AQUINO e a trilha sonora tropical de Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol

Trio carioca entrega uma miscelânea de ritmos e referências em novo álbum

Arte: Tay Viana / Downstage

3 anos depois do primeiro álbum, os cariocas da AQUINO, conhecida previamente por Aquino e Orquestra Invisível, entregam aos fãs o segundo projeto do grupo. O trio, composto pelo guitarrista João Vazquez (Vavá), baixista João Soto e baterista Leandro Bessa, traz uma sonoridade completamente inédita e refrescante para sua discografia.

Apesar de longo, o título Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol consegue transmitir a energia solar e tropical de um álbum que tem tudo pra ser a trilha sonora perfeita para o próximo verão. Mesclando elementos que gritam brasilidade mas também com influências importadas, AQUINO entrega um disco maduro, carismático e de fácil digestão. 

A roupagem das faixas tem gosto de caipirinha de caju, camarão frito e fim de tarde. Com uma energia completamente solar, é um disco que incentiva o cantar e dançar.

Foto: Dex Magalhães

As faixas

A primeira faixa, “Cobra-Coral”, é uma declaração de amor a tudo que é tropical, brasileiro, sulamericano e que dá vontade de chamar de “nosso”. A sonoridade é animada, com percussões dançantes que se mesclam ao uso de sintetizadores para dar uma cara quase futurista à música. 

“Amor Sintético”, o primeiro single do álbum, entrega à declaração de amor um alvo um pouco mais palpável. É definitivamente uma música de amor, com uma pegada oitentista que abusa de sintetizadores, guitarras groovadas, e linhas de baixo carismáticas, que entregam à faixa uma fácil assimilação. A letra é simples, cativante e envolvente. 

As duas primeiras tracks dançantes dão lugar a um neo-pagode simpático mas carente de complexidade em “Como Você”. A faixa é simples e tem os mesmos poucos versos repetidos do início ao fim. Funciona dentro do conjunto do disco, mas, isoladamente, é uma faixa que pede mais ‘molho’.

Todo o carisma que faltou à música anterior retorna em “Neotropical”. A faixa pode ser dividida em dois momentos: em um primeiro, ela cresce chegando ao melhor refrão do disco até aqui. E, então, a ponte cheia de referências à multiculturalidade brasileira leva o ouvinte até o segundo momento: um misto de elementos eletrônicos com letras em espanhol e ritmos latinos. 

Foto: Dex Magalhães

É justamente nesse segundo momento que a sensação de “esse álbum me lembra de alguma coisa que eu já conheço” encontra uma solução. As influências de Francisco, El Hombre e Baianasystem florescem de forma extremamente natural.

Em “Onda do Mar”, elementos de samba e bossa nova são revisitados e assumem uma roupagem seguramente contemporânea. É o misto daquilo que seria considerado “antigo” com o gingado atualíssimo que AQUINO conseguiu imprimir em todo o disco. 

E quando parece que todas as variações rítmicas do álbum já foram apresentadas, “Lágrimas Contemporâneas” traz um R&B meio Ne-yo, meio Tim Maia. A letra assumidamente triste da música carrega uma temática tecnológica que dá o toque de atualidade à faixa. 

A próxima faixa, “Matas e Mares”, é um reggae em forma de declaração de amor no qual estão presentes todos os elementos de “manual” do ritmo são seguidos — desde a levada groovada de guitarra até os backing vocals em coro. É uma faixa que pode não brilhar tanto os olhos, principalmente considerando tudo que o disco apresentou até o momento. 

E, na mescla entre “sons do passado” e “sons do futuro”, chegamos à “Camisa do Flamengo”, que soa como se Jorge Ben fosse um artista de disco music dos anos 80. O segundo single é mais uma das várias viagens no tempo que o NFMTES proporciona. Nessa track também é possível perceber alguns elementos emprestados de Daft Punk, Justice e outros nomes do synthpop. 

“Ela” é uma faixa-homenagem a diversos nomes da música brasileira cujos trabalhos claramente servem de referência para os meninos da AQUINO. A letra da faixa, repleta de jogos de palavras, é extremamente envolvente e bem escrita. As escolhas cuidadosas de palavras fazem a música entrar pelos ouvidos e ser digerida com uma facilidade marcante. 

Já em “Vapor de Cachoeira”, vemos elementos do eletrofunk aparecerem pela primeira vez no disco. Ao mesmo tempo em que é um funk futurista, também traz elementos do ‘funk antigo’. A colagem de áudios avulsos apresenta novidades na composição em relação ao restante do álbum mas, liricamente, é uma track fraca. Os destaque se dá pela sonoridade diferente. 

A 11ª e última faixa do disco, “Tudo O Quanto é Lindo”, funciona como posfácio do álbum, amarrando as temáticas que foram tratadas nas dez músicas anteriores. O ouvinte encontra voz, violão, acordes arpejados e em diapasão. É uma música com jeito, cheiro e gosto de MPB que Gil ou Caetano poderiam facilmente ter composto. 

Veredito

Foto: Dex Magalhães

O disco enquanto todo é uma grande salada — de uma forma muito positiva. É aquela refeição no buffet à quilo com o prato cheio de comidas de várias culinárias diferentes. O álbum explora elementos de reggae, samba, bossa, mpb, funk, eletrônica, cumbia, pagode e tudo mais que é possível imaginar. E tudo isso é mesclado de forma original, fluida e muito natural. 

Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol apresenta para o mundo a versatilidade — e extensa bagagem musical — do trio carioca. O álbum tem a cara do Rio de Janeiro, mas também tem cara de Brasil e de América do Sul. Também tem muita identidade, bebendo de muitas referências mas, ao mesmo tempo, consolidando elas de um jeito muito próprio e particular. É uma viagem tropical com gosto de água de coco, cheiro de mato e som de pássaros e cachoeiras.