Um novo movimento parece ter surgido dentro da cena de metalcore e post-hardcore nos últimos anos. Na última década, a tendência de misturar gêneros mostra-se em crescimento, seja no metal eletrônico de Bring Me The Horizon, nos blues de Sleep Token, ou até mesmo nos breakdowns de reggaeton de Knocked Loose. 

A “pop-ficação” do metal não agrada a todos, mas definitivamente veio pra ficar. Johnny Franck, nome conhecido da cena (Attack Attack! e The March Ahead), se consolida com American Motor Sports como um grande nome dessa nova onda, sob a alcunha de Bilmuri.

A SONORIDADE

Se outras bandas citadas antes fazem álbuns de metal com toques populares, Bilmuri faz o contrário. 

O músico se baseia em clichês pop e country, subvertendo-os com suas próprias ideias musicais e influências, adicionando guitarras serrilhadas e pedais duplos de bateria em melodias românticas de violão e voz. 

Mesmo por vezes parecendo um pouco caótico demais dentro da própria proposta, na maior parte do álbum a ousadia se paga de forma surpreendentemente harmoniosa, talvez porque o próprio caos seja um reflexo orquestrado das letras que o acompanham.

AS LETRAS

American Motor Sports é pessoal e dramático, relatando, em sua maioria, problemas de um relacionamento que deixou cicatrizes após um término difícil, também tocando em assuntos como depressão e alcoolismo. 

As letras não são nem um pouco sutis: todas as músicas parecem ser direcionadas para alguma pessoa específica, mesmo que sem mencionar nomes. As composições entregam a sensação de que são respostas para alguma ação ou discurso.

Talvez seja por isso que o instrumental combine tanto com elas. Junto da brutalidade e agressividade dessa abordagem, vem uma certa sensibilidade de expôr seus sentimentos. Essa escolha acaba criando um contraste que é refletido justamente pelos dois lados musicais do artista: a escuridão da sonoridade do metal com o brilho da sonoridade do pop, tornando o trabalho bastante sincero e único em sua proposta.

Apesar de tudo isso, Bilmuri parece pecar, em alguns momentos, no desenvolvimento completo dessas ideias. 

A curta duração do álbum e das próprias músicas vem de uma estruturação genérica, ainda que executada com criatividade, e em quase todas as músicas há o sentimento de que faltou algo, ou, no mínimo, o gosto de “quero mais” que algumas músicas adicionais poderiam saciar. 

Mas, para os ouvintes que já estão acostumados com os trabalhos do artista, isso não é um grande problema. Apesar dos projetos sempre curtos, eles são entregues com rapidez e qualidade.

VEREDITO

American Motor Sports é um trabalho único, caótico, divertido, e, acima de tudo, especial, vindo de um artista confiante em suas próprias ideias musicais e líricas. 

Apesar da sensação de que Bilmuri não alcançou todo seu potencial, o álbum ainda é um dos melhores de sua era. Mesmo fluindo por diversos gêneros, não deixa a desejar em nenhuma das sonoridades e influências.

Para fãs de: Bring Me The Horizon, Sleep Token, PVRIS