Brujeria revisita o passado enquanto olha para o futuro

Banda trouxe para o Brasil a turnê comemorativa de 30 anos do álbum Matando Güeros e se prepara para lançar seu disco novo, Esto Es Brujeria

Um dos maiores nomes do deathgrind e da música pesada retornou ao Brasil. O Brujeria desembarcou em terras brasileiras no mês de agosto com sua turnê comemorativa de 30 anos de seu disco de estreia, o brutal e impactante Matando Güeros (1993). Em paralelo a turnê, o grupo ainda se prepara para lançar seu mais novo trabalho, o álbum Esto Es Brujeria, com lançamento previsto para o dia 15 de setembro.

Foto: Hannah Verbeuren

Formada por músicos estadunidenses de origem latina em 1989, em Tijuana, o Brujeria fez seu nome no cenário da música pesada abordando temáticas satanistas, sobre drogas, imigração, política, sexo e anticristianismo. O grupo se apresentava com pseudônimos, criando o mito de serem traficantes de drogas, o que numa época onde a internet não tinha a potência atual e a informação era algo de difícil alcance, as polêmicas envolta da banda ganharam uma grande proporção.

Com grandes nomes do metal passando por sua formação como Dino Cazares (Fear Factory), Shane Embury (Napalm Death), Billy Gould (Faith No More), Jeff Walker (Carcass), entre outros, a banda atualmente é formada por Juan Brujo, Pinche Peach, Hongo, Fantasma, El Sangrón, El Criminal e Podrido.

Em entrevista ao Downstage, Juan Brujo, vocalista e único membro original, comentou sobre a turnê comemorativa de Matando Güeros e o lançamento do álbum Esto Es Brujeria.

30 anos do clássico Matando Güeros

Imagem: Roadrunner Records

Em 1993, o Brujeria lançava o seu brutal e chocante disco de estreia, Matando Güeros. O álbum teve um forte impacto na cena da música extrema, tanto pelas temáticas de suas músicas, que abordavam temas como satanismo, sexo, drogas, imigração, como por sua capa assustadora e agressiva. A imagem que ilustrava a capa do disco trazia uma cabeça decapitada, retirada do jornal sensacionalista mexicano “¡Alarma!”. Após 30 anos de seu lançamento, Matando Güeros se tornou um clássico não só na discografia do Brujeria, como entre os discos de música pesada da década de 90.

Ao revisitar a obra após três décadas de seu lançamento, o vocalista Juan Brujo comenta como é louco revisitar o álbum todo ao vivo. “Bem, nós nunca tocamos o álbum todo , você sabe, ao vivo. E nós estamos fazendo isso agora e é louco. Está funcionando. Ele bate muito forte e rápido e é como se fosse novo. As pessoas não nos viram tocar todas essas músicas que fizemos naquela época e funciona muito bem, você sabe, ao vivo. E sim, estou dizendo a vocês, as pessoas têm que ir ver o show porque não vamos fazer isso de novo daqui a 60 anos, eu não sei. Então é melhor eles irem agora.”

Tendo se apresentado no Brasil oito vezes e já estando familiarizado com a energia do público brasileiro nos shows, Juan Brujo possuia grandes expectativas para a turnê comemorativa de Matando Güeros, que passou por oito cidades durante o mês de agosto, sendo elas: Santos (18), Curitiba (19), Espírito Santo (20), Belo Horizonte (22), Brasília (23), Rio de Janeiro (25), São Paulo (26) e Florianópolis (27).

Brujo comentou sobre shows insanos, com os fãs ficando doidos e se divertindo, como uma verdadeira celebração, além de saber que as pessoas saem felizes dos shows do Brujeria. “As pessoas acham que vai ser negativo e ruim, mas quando saem, ficam todos felizes e gostam de como foi bom e blá, blá, blá. Você sabe, nós mudamos assim, levamos eles do mal para o bem e todos ficam felizes. Eles não sabem o que aconteceu, mas eles estão felizes.”

O vocalista confessou que Matando Güeros é seu trabalho favorito na discografia do Brujeria e relembrou como foi gravar o álbum na época. “Era como se tivéssemos um orçamento de US$ 800 e gastamos metade em drogas. Então, gravamos por cerca de US$ 400,00 ou algo assim. E parece uma loucura, quer dizer, ainda é! Você ainda pode ouvir e parece uma loucura e tocá-la ao vivo é ainda melhor. Quer dizer, eu não conseguia acreditar que podíamos tocar as músicas e soarem tão boas. Talvez seja isso que o torna tão especial.”

Essa é uma oportunidade única para os fãs da banda presenciarem algumas músicas sendo tocadas ao vivo pela primeira vez. A turnê promete ser muito especial e uma explosão de energia e brutalidade. “É como ‘Booom’, 30 minutos do mais louco death metal old school”, promete Juan Brujo.

Esto es Brujeria

O Brujeria se prepara para lançar seu quinto álbum de estúdio. Esto es Brujeria tem seu lançamento previsto para o dia 15 de setembro, deixando os fãs da banda ansiosos com o sucessor de Potcho Aztlan, lançado em 2016. Com a pandemia, a banda teve que se adaptar ao “novo” modo de compor e gravar músicas. “Bom, com a COVID, foi muito tipo, enviar faixas aqui, gravar ali, fazer os vocais aqui e, sabe, juntar as coisas. Nunca fizemos algo assim, onde você simplesmente envia para diferentes pessoas que fazem a sua parte e tal. Então é estranho, é estranho fazer isso dessa forma, em um computador e tudo mais. Sempre fizemos coisas como gravações de oito faixas, coisas desse tipo.”, comenta Ruan Brujo.

O vocalista confessou que prefere o modo antigo de gravar e compor álbuns. “Eu adoro apenas chegar lá, compor e gravar as músicas no mesmo dia. O 1º e o 2º álbuns fizemos dessa maneira, aparecemos, “o que você tem escrito? nada”, então compomos as músicas e as gravamos, sabe, bem rápido e como saíram. É assim que se faz uma faixa, uma gravação única de vocais e é assim que fica. Sem ensaios, sem refazer. Apenas tínhamos que fazer um álbum inteiro em cerca de 3 dias, e as pessoas estavam festejando no estúdio.”

A banda que causou impacto com a capa de seu primeiro disco, o já clássico Matando Güeros, que acabou sendo banido em 22 países em seu lançamento, agora já não se importa mais em querer chocar com corpos decapitados nas artes. “É difícil competir com todas as milhões de bandas que fizeram essas coisas agora. E sendo mais velho agora, tipo, não me importo muito de mostrar uma cabeça cortada, sabe, um corpo morto na capa. Então, temos uma coisa de Deus Asteca na nossa nova capa, e esse é o Deus da morte.”

Mesmo com trabalhos tão impactantes, Brujo confessa que nunca foi algo pensado, eles sempre faziam o que sentiam sem se preocupar se isso iria causar algum impacto nas pessoas ou não. O vocalista gostaria que os ouvintes aprendessem um pouco de espanhol para aproveitar ainda mais a experiência de ouvir as músicas do Brujeria, já que a banda fala de tópicos que conversam com problemáticas parecidas com as do Brasil. “Tivemos o Trump, vocês tiveram o Bolsonaro. Tudo ficou uma bagunça. Tudo ficou uma bagunça. Colocou os países 50 anos para trás.”

As músicas com letras direcionadas ao Trump tiveram suas consequências e o vocalista relembra o acontecido. “Sabe, o Trump enviou sua polícia do Serviço Secreto para minha casa com coletes à prova de balas e armas para me prender. Eu fiz dois singles sobre o Trump e ele veio atrás de mim, para me prender e tudo mais. Mas, no final, eu disse, sim, me leve para a cadeia e me torne famoso. Vou aparecer na CNN. Eu quero estar na CNN. E foi aí que eles riram. Eles apenas balançaram a cabeça e riram e disseram, OK, estamos indo embora. É bem louco quando eles vêm com armas até sua porta.”

A banda buscou experimentar coisas novas em seu novo trabalho, mas sem deixar de soar como o Brujeria. “Queríamos fazer algo um pouco diferente, temos uma música com trompas mexicanas e tentamos coisas diferentes para ver onde ia. E principalmente, tratamos dos tópicos que tornam tudo isso (a musicalidade do Brujeria) funcional. Sabe, ter algo interessante ou engraçado sobre o que cantamos é o que mantém tudo acontecendo.”, comenta Brujo.

Come to Brazil, Brujeria!

A turnê que celebra os 30 anos do disco Matando Güeros teve início no dia 18 de agosto. A banda tocou o álbum na íntegra e mais alguns clássicos da discografia do Brujeria. Brujo já havia revelado que não iria tocar músicas inéditas durante a turnê, já que o disco novo ainda não foi lançado. Mas o vocalista confirmou que vão fazer uma turnê divulgando Esto es Brujeria em 2024 e que um retorno ao Brasil está nos planos. “Sim, estaremos fazendo turnês no próximo ano com o novo álbum e tudo mais. Vai ser bom, e definitivamente vamos passar por aí.”