Bullet Bane explora feridas abertas em quarto álbum de estúdio
BLLT é honesto, maduro e direto ao ponto
A pandemia de COVID-19 deixou cicatrizes em todos nós, que hora ou outra doem como se estivessem sendo abertas. Muitas vezes, a arte serviu não apenas como um escapismo, mas também como um meio de sobrevivência para a tamanha carga mental que o isolamento social exigiu.
O Bullet Bane, por quase dois anos, foi um método de sobrevivência e alicerce emocional para todos os integrantes. Foi de tanto guardar e viajar para dentro de si que a banda explodiu-se na força do sentir para dar vida ao primeiro single dessa nova Era — e que não ironicamente, chama-se justamente Sentir.
De tanta autoanálise e críticas, o amadurecimento foi quase forçado pela gritaria mental incessante durante 2020 e 2021. Nesse caos interno, surgia o quarto disco de estúdio da banda paulistana. Escrito, produzido e gravado num sítio em que os integrantes isolaram-se para dar vida à criatividade e todas as palavras mantidas na garganta por quase dois anos. É o trabalho mais sincero do grupo, o que não torna nada à toa levar justamente o nome de BLLT.
Esse desabafo lírico começa ao ler a tracklist, sem nem ao menos o play mostrar-se necessário. Pra não ter que enxergar onde errei abre as portas para um relato humano sem julgamentos, cujo primeiro verso de todo o disco é “já falhei”. O eu lírico aqui assume seus erros sem a menor cerimônia, e já deixa claro o que virá adiante: uma série de depoimentos e emoções desafogadas.
Esse vazio ocupa TANTO ESPAÇO segue a mesma linha de intensidade da antecessora, propondo um jogo de opostos ao longo de toda a letra. O Bullet Bane viaja em sua própria ansiedade e calmaria durante a faixa, brincando com contrastes e palavras que se contrariam, transmitindo exatamente a mesma atmosfera de desordem emocional que o eu lírico se encontra.
Sentir explode no mais puro e genuíno significado da palavra. É a introdução para o segundo ato do disco, que logo toma um tom totalmente diferente em cancela o replay — a mais curta faixa do disco, que pode até soar estranha para quem acompanhou o Bullet Bane na época de Continental.
Deja Vu carrega os elementos eletrônicos apresentados na música anterior, mas traz um pouco mais de peso. Arthur Mutanen usa e abusa dos vocais sussurrados e contrasta com os berros pontuais, dispostos a acordar o eu lírico.
É justamente nisso que essa faixa brinca: acordar um corpo e uma mente dormente. Para isso, a letra revisita cada um dos cinco sentidos do ser humano, propõe entrar em contato com a dor e até zomba dos riscos da mesma. Tudo isso feito repetidas vezes, a fim de dar a sensação que dá o nome à canção.
Organizando MEU VAZIO vira outra chave da narrativa de BLLT. Dessa vez, o eu lírico derrama-se em suas próprias palavras, mais exposto do que nunca, mas aberto às mudanças que virão. É a segunda vez que a banda repete “vazio” na tracklist, mas ao contrário da música dois, a faixa seis traz um outro significado; como se fosse uma nova descoberta.
Aqui, Bullet Bane propõe abrir o sol em seu próprio céu nublado. A dor já não é mais algo presente e familiar, e é exatamente este o gancho de Lembro quando começou, com Lucas Silveira, já liberada anteriormente como single. Agora a dor é passado, mas está presente como cicatriz justamente para o eu lírico nunca se esquecer de tudo o que já passou e onde o caminho o fez chegar.
NO FIM, Talvez encerra a história, mas inicia uma nova Era para o quinteto paulistano. São novos ares, seja para um período pandêmico que deixou o futuro incerto, um país que caminha para tirar um presidente que não nos representa do poder ou passos mais simples e significativos, como o simples fato de conseguir levantar da cama pela manhã. O que importa, no final das contas, é que o ontem passou, machucou e hoje cicatriza. Vemos um eu lírico com mais maturidade e aberto, mas sobretudo a viver intensamente e contar novas histórias.
Para fãs de: blessthefall, Hands Like Houses e Our Last Night