A virada de jogo da Odeon e o pontapé para o futuro
Primeiro álbum “Game” encerra uma fase de sucesso e abre portas para um ciclo cheio de surpresas
Se tem uma palavra que pode definir a Odeon em 2022, definitivamente é game. Essas quatro letras juntas deixaram a sua marca justamente por serem a primeira canção do quarteto inteiramente cantada em português que depois, despretensiosamente, teve o primeiro verso (“essa história não tem final”) utilizado como um verdadeiro mantra para os primeiros shows, a partir de maio desse ano. Tão significativa e cheia de história, nada mais justo do que o primeiro álbum de estúdio do grupo ser batizado justamente assim: game, com 14 faixas, chega às plataformas digitais na virada desta sexta-feira, 9 de setembro.
Visto exatamente como uma virada de chave na banda, Lucas Moscardini (guitarra) e Marcelo Braga (vocais), deram mais detalhes sobre esse trabalho que não somente fecha uma fase da Odeon, como também inicia uma inteiramente nova.
“A gente estava muito receoso em relação ao português, sabe?”, comenta o vocalista em uma entrevista exclusiva ao Downstage. “E o que a gente queria passar é essa mensagem, algo encorajador, tipo para correr atrás das paradas.”
Ele continua: “Foi tudo um teste, e deu super certo. A gente viu que que pessoas até que não eram do rock, se identificaram com a mensagem, começaram a escutar a música e se identificar.”
Na época, a banda chegou a detalhar ao Downstage justamente sobre essa vontade de fazer as coisas acontecerem e testarem seus desejos como artistas. Quando chegou a hora de decidir o nome do primeiro álbum da banda, foi totalmente natural, como qualquer outro passo que a Odeon deu na carreira até então: “A gente ficou uma semana pensando, aí o primeiro nome que veio de todo mundo era game, então, tipo, é pra começar o jogo. É uma analogia do corre; o nosso primeiro passo. Então representa tudo, todo esse início, todo o nosso corre.”
Moscardini (carinhosamente chamado de Mosquinha, ou Mosca) adiciona: “Lembro da gente fazendo [a música] ficando com esse receio. Vamos cair pra dentro do português, vamos mudar, né? Tipo, vamos mudar. É sempre estranho, né? Pra galera? É então foi estranho para a gente também, e cara, foi algo positivo”, revela. “É o que a gente vive literalmente. É um lembrete pra gente essa música, certo? Que a gente literalmente continuasse seguindo. Vamos viver aí pelo que nos move.” A gente está ligado.
Falando nisso, desde game, muita coisa mudou para a Odeon: os primeiros ensaios surgiram e transformaram-se em apresentações ao vivo, com uma estreia nada tímida na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, como atração de abertura da Fresno. “Teve muita coisa que mudou porque é aquilo, né? É sair do online para ir para o presencial e a primeira coisa é, realmente vendo a galera, você não tem a menor noção do que acontece, enfim, se realmente depois as pessoas estarão lá com você”, relata Moscardini.
Ele continua: “Tipo assim: ‘pô, cara, será que alguém vai querer ir para um show, ouvir as nossas músicas?’, sabe? E tipo, a surpresa foi que sim! Realmente tem dado super certo.”
No entanto, não foi só a recepção calorosa do público em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis que surgiram como novidades para a fase “presencial”, e sim a administração logística e estrutural.
“É muito mais coisa pra fazer”, revela o guitarrista. “O Marcelinho é um cara ali do estúdio, e agora tá tendo que puxar pro ao vivo. Todo mundo está tendo que fazer isso, é uma experiência. A gente já tem de outros projetos que a gente viveu, mas com a Odeon foi completamente novo e do zero.”
Mosca e Celo até brincam, relembrando o início: “Falaram que a gente era tipo uma NFT!”
O álbum
Sonhos, estratégia e uma nova fase completamente nova: daí surge game, o primeiro disco da Odeon. “Eu acho que é um bom jeito de você pegar esses singles que já foram lançados e compactar de uma maneira que funcione bem”, explica o vocalista. “A gente tem essas outras músicas também, algumas funcionam como single, outras não.”
Além de todas as faixas já lançadas pela banda, a Odeon libera também três novas canções: baile, utilizada como intro dos shows do grupo; plot twist e fake reality, duas inéditas que estavam engavetadas há um tempo.
“É pra fechar um ciclo”, explica Celo. “Não que a gente vá ser outra banda agora, mas é sempre bom pra gente poder ter ideias novas, de ter coisas diferentes. É uma ideia que a gente estava trocando também, que a gente queria fechar com chave de ouro aí, por que não unir as obras num formato único?”
Mosca adiciona: “É um jeito também da galera que está nos conhecendo ver as músicas antigas”, pontua ele. “Isso meio que recicla para esse pessoal escutar tudo como uma obra só.”No entanto, um trabalho full é também um sonho antigo do vocalista. “É muito pessoal isso também”, observa Marcelinho. “Eu sempre quis lançar um álbum e eu nunca consegui. Eu estou muito feliz de poder tipo, finalmente fazer essa parada acontecer, então é mais uma realização pessoal também. Juntou tudo de uma vez.”
Furando a bolha
Com uma linguagem mais moderna e uma criatividade imensurável, a Odeon acabou atingindo um público não tão próximo do rock com suas músicas, seja pela abordagem nos videoclipes ou misturas inusitadas nos arranjos, flertando com o samba, funk entre outros estilos. Contudo, pensando em dialogar ainda mais com essa nova geração, um outro questionamento surge: e como acontece essa conversa nas redes sociais?
“Tantas mídias, né? Tipo, você tem que estar no TikTok aí no YouTube, não sei onde… mas é algo que a gente está aprendendo também”, comenta Moscardini. “Igual quando falamos dos shows. No início a gente lidava de uma forma, agora a gente lida de outra. Não vou falar que é algo fácil, que é algo que a gente faz com naturalidade.”
Marcelinho continua: “No nosso pessoal a gente fica mais solto, mas quando se trata de alguma coisa da banda, a gente acaba ficando um pouco mais travado e tipo assim, a gente fez alguns testes lá no TikTok e tipo… o que a gente vai fazer, tá ligado? [risos] Só tocar acho que não sirva 100%, né?”
“Vamos ver no que vai dar”, relata o guitarrista. “A gente fez uns conteúdos idiotas lá e foi engraçado. Foi legal pra caralho e eu adorei fazer, o Marcelinho também. Foi algo muito simples e rápido de fazer assim, só que a gente ainda não se estruturou para de fato, deixar isso recorrente, sabe? Mas é algo que a gente quer muito, porque a gente sabe que o público que escuta a música, que é jovem, tá no TikTok, então a gente tem que estar lá.”
Celo brinca, no final: “Não tem jeito. A gente vai ter que fazer dancinha.”
Próximos passos
“Acabando esse ciclo a gente já tem coisas para lançar”, já adianta Celo. “As ideias não acabam nunca.”
Ou seja: no fim de 2022 os fãs da Odeon podem esperar muitas novidades musicais, shows entre outras surpresas. A banda apresenta-se em novembro no Oxigênio Festival, em São Paulo, e também podemos adiantar que há uma data em outubro no Rio de Janeiro para ser divulgada em breve. Mesmo assim, o quarteto adianta que está de olho em outras cidades brasileiras: “Com certeza a gente vai estar rodando aí”, continua o vocalista.
Para 2023, Moscardini adiciona: “a gente está querendo fazer algumas turnêzinhas com outras bandas amigas, mais algumas colaborações, quem sabe esse ano, quem sabe no início do ano que vem.”
Entretanto, a grande novidade fica justamente para as bandas e artistas iniciantes: um workshop imersivo está para acontecer, tanto presencial quanto online, para a Odeon passar e compartilhar sua vivência como banda.
“A galera vai entender literalmente do zero, como é que foi estruturar a banda, como é que foi fazer dinheiro com a banda, parte técnica, produção, show, tudo isso daí a galera vai aprender com a gente”, comenta Marcelinho. “Vai ser um dia inteiro, uma imersão com nós quatro juntos, desde a parte estrutural, mídias sociais, tudo.”
Moscadini adiciona: “A gente tem muita experiência, cara, cada um aí tipo, sozinho, tem mais de 15 anos de de carreira de estrada, de corre, de game”, explica. “A gente está doido pra dividir isso com a galera, porque a galera pergunta muito, isso é uma das coisas que a gente tem na gaveta e vai finalmente sair.”