Elo de amizade e nova sonoridade: o nascimento da Bad Luv
Antiga formação da Black Days inicia nova banda com um novo vocalista e uma proposta musical como nenhuma outra
A vida é feita de ciclos e alguns finais são mais difíceis de se lidar do que outros. No entanto, há encerramentos que são mais leves de se encarar quando existe um alicerce emocional que pode ser encontrado em pessoas próximas. É o caso de João Bonafé, Murilo Amancio e Vitor Peracetta, anteriormente integrantes da Black Days, cuja amizade resultou em um apoio que agora dão um novo passo em sua amizade e carreira musical na banda Bad Luv.
São novos tempos e de energias renovadas, e isso fica totalmente claro ao sentar para bater um papo com o grupo que agora possui os vocais de Stéfano Loscalzo, cantor, compositor e amigo de longa data da banda. “Já passamos por vários perrengues e nunca nos estressamos. Sempre foi um apoio, e um não deixa a peteca do outro cair”, começou João Bonafé durante a entrevista exclusiva para o Downstage. “Nossa amizade é algo de família, natural.”
Sobre o momento-chave de encerrar as atividades no Black Days e iniciar um novo capítulo com a Bad Luv, os integrantes não se lamentam por águas passadas e enxergam tudo como uma renovação de ciclos. “Era algo natural para nós continuarmos juntos”, adianta João Bonafé. “Não foi o fim, vamos construir nossa jornada agora com o Tefinho.”
“Não teve dúvida. quando vimos que não íamos continuar ali, nós já falamos ‘amanhã vamos fazer algo novo’”, complementou Murilo Amancio, relembrando do momento em que o novo grupo começou a ganhar vida e sair do papel em meados de junho. Com novos grupos, iniciam-se novos conceitos, criações e todo um material para ser apresentado ao público. Sobre esse momento tão importante na carreira da Bad Luv, João não esconde que houve certo receio à princípio, mas que logo foi substituído com entusiasmo. “Sempre curti essa sensação, gosto pra caramba do momento do show, mas essa parte da criação, do começo, e depois todos os conceitos que a banda vai criando é daora demais”, revelou.
O anúncio oficial para o público aconteceu logo na primeira quinzena de agosto, quando o trio revelou o novo grupo nas redes sociais e deixou a identidade de Stéfano em sigilo, sendo revelada em primeira mão somente agora, por meio do Downstage. Mesmo assim, a banda já havia entrado em estúdio e começado a produção dos novos materiais, incluindo a faixa Eu Só Quero Ser Alguém, prevista para chegar às plataformas digitais em 17 de setembro.
“Foi muito rápido”, relembra João da entrada de Stéfano no Bad Luv. “A gente já conhecia o Tefinho de outros carnavais. Eu só conhecia ele como baterista, e quando ele lançou um cover que meu amigo mixou, eu falei ‘não acredito que esse moleque canta desse jeito!’. Foi uma surpresa boa que ficou marcado em mim pra sempre.”
“Eu tinha uma banda antes”, revela Stéfano durante o bate-papo. “Quando acabou eu desanimei, falei que não queria mais criar uma parada do zero. Mas acho que eu não faria parte de uma banda se não fosse esse rolê aqui. Sou fã, sempre falei isso pra eles. Acho que faz muito sentido de ter acontecido, era pra rolar.”
“Passou um dia e eu já tava trocando ideia com o Stéfano”, relembra Murilo, que vinha trabalhando com o agora colega de banda anteriormente. “Pedi pra ligar pra ele e ele tava dirigindo na hora.”
“Pensei que você fosse falar qualquer coisa menos isso”, brincou o músico, durante o bate-papo. “Uma semana antes de rolar tudo isso, eu tinha feito as fotos do merch do Black Days e aí eu pensei que ia falar algo sobre. Ele falou que a banda acabou e foi mó bad, mas aí do nada ele lançou só essa, assim: ‘quer fazer um projeto?’ e eu falei, ‘como assim?’ [risos].”
A entrada de Stéfano no Bad Luv choca dois mundos totalmente diferentes num trabalho só: enquanto o vocalista se aventura no chill e lo-fi em seu projeto solo, a Black Days vinha de uma carreira puxada para o hardcore. “Pra gente era natural, encaixava na nossa ideia”, comenta Bonafé sobre esse encontro de gêneros musicais. “O negócio foi além. Eu tinha uma ideia de como a gente ia soar, mas não imaginei que seria tão bom.”
O primeiro trabalho do Bad Luv ocorreu num encontro sem compromisso, em que Murilo, Bonafé e Stéfano sentaram apenas para trocar ideia sobre que direção poderiam começar a produzir novos sons. “Eu sempre consumi esse som, mas também sempre botei fé que minha voz não era pra isso”, relembra Stéfano. “Canto bastante MPB, mas quando fizemos nosso primeiro encontro e trocamos ideia, me largaram e falei ‘o que eu vou fazer?’, fiquei 100% perdido, mas ia fazer o que sempre fiz, só que combinando com eles.”
“Deu umas horinhas e chegou uma música pronta pra mim”, comenta Vitor Peracetta. “Já fiquei pilhadaço! [risos] Eu tava longe dos caras, mas quando ouvi o som, saí correndo pra São Paulo na semana seguinte pra começar a trabalhar.”
E é nessa fase que Bad Luv encontra-se no atual momento: se conhecendo, testando novos limites e, principalmente, convivendo com a energia um do outro. Contudo, é nítido para quem está de fora que a fase é leve e promissora e com muito a oferecer para o público.
“A gente tá curtindo pra caramba esse momento. ficar chateado não adianta nada”, comenta Bonafé, olhando um pouquinho para trás quando tudo começou. “Beleza, aconteceu. Não era o que a gente queria [nota dos autores: referindo-se ao fim do Black Days]. mas olha a oportunidade que a gente teve: trouxemos uma pessoa que soma pra caramba no nosso grupo, além de todo o talento dele, ele é gente boa, na paz, sereno. É disso que a gente precisa.”
“É um gás, querendo ou não é diferente”, adicionou Vitor Peracetta, comentando também sobre o embate de sons na banda. “A gente concentra o dobro de energia e é isso que vai fazer o negócio rolar.”
Nova Sonoridade
A sonoridade que vinha sendo construída dentro do Black Days desde o primeiro EP, Tempo para Sobreviver (2015), era nítido que as linhas caminhavam entre um post-hardcore, com um leve toque moderno entre os riffs e as transições dentro das 4 faixas.
No decorrer dos anos seguintes, a banda traçou uma linha temporal com basicamente um single por ano até 2019, quando lançaram o primeiro full intitulado Entidade (2019), onde é possível enxergar um novo rumo do então quarteto, tanto visualmente, quanto sonoramente. Quando são ditos novos rumos, é perceptível como a forma de se expressar liricamente, acompanhado das linhas de composição, a banda se transformou da água para o vinho, fato que culminou no lançamento do último trabalho, o EP Cyberpunk (2020), abrindo ainda mais o leque de horizontes.
Mudando de ares, horizontes e direções, a Bad Luv refez o conceito que Murilo, João e Peracetta finalizaram no último EP do Black Days, criando um universo novo, no qual aportaram dentro da galáxia artística que carrega Stéfano Loscalzo.
A pegada continua a mesma, o direcionamento moderno ainda se faz presente, mas agora é possível enxergar um pedaço mais íntimo, tranquilo e emotivo, proporcionado por Stéfano em seu baú de delicadezas sensatas e pontuais. É possível esperar um som para dançar de rostinho colado com a gata, ao mesmo tempo que aquela track que vai te fazer pensar no seu lugar de mundo. As chances são inúmeras, mas só existe uma certeza: o som da Bad Luv é único!
“O Tefinho nunca teve a oportunidade de fazer algo nessa linguagem e conseguiu com a gente”, revela João Bonafé. “A gente também tá conseguindo fazer algo que flerta com nosso lado mais pop, nosso som é algo que mistura nós três com o Tefinho, exatamente isso. Nossa cara com a pegada dele.”
“ Eu to curioso pra saber quem é a galera que vai ouvir a parada”, complementa Stéfano com suas expectativas para o lançamento, pensando no seu projeto solo homônimo. “Tem muito a minha cara essas músicas. Pode ser que meu público goste e pode ser que não goste também; tem uma galera minha que nem conhecia o Black Days, então nunca viveu nada desse estilo. Vai ser uma surpresa.”
Futuro
Olhando para frente, a Bad Luv adianta em primeira mão para o Downstage o lançamento do single Eu Só Quero Ser Alguém para o dia 17 de setembro, enquanto o próximo já tem data marcada para o dia 12 de outubro. “A gente vai lançar em singles, pode ser que isso talvez vire um EP”, revela Murilo, ainda complementando que todos os lançamentos contarão com material audiovisual.
“A ideia é entregar o pacote completo, até pra gente conseguir mostrar a gente inteiro”, adiciona João. “A arte abrange muitas paradas hoje em dia, temos que pegar tudo.”