Low Hum – aka Collin Desha – é um daqueles artistas cuja sonoridade transcende fronteiras, fundindo elementos de diversos gêneros e fluindo pelo horizonte musical de uma forma que se assemelha a surfar – analogia que ele mesmo usa para descrever seu processo criativo.

Em sua essência, a sonoridade é indie rock, mas também é psicodélica. Ao mesmo tempo, encontra espaço para mesclar de forma caleidoscópica as delicadezas do dream-pop, o peso dos riffs do rock alternativo, os sintetizadores eletrizantes e, por fim, mas não menos impactantes, as letras que constroem uma narrativa distinta para cada um de seus trabalhos.

Suas composições capturam a beleza de uma experiência humana que não deseja pertencer a nenhum espaço em específico. Para Low Hum, a paz habita no desconhecido, e essa ideia é a que permeia seu novo trabalho, Terra Incognita.

Trajetória

Experimentação sempre foi a palavra-chave para a arte de Collin Desha. Isso se reflete bastante durante seus primeiros anos de carreira sob o nome artístico Low Hum, entre 2016 e 2018, com o lançamento de alguns singles soltos.

Não é que estes sejam desprendidos do conjunto da obra, mas é inegável que eles exprimem uma energia ainda muito tímida, como se Desha quisesse ver o quão profunda eram as águas de sua criação antes de pular de cabeça.

Já em uma fase mais confiante, o primeiro EP veio em 2018, nomeado lowhum, com faixas que, no ano seguinte, passaram a integrar Room to Breathe, seu definitivo álbum de estreia. Com o lançamento, Low Hum estabeleceu sua reputação como um talento a ser observado, combinando letras poéticas e arranjos sonoros cativantes em músicas como “Strange Love”, “Sunburns” e a delirante “Comatose”.  

Todos esses anos de exploração – e mais alguns lançamentos – culminaram em Terra Incognita.

Por dentro do álbum

Terra Incognita é cruelmente sucinto, contando com 10 faixas que totalizam quase 40 minutos de uma jornada sonora emocionante. Apesar de escasso em duração, ele é repleto de camadas intricadas que conseguem tocar no âmago daqueles que se sentem eternos exploradores da arte de viver.

O foco de Low Hum parece ter sido impulsionar suas ideias através de uma sonoridade que se amplifica, que é empilhada música após música, criando uma energia pulsante que permeia todo o álbum.

Em entrevista para a 303 Magazine, Desha contou que o novo trabalho é motivo de muito orgulho, pois é fruto de autoprodução, do começo ao fim. Entretanto, ao narrar o processo de composição das músicas, ele revela um acontecimento que poderia tê-lo desmotivado de seguir em frente com o projeto:

“[…] No meio da turnê seguinte, toda a minha música foi roubada de um assalto a uma van em Portland. Definitivamente doeu, mas cerca de 2 meses depois, eu tinha lançado 30 novas músicas/demos/experimentos, e eu realmente senti que voltei com uma vingança. Cerca de 6 meses depois, eu estava no Joshua Tree por duas semanas, produzindo 10 músicas do estúdio de Stella Mozgawa (baterista do Warpaint).”

Felizmente, Low Hum não se deixou abalar e, como resultado, recebemos o novo disco em 24 de maio de 2024, passeando por inspirações que vão desde música havaiana até punk rock, e John Steinbeck, renomado escritor americano.

Os dois primeiros singles deleitam-se nas batidas eletrônicas; enquanto “Meet Me In The Sky” traz uma atmosfera dançante mais fluída, que flerta com o dream-pop. Já “Only If You Say”, por sua vez, utiliza mais dos sintetizadores, de voz mais abafada e ritmo mais frenético para remeter à sensação de pista de dança efervescida.

“Hints” e “Dead Weight”, os outros dois singles, trazem roupagens diferentes, expressando às polaridades sonoras de Terra Incognita. Na primeira, a abordagem é de música lenta – bem no estilo I Love You, da famosa The Neighbourhood; na segunda, os arranjos contam com uma bateria que ecoa e se une à sintetizadores hipnotizantes, trazendo uma sonoridade mais sombria e introspectiva para a faixa.

O groove mais baixo e energia lenta continuam em “Sultry”, um indie rock sedutor e envolvente. Seguindo, temos “Got 2 Give”, que retoma batidas mais leves e se encaminha para um estilo eletrônico mais relaxado e flutuante. Tudo isso aliado ao timbre aveludado de Desha.

“Waiting For The Wrong Time” vem em seguida, com uma pegada divertida e psicodélica, além de distorções de guitarra que deixam tudo mais coerente. “Blinders” mantém essa aura através de camadas de som multifacetadas, que nos transporta para cenários sonoros evocativos.

“Walking Sideways (Honest Room)” começa a nos encaminhar para o final do disco, ainda apoiada em bons arranjos de guitarra, camadas vocais que se completam com harmonia e os bons e velhos sintetizadores.

Em alguns momentos, também é possível vislumbrar nuances de uma sonoridade mais voltada às raízes do artista. Portanto, as influências havaianas da infância de Desha não podem ser deixadas de lado quando buscamos compreender o conjunto de suas obras, pois elas adicionam uma dimensão única à sua arte, infundindo suas composições com uma sensação de calor verdadeiramente envolvente.

Por fim, Low Hum encerra o disco com uma energia mais otimista para a trajetória de descoberta abordada em Terra Incognita. “Your Love” começa leve e livre, com violões melodiosos. Porém, assim como acontece em diversas faixas de toda sua discografia, o artista expande sua paleta sonora para incluir novos elementos eletrônicos e experimentais. Assim, colocando um ponto de virada, bem como ritmos que se complementam, resultando em um pop refrescante como maresia.

Conclusão

À medida que sua carreira continua a florescer, é evidente que Desha e sua mistureba experimental estão destinados a deixar uma marca indelével na música indie contemporânea. A maior prova disso é Terra Incognita, um projeto que vem para expandir ainda mais os horizontes do artista.

A partir de uma mistura distinta de melodias etéreas e batidas pulsantes, o álbum reflete a evolução contínua do artista como músico e compositor, nos oferecendo uma jornada sonora cativante através das paisagens emocionais de Low Hum.

Para fãs de: The Neighbourhood, The Technicolors, Sir Sly e Tame Impala

Escute Terra Incognita: