CAØS REIMAGINADØ: uma carta de amor da Cefa para si mesma

Trabalho dá extensão à Era CAØS ao mesmo tempo que mergulha os integrantes numa liberdade artística e criativa

Arte: Giovanna Zancope / Downstage

Algo que é comum entre os artistas, principalmente aqueles que escrevem músicas com um teor mais intimista, é olhar para trás e imaginar “explorei tudo o que tinha para ser explorado aqui?”, e é dessa forma que nascem as versões estendidas ou reimaginadas de álbuns que já ganharam espaço dentro da vida e cotidiano de diversas pessoas. Alcançar o máximo é sempre algo grandioso, ou talvez até homérico, que coincide com a perfeição e a necessidade de impactar cada vez mais.

Olhando diretamente para esta direção, o projeto CAØS REIMAGINADØ, é nitidamente uma extensão de cada um dos quatro membros da Cefa, onde, de alguma maneira, faltava uma virgula ou até um ponto final mais intimista para cada faixa presente no último álbum, o extraordinário CAØS.

Com a banda contaminada de um 2019 repleto de shows, era inevitável que as expectativas de subir no palco impactariam as músicas do novo álbum. CAØS, elaborado em janeiro de 2020, viu a luz do dia há exatamente um ano — mas por conta da pandemia de COVID-19, ainda não teve o desdobramento para o ao vivo que merecia.

(Imagem: LOIRO / Divulgação)

“Ninguém tinha ideia do que ia acontecer”, revelou Caio Weber em entrevista exclusiva ao Downstage, relembrando que antes do álbum enfim se tornar CAØS REIMAGINADØ, uma versão deluxe com Saudade foi pensada, com apenas quatro versões acústicas da tracklist. “Fizemos o primeiro ensaio e foi legal. Aí começamos a colocar uns elementos e a parte mais divertida é que a gente poderia reapresentar essas músicas em versões completamente diferentes.”

Não ter a oportunidade de entregar para o público as versões ao vivo do melhor álbum da carreira é no mínimo frustrante, mas foi justamente por conta da ausência da experiência que CAØS REIMAGINADØ é o trabalho mais íntimo e que resgata a essência do que é a Cefa. Descrito como algo “da gente para a gente”, como relata Caio, a banda mergulhou numa imersão criativa e artística que resultou em algo jamais vivido anteriormente por nenhum dos integrantes.

Visto dessa forma, o projeto pode facilmente ser visto como o resultado de um escapismo que a Cefa precisava viver após dois anos atípicos. “Aconteceu de forma muito natural. Foi algo muito nosso”, relembra o vocalista. “Isso é um reflexo da pandemia, antes a gente se via todos os dias para ensaiar, fazer show, e a gente ficou sentindo muita falta um do outro nesse momento.”

As sessions de CAØS REIMAGINADØ (Imagem: LOIRO / Divulgação)

“Olhando em retrospecto, o CAØS REIMAGINADØ foi uma forma da gente ter um ao outro por mais tempo. Antes, a gente tinha o combinado de se ver duas vezes por semana, e aí era um momento gostoso da gente se ver, fazer música e por alguns segundos esquecer o mundo lá fora”, explica. “Muito disso tá refletido nas músicas: essa leveza.”

Assim, reimaginar o disco foi um processo “quase paradoxal”, como descreve Caio Weber. Isso porque as letras das músicas abordam assuntos e temáticas que a banda estava querendo fugir no momento de composição, no início de 2020 e agora novamente, em 2021. “Tem esse dualismo, e em CAØS REIMAGINADØ a gente conseguiu dar essa volta. É como se a gente tivesse voltando para o ano passado e recuperado esse sentimento, de buscar um conforto; um refúgio nas músicas que a gente tava fazendo.”

CAØS x CAØS REIMAGINADØ

(Imagem: Reprodução / Spotify)

Parando para refletir sobre essa diferente, porém igual em certos pontos apresentação entre os dois trabalhos, é possível notar que a agressividade se internalizou na forma com que as palavras são ditas. Exemplificando, temos faixas que foram criadas com voracidade de um ser que precisava expurgar sentimentos enjaulados há anos, e que saíram em tom de ordem e necessidade.

Entrando no conceito reimaginado, as mesmas faixas ganharam um tom mais aveludado, onde foi possível sentir em cada linha e frase, algo que caminha para a calmaria daquele ser que antes, só precisava externalizar, e hoje, pode falar sobre com leveza e tranquilidade. É claro que temos faixas como Neblina, ou então Desabafo, que ganharam um toque ainda mais intimista, no que diz a relação dos quatro membros, onde a última citada, que originalmente é somente voz e violão, ganha uma versão com banda inteira, trabalhando disruptivamente, algo que a Cefa faz com maestria.

Traçando um ponto com o instrumental usado para essa versão reimaginada, temos linhas suaves, calmas e modernas, com por exemplo, synths e pads sendo tocados por Bruno, que normalmente desce a lenha nos pratos e tambores da bateria. Algo bem legal presente nessa versão também, é que o guitarrista Gabe volta a cantar depois de muito tempo também. “Algo que me deixou muito feliz foi ver o Gabe cantando novamente, algo que não acontecia, acho, desde a Viajantes Session. Fiquei bem feliz acompanhando isso”, comenta Caio.

Viajantes Session e seu legado

Malas nas costas, sentimentos aflorados e um feeling digno de grandes corações. 2018 foi o ano de conhecer um projeto grandioso que levou o nome de Viajantes Session, onde Caio e Gabe, então únicos membros da Cefa, encararam o desafio de gravar, produzir e performar onze faixas da banda, entre singles e faixas presentes no primeiro álbum da banda, o visceral O Fantástico Azul ao Longe, dialogando exatamente da mesma forma como foi arquitetado o CAØS REIMAGINADØ.

Usando do mesmo ambiente para as gravações, é bonito ver como o tempo é fugaz e intrigante, onde dois se transformam em quatro, e a magia permanece em alta, como se a soma sempre estivesse ali, mas agora em carne, osso e ainda mais sentimento.

(Imagem: LOIRO / Divulgação)

Reimaginar é um ato de se enxergar com lacunas que podem ser preenchidas. Usar de sentimentos para preencher esses espaços, sempre foi a maneira mais íntima que a Cefa se propôs a trabalhar para o público que os segue. E é dessa maneira que a banda ganha, dia após dia, mais significado na vida de inúmeras pessoas.

Da Cefa para a Cefa; e da Cefa para o mundo

CAØS REIMAGINADØ será dividido com o público a partir desta quinta-feira (7), em singles semanais que seguirão a ordem da tracklist. Junto das versões inéditas, uma session será disponibilizada no canal do YouTube da banda.

Dessa forma, essa Era da Cefa durará mais três meses com novos materiais para os fãs. “As pessoas podem ir degustando aos poucos essa loucura que a gente fez”, comenta Caio. “Quando você lança um álbum, algumas músicas ficam perdidas pelo meio do caminho, passando batidas — e isso é um pouco frustrante. Quando você lança singles, todas as músicas são trabalhadas.”

Pensar num “e se…” que não envolva a pandemia de COVID-19 é difícil porque cai na margem da especulação. No entanto, para Caio Weber, a Cefa seria completamente diferente se não tivesse passado pelo turbilhão de emoções que foram os anos de 2020 e 2021. “Acho que não chegaríamos nas conclusões artísticas que chegamos”, revela.

“Acho que essa necessidade de se reinventar brutalmente não existiria. Nesse momento a gente precisa se reinventar para continuar existindo”, explica. “Essa não seria uma necessidade caso a gente tivesse na estrada. Acho que todos os artistas estão passando por isso.”