criativamente, dentro e fora de assuntos do grupo.

“Esse EP marcou uma consolidação da gente como grupo e como amigos de certa forma”, comenta Leo Ereno. “Eu nem conhecia eles direito pessoalmente quando a gente entrou em estúdio pra gravar o Midnight Lights. As experiências que a gente teve com a produção permitiu que a gente fosse bem mais aberto e construísse algo do zero juntos. Foi totalmente diferente.”

Leo Simões relembra o cenário de seis meses atrás: “foi uma época muito difícil”, adiciona. “A gente tava sonhando, só que o momento não ajudava, foi tudo muito rápido e em cima na hora. Talvez seja por isso que esse EP tem mais a nossa cara.”

A diferença na sonoridade

falling down (falling out) pode não desapegar do pop punk, um gênero tão querido e presente na rotina da Seventeen Sunsets. Contudo, não é equivocado dizer que aqui podemos ver um melhor aproveitamento do estilo musical na mão dos três músicos.

Midnight Lights music video: a experiência audiovisual do EP anterior da Seventeen Sunsets.

“Não queríamos ter um nicho”, comenta o baterista André. “Queríamos entender o que a gente gostava em conjunto e ver como soava. […] É um trabalho mais delicado, às vezes a virada que eu fazia [nas baterias] para determinada parte não era ensaiada — eu sentia a música, o que ela pedia. Então esse trabalho foi muito mais pra dentro de nós.”

Falling down (falling out)

Dois meses podem parecer pouco tempo, mas não para o pessoal da Seventeen Sunsets. Após o lançamento de Midnight Lights, os meninos não deixaram a empolgação ir embora. “A gente tava numa euforia absurda, muito feliz, e sentíamos que precisávamos daquilo de novo e logo”, comenta Leo Ereno. Com duas músicas já encaminhadas que acabaram não entrando no primeiro trabalho, o esqueleto de falling down (falling out) já começava a tomar forma no universo criativo do trio.

(Foto: Yuri Felix)

É importante observar que em seu novo trabalho, a banda está mais entrosada e confortável com suas escolhas. As principais influências da Seventeen Sunsets (como blink-182 e Angels and Airwaves) ainda estão bem presentes, mas elas estão em segundo plano agora, com a identidade musical do trio mais imponente e menos tímida. Leo Ereno comenta sobre esse lado mais pessoal de falling down (falling out) “a gente sente que o EP novo é muito mais íntimo, botamos mais nossos sentimentos e coisas que a gente tava passando no momento.”

Sem se prender a uma temática específica, como foi em Midnight Lights, a banda entrega um trabalho mais pra dentro, soando íntimo e experimental. Mesmo com jigsaw, primeiro single de divulgação lançado, tendo uma temática de Halloween (com um ótimo videoclipe que presta uma homenagem aos filmes de terror slasher dos anos 80), o EP não fica preso a um único conceito. Isso deixou a obra mais solta, soando mais universal que o primeiro lançamento.

(Foto: Yuri Felix)

A evolução sonora da Seventeen é bem perceptível em falling down (falling out), sendo notável logo na faixa pós-intro, SUCKERPUNCH, que tem uma estética moderna e um refrão mais encorpado. jigsaw é a faixa que mais conversa com a sonoridade de Midnight Lights, trazendo aquele pop punk melancólico e com um refrão cativante e agitado.

Novamente a Seventeen Sunsets se preocupa em fazer um trabalho completo e amarrado, já que a música e o clipe se completam e reverenciam o clima de Halloween com maestria. broken bones é o destaque do EP, com sua sonoridade forte e pesada em momentos pontuais. É uma bela amostra de como a banda está moldando sua identidade musical com mais segurança, experimentando coisas novas e furando a bolha do pop punk linear. Sem dúvidas é uma faixa que vai impressionar os ouvintes.

Em falling down (falling out), a Seventeen Sunsets mostra amadurecimento e começa a trilhar um novo caminho. O trabalho é sincero e mais solto, se distanciando do excesso de influências do primeiro EP, deixando mais visível a personalidade musical do trio. Agora mais universal e solta, a banda abre novos horizontes e segue olhando para o futuro. Sem abandonar suas raízes, o trio entrega um trabalho consistente e promissor, deixando os ouvintes ansiosos por novidades.

Próximos passos

Do lado de fora, é tranquilo dizer que o futuro reserva uma Seventeen Sunsets mais criativamente livre, confiante e à vontade para explorar suas sonoridades e desejos. falling down (falling out) contou com diversos imprevistos e mudanças em sua produção, “gravava, sentava, conversava; gravava, sentava, conversava”, como descreve Leo Simões, mas cuja rotina inquieta, agora vista de fora, entrega um trabalho coeso, moldado e pronto para ver a luz do dia.

(Arte: Valentine Zeghbi)

Antes um Lado B de Midnight Lights, o segundo EP dos curitibanos mostra a Seventeen Sunsets como unidade e pronta para explorar novos desafios. Essa ideia é facilmente refletida na capa do EP, que mostra o mascote da banda caindo numa máquina repleta de outros iguais a si — mas destacando-se após a jornada de autoconhecimento que a própria banda trilhou em menos de dois meses.

Assim como o “Suns Cat”, a Seventeen Sunsets se vê pronta para expôr o próprio brilho e destacar-se em meio a multidão — e isso já é uma realidade nos dias atuais da banda, em que jigsaw possuiu uma recepção mais acalorada diante dos singles de Midnight Lights.

“Antes era muito amigo nosso escutando”, relembra Leo Simões. “O que foi mais legal nesse é que veio uma galera que a gente não conhecia. Tá sendo mais legal, e tem muita coisa pra acontecer ainda.”