O que é Horror Punk?
Misturando punk rock com a temática de horror, o gênero é perfeito para os amantes de música e terror. Além de ser a trilha sonora ideal para o seu Halloween
A temática do horror sempre esteve presente dentro do rock. Grandes nomes do gênero incorporavam elementos do universo do terror, além de outras vertentes que também conversavam com a temática, como o Sci-Fi, livros pulp e histórias em quadrinhos. O punk rock em específico, abraçou a temática do horror e deu origem a mais um subgênero em seu até então, pequeno catálogo (que em pouco tempo iria se expandir e dar origem a inúmeras categorias como o pós-punk, street-punk entre outros). Nascia então o Horror Punk, onde a sonoridade do punk rock se fundia com a temática e a estética de terror.
Outros artistas já haviam implementado elementos de horror em seus trabalhos. O Alice Cooper trouxe em sua carreira solo toda uma estética teatral que se tornava um show de horrores no palco, além do conteúdo sombrio presente em suas músicas. O Kiss se apresentava com maquiagens, que para a época, eram assustadoras e chocantes. Além de ter uma atitude aterrorizante e conversarem com o universo das histórias em quadrinhos.
Mas foi em meados dos anos 70, em plena explosão do punk rock, que o horror punk ganharia vida.
Misfits: A banda que juntou punk rock e o universo do horror
Em 1977, no auge do punk rock, uma banda formada em Lodi, Nova Jérsei, seria creditada como criadora do Horror Punk, a banda em questão é o Misfits. A banda prezava por uma sonoridade rápida e cru, com toda a energia que o punk rock da época oferecia, mas o seu principal diferencial estava presente no tema das músicas, inspirados por filmes de terror e sua estética. O nome da banda foi tirado do último filme estrelado pela atriz Marilyn Monroe. O icônico logotipo do Misfits teve inspiração na série policial de 1946, The Crimson Ghost. O vocalista Glenn Danzig adaptou as imagens da caveira e deu o nome de Fiend Skull, que acabou aparecendo na capa do single Horror Business (1979).
Além das temáticas envolvendo filmes de terror, zumbis e ficção científica, o Misfits ainda contava com toda uma estética personalizada. Os integrantes tocavam maquiados e criaram o penteado Devilock, onde Danzig se inspirou no corte de cabelo de Elvis Presley. Mas o vocalista imaginou uma versão zumbi do rei do rock, deixando a franja para baixo, ao contrário de Elvis.
O Misfits não teve o devido reconhecimento em seu início de carreira, o que levou a banda a encerrar suas atividades em 1983. Posteriormente, acabaram influenciando diversas bandas dentro e fora do cenário punk, o que levou o grupo a retomar suas atividades em 1995, com Michale Graves assumindo os vocais. Com o lançamentos dos álbuns American Psycho (1997) e Famous Monsters (1999), o Misfits finalmente ganhou o devido reconhecimento na cena musical e permanece em atividade desde então. A banda passou por diversas mudanças em sua formação e atualmente conta com boa parte dos integrantes, sendo composta por Glenn Danzig, Jerry Only, Doyle Wolfgang von Frankestein e Dave Lombardo.
A banda é a maior referência quando o assunto é horror punk, já que foi a pioneira em mesclar o punk com o universo do terror, além de criar uma estética visual única e que serviu de base para inúmeras bandas.
Alguns dos principais nomes do gênero
Com o retorno do Misfits em 1995, o Horror Punk começou a ganhar mais evidência e novas bandas começaram a surgir. O gênero também começou a flertar com outras sonoridades, mas sempre mantendo a essência do punk e a estética de terror. No Brasil, o Zumbis do Espaço se tornou o principal representante do estilo, colocando altas doses de horror em seus álbuns, que seguiam a cartilha do gênero fielmente.
O Zumbis não escondia suas fortes influências de bandas como Misfits e Ramones, mas sempre teve sua personalidade própria. A banda sempre abordou temas como filmes de terror, filmes B, ficção científica, entre outras temáticas que são clássicas do Horror Punk. O Zumbis do Espaço conta com uma discografia extensa e recheada de clássicos como Nos Braços da Vampira, O Mal Nunca Morre, Satan Chegou, Dia dos Mortos entre outros. A banda era figurinha carimbada no especial de Halloween do Hangar 110, casa de shows clássica da região de São Paulo e um dos lugares mais importantes do underground brasileiro.
O Horror Punk fez barulho até no Japão, onde figura um dos grandes representantes do gênero, o BALZAC. Fortemente influenciada por Misfits e Samhain, a banda também vai além da música e incorpora a estética visual do estilo, tornando tudo mais imersivo. O BALZAC extrapolou a música e lançou suas próprias marcas de roupas, além de lançarem seu próprio selo musical chamado Evilegend 13. A sonoridade da banda flertou com outros gêneros musicais ao longo dos anos como o industrial, pop e o noise.
Outro grande expoente do segmento é o Blitzkid. Banda americana formada em Bluefield, West Virginia, iniciou suas atividades em 1997, e após permanecer inativa por alguns anos, voltaram a ativa em 2019. O Blitzkid tem uma abordagem melódica, o que traz todo um diferencial para o seu som, além de também prezar pela estética visual. Liderada pelo guitarrista/vocalista TB Monstrosity e baixista/vocalista Argyle Goolsby, a banda sempre teve a pretensão de ser grande, motivação que de fato levou o Blitzkid a se tornar um dos principais nomes ligados ao Horror Punk.
Glenn Danzig ao sair do Misfits deu origem a outra banda de horror punk, o Samhain, que também figura entre as mais influentes e posteriormente mudaria de nome para Danzig. O Samhain foi um dos primeiros grupos de horror punk a flertar com outros tipos de sonoridades, mesclando punk, metal e rock gótico. O nome foi inspirado no ano novo Celta e suas letras eram mais sombrias, abordando temas como paganismo e ocultismo.
Esses são apenas alguns do nomes mais importantes dentro do gênero. A lista de bandas com essa sonoridade e estética é bem longa, mas é importante pontuar que assim como qualquer estilo musical, o Horror Punk também se expandiu e flertou com outras vertentes.
O flerte com diferentes sonoridades
O Horror Punk também se difundiu entre outros gêneros musicais, dando origem a projetos diferentes e criativos. Um gênero que é frequentemente associado ao horror punk é o Psychobilly, onde o punk rock se mistura com o rockabilly, mantendo as referências à filmes de terror e também abordando temas como violência, sexualidade lúgubre e outros tópicos peculiares. As músicas geralmente contém um tom cômico e divertido, não levando a sério as temáticas abordadas.
Um dos precursores do gênero é o The Cramps, banda formada em 1976, tendo como principais membros o casal Lux Interior e Poison Ivy. O Cramps misturava psychobilly com garage rock e acabou se tornando uma forte influência para bandas como o Tiger Army e o Nekromantix, que viriam a mesclar horror punk ao estilo.
Outra banda que merece atenção é o Murderdolls, projeto idealizado por Joey Jordison (ex-Slipknot), que mistura Horror Punk e hard rock. Além da sonoridade, a banda também trazia essa mistura em seu visual, parecendo uma banda de glam rock zumbi. O grupo colocava uma boa dose de ironia em suas músicas e cantava sobre temas como necrofilia, travestis, roubo de túmulos, filmes de terror e outros tópicos peculiares e recheados de humor.
O vocalista do Murderdolls é um grande representante do Horror Punk. Joseph Michael Poole, conhecido como Wednesday 13, lançou vários discos em carreira solo, além de cantar nas bandas Bourbon Crow, Gunfire 76 e Frankenstein Drag Queens from Planet 13. Em todos os seus projetos, Wednesday 13 sempre colocou uma boa dose de Horror Punk ao explorar outras vertentes como o heavy metal, gothic metal, hardcore, glam metal, hard rock e outlaw country.
O encontro com diferentes sonoridades era inevitável e rendeu inúmeros projetos, sempre mantendo a essência do Horror Punk e respeitando suas principais influências.
O Horror Punk na atualidade
O Horror Punk ainda conta com bandas da velha guarda em atividade, como o próprio Misfits, mas também gerou novas crias do cemitério, que continuam enaltecendo a temática de terror e atualizando a sonoridade. O AFI, banda consagrada que começou no punk rock e hoje faz um som alternativo e com influências de post-punk, também já flertou com o Horror Punk. A banda chegou a lançar um EP chamado All Hollow’s, onde a capa faz uma referência direta a época onde se comemora o dia das bruxas, além de contar com um cover de Misfits da música Halloween.
Misturando post-hardcore, emo e horror punk, o Aiden é uma das bandas que manteve a chama do gênero viva no começo dos anos 2000. O grupo também apostava no visual sombrio e que buscava inspiração no gótico, além de ter uma estética sombria. A banda encerrou suas atividades em 2016, mas deixou a marca do Horror Punk em sua discografia, que conta com trabalhos interessantes e com um ótimo nível de qualidade.
Uma das bandas mais recentes a incorporar elementos do Horror Punk é o Creeper. O grupo mescla ao gênero outras vertentes como emo, gothic rock e glam rock, fazendo tudo soar moderno e atual. É bem perceptível as influências de nomes clássicos como Misfits e The Cramps, assim como a de bandas atuais como AFI, Alkaline Trio e Tiger Army. O resultado é um horror emo gótico moderno e muito atrativo.
Sem dúvidas o Horror Punk é um estilo musical extremamente influente e interessante. Suas características e estética são inconfundíveis e proporcionam uma boa dose de entretenimento musical. Todo o universo do terror é reverenciado e homenageado por bandas que tinham uma forte conexão com essa atmosfera sombria e assustadora, mas que também guardava um humor bem peculiar e único. Se existe uma trilha sonora perfeita para ouvir no Halloween, sem dúvidas é o Horror Punk.