No Rock in Rio, bandas da cena underground nacional preencheram o palco Supernova
Black Pantera, The Mönic, Eskrota, Dead Fish e Crypta exaltam discurso feminista e antirracista diante do público de um dos maiores festivais de música do mundo
Longe dos palcos mais badalados do Rock in Rio 2024, a resistência da cena underground deu a cara a tapa novamente ao longo do dia 15 de setembro, na Cidade do Rock.
Pela terceira vez seguida, o palco Supernova foi exceção à tradicional transmissão ao vivo realizada no Mundo e Sunset para todo o Brasil. Entretanto, mesmo que fora dos televisores e streamings da grande massa, ofereceu ao público presente um “dia do metal” com canções provocativas que amplificam pautas sociais latentes dentro e fora da música.
The Mönic convida Eskrota
No começo da tarde, a The Mönic, banda de rock alternativo de São Paulo com Alê Labelle (vocal e guitarra), Joan Bedin (baixo), Dani Buarque (vocal e guitarra) e Thiago Coiote (bateria), mostrou ao público do Rock in Rio toda a força feminina.
Quem acompanha o trabalho do grupo sabe que o discurso não se limita às letras de canções como “Kamikaze” e “Sabotagem”, mas também se propaga na atitude da banda ao falar sobre a importância de se fazer um Rock in Rio com mais mulheres. O grupo já se apresentou no Rio em outros festivais como o Polifonia, em 2022, e neste ano, no Não Tem Banda com Mina, com as cariocas da Fake Honey.
Alê Labelle, vocal e guitarrista da The Mönic, contou ao Dowstage como foi a experiência de trazer a banda para o palco Supernova.
“Sempre foi um sonho tocar no Rock in Rio. A gente vem fazendo mais música em português para a galera cantar junto. Tivemos a transição do disco antigo para o Cuidado Você e ver isso acontecer superou todas as expectativas.”
Dani Buarque complementa: “Não é o dia delas, é o Dia do Rock, e temos mais mulheres ocupando o palco Supernova. A gente fala muito sobre equidade. Não queremos eliminar os caras do palco, queremos mais espaços para mulheres.” A guitarrista viveu o show com intensidade, indo ao público participar do mosh para cantar.
Neste ano, como fizeram artistas de outros palcos, a The Mönic teve a tarefa de convidar uma banda para tocar com elas no mesmo horário. A missão foi cumprida pela Eskrota, banda de thrash metal/cross over de Rio Claro e São Carlos, em São Paulo, com Yasmin Amaral (vocal e guitarra), Tamy Leopoldo (baixo) e Jhon França (bateria).
Feminismo, resistência e antifascismo são pautas frequentes em canções como “Grita” e “Mulheres”. Yasmin Amaral contou como a banda aproveitou cada segundo do festival para dar o recado e aproveitar a oportunidade.
Nenhum de nós tínhamos vindo no Rock in Rio em edições anteriores. As nossas amigas da The Mönic foram super acolhedoras com a nossa proposta, fiquei muito emocionada. Estávamos em família. A ideia era ter mina no palco, no rolê, na produção… Tudo gira em torno de parceria no underground.
Black Pantera
O Black Pantera conhece bem a sensação de tocar em um palco gigantesco. O currículo de Charles Gama (guitarra e vocal), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria) merece aplausos. Recentemente, o grupo hardcore, punk e thrash metal de Uberaba, Minas Gerais, abriu o show do Sepultura no Espaço Unimed, em São Paulo, e está viajando o Brasil divulgando seu mais novo álbum, Perpétuo.
A banda completa dez anos em 2024 e tem na sua história uma série de festivais importantes, tanto na cena do rock de resistência quanto o rock de massa, como Afropunk e o Download Festival, ambos em Paris, na França. Paralelamente, o grupo não abandonou o underground e suas raízes. Exemplo disso são os shows que a banda continua realizando em pubs e bares de rock espalhados pelo Brasil.
Rodrigo Pancho, baterista do Black Pantera, contou, em entrevista a Michael Meneses, do Portal Rock Press, que “a entrega é sempre a mesma da banda. As pessoas que estão vendo o Black Pantera num rolê underground para 50, 100 pessoas estão vendo a mesma entrega do Rock in Rio. A gente gosta muito de tocar. Para trabalhar no Brasil, você tem que estar em todos os espaços. E a gente acredita nisso. Não dá para só tocar em festival mainstream o ano todo. No decorrer desse ano, vamos fazer mais underground”
O baixista Chaene da Gama finaliza: “Não é todo mundo que pode comprar e vir ao Rock in Rio. É muito importante estarmos no interior e nas cidades menores. A gente faz questão de propagar a mensagem.”
Símbolo da resistência e da luta contra o racismo dentro, fora da música e em todas as camadas da sociedade, não há como falar com o Black Pantera sem destacar o quanto os caras entendem de rock and roll. A banda fez o chão tremer em uma performance catártica com “Fogo nos Racistas” e emocionou com a letra de “Tradução”, dedicada à mãe de Chaene que estava no palco.
Chaene também comentou sobre a recepção do público com o lançamento de Perpétuo em maio deste ano: “Nosso álbum foi muito bem recebido e ampliou os nossos horizontes. Tocar no Rock in Rio é o ápice para todo artista. Era um sonho nosso e conseguimos vir pela segunda vez.”
Crypta
Já ao anoitecer, a Crypta, banda de death metal 100% formada por mulheres, era uma das atrações mais aguardadas.
O grupo tem ganhado projeção mundial em turnês ao redor do globo. Fernanda Lira (vocal e baixo), Luana Dametto (bateria), Tainá Bergamaschi (guitarra) e Jessica Di Falschi (guitarra) tocaram no mesmo horário do Planet Hemp com Pitty e encheram o espaço do Supernova com muitos guturais, solos e bateção de cabeça.
Os discos Echoes of The Soul e Shades Of Sorrow preencheram o setlist e reforçaram a mensagem de empoderamento feminino e da presença certa do metal no Rock in Rio. Ao final, as integrantes da Crypta desceram e foram até à grade falar com fãs que estavam o dia inteiro esperando por elas.
Dead Fish
O Dead Fish não economizou energia e aproveitou cada minuto no festival, mesmo tendo provocado certa estranheza ao se apresentar em um palco cuja proposta era trazer novos músicos para dentro do Rock in Rio. Afinal, com mais de 30 anos de estrada, o grupo poderia caber em palcos maiores, como o Sunset, localizado a poucos metros do Supernova.
Durante a performance, o vocalista Rodrigo Lima pediu que todos aproveitassem ao máximo aquele momento como se estivessem em mais uma apresentação da banda no Circo Voador.
O espetáculo passou por diversos álbuns do grupo em canções como “A urgência”, “Queda Livre”, “Zero e um”, “Dentes Amarelos”, “Afasia” e “Sonho médio”.
O Supernova
Com a mesma estética dos anos anteriores, pesando mais de duas toneladas e 300m² de cenografia inspirada em uma estética industrial, a estrutura tubular teve 35% das peças trazidas de ferros velhos.
Em 2024, o Supernova recebeu ainda Cynthia Luz, N.I.N.A, Darumas, Nina Fernandes, Jean Tassy, Chico Chico, Vanguard, Autoramas, DJ Topo, Zaynara, Gabriel Froede e LZ da França.