O movimento inabalável do metal: Dino Cazares garante vida longa a Fear Factory

Guitarrista e co-fundador da banda conversa com o Downstage sobre a turnê pela América Latina e Brasil, próximos lançamentos e produção de novo álbum

Arte: Tayna Viana / Downstage

Estabelecida desde os anos 90 como uma das maiores bandas dentro do metal, a Fear Factory segue construindo seu legado e sua extensa discografia junto de uma base de ouvintes fieis que acompanham o grupo há três décadas. Com show único realizado em São Paulo no dia 6 de junho, Dino Cazares, guitarrista e co-fundador da banda, prometeu uma performance memorável para os fãs que, observando o histórico e a experiência da banda, é possível dizer com muita confiança que foi entregue à altura.

Foto: Stephanie Cabral

A banda veio para o Brasil pela última vez em 2015, em turnê que comemorou os 20 anos do álbum Demanufacture, um dos primeiros lançamentos do grupo. Em entrevista para o Downstage, Dino expressou sua animação ao voltar para a América Latina e América do Sul depois de tanto tempo. “Eu amo visitar a Argentina, o Chile, o Brasil… Amo essas partes do mundo. Vai ser incrível e eu mal posso esperar.” Após o show no Brasil, a próxima parada da turnê é na Argentina e será encerrada dia 11 de junho, no Uruguai.

A Fear Factory passou por momentos difíceis em 2020, quando o vocalista e co-fundador Burton C. Bell decidiu deixar a banda e seguir carreira solo. No auge da pandemia, Cazares passou por um longo processo – totalmente online – para a seleção de um novo vocalista para assumir a frente do grupo. Em fevereiro deste ano, Milo Silvestro teve seu debut preenchendo a posição e inaugurando uma nova era para a banda. 

“O cara é incrível, muito talentoso. Canta muito. Desde o começo eu sabia que ele conseguiria”, conta Dino. “Mas ele não teve muita experiência no palco antes. Nosso primeiro show foi dia 25 de fevereiro e ele foi ótimo. Ele fica melhor a cada show, e é engraçado porque nós contamos quantos shows fizemos com ele e foram apenas 48 até agora”, complementa o guitarrista.  

Foto: Israel Martínez

REVISITANDO PROJETOS ANTERIORES

Re-industralized e Mechanize são os próximos lançamentos da banda, disponíveis dia 23 de junho. São re-produções de dois discos antigos, Mechanize, de 2010, e The Industrialist de 2012. Dino revela que, em 2012, eles não tinham um baterista e acabaram tendo que recorrer à programas de computador para criar o som do álbum. Na época a utilização desse recurso gerou repercussões negativas e, com o relançamento, a bateria será autêntica, entregando aos fãs opções para escutar o álbum – tanto a versão antiga quanto a remasterizada estarão disponíveis.  

Além do novo som, Re-Industrialized também trará músicas inéditas e bonus tracks. Uma delas é Enhanced Reality, que faz parte da tracklist de Genexus, álbum lançado em 2015. “Por algum motivo, ela não foi produzida a tempo para fechar The Industrialist, então entrou para o álbum seguinte. Agora conseguiremos colocá-la em seu lugar certo, fechando o disco em sua sequência original com essa track de encerramento épica – que é nossa assinatura”, explica Cazares.

Mechanize também contará com músicas novas. Uma delas é Sangre de Niños, baseada em histórias que o grupo ouviu das crianças brasileiras que vivem na rua, sem lares, e precisam fazer o que é preciso para sobreviver – seja roubando comida ou se locomovendo de formas perigosas como se pendurando ou pulando em cima de ônibus – e policiais as matavam à sangue frio. “A gente escuta histórias e queremos escrever sobre elas. Algumas delas te afetam muito”, conta Dino. 

Originalmente, a track pertencia ao primeiro álbum da banda, Concrete. Ao assinarem com a Roadrunner Records em 1992, Soul of a New Machine foi lançado em seu lugar, e várias músicas não viram a luz do dia – e, agora, serão lançadas no Mechanize

THE MACHINE WILL RISE 

Foto: Stephanie Cabral

O nome da turnê que trouxe a Fear Factory ao Brasil novamente é The Machine Will Rise. O paralelo entre o metal e a tecnologia, a “máquina”, é algo muito presente e característico da banda desde o começo de sua trajetória. Tanto as artes das capas dos álbuns quanto as temáticas e narrativas dentro das músicas abordam elementos futuristas e a evolução da tecnologia ao longo dos anos. 

O grupo trazia esses temas à tona antes mesmo da tecnologia ter efetivamente se desenvolvido ao seu maior potencial e ficado tão rápida como agora. Obsolete, de 1998, dá luz à possibilidade de algumas profissões sumirem, não terem mais função, com o avanço tecnológico. “A gente teve sorte em ver tudo mudar. E, até mesmo antes, sempre fomos muito fãs de filmes de ficção científica e acompanhávamos previsões do futuro, então muito disso foi para a letra das nossas músicas”, conta o guitarrista. “É só questão de tempo para que nós comecemos a andar com robôs na rua. Eu espero estar vivo para ver tudo isso.”

Entretanto, a relação dos trabalhos da banda com essa temática não se restringe apenas ao lado artístico e profissional. Dino revela que, além de tudo, também vem de um espaço pessoal. “Nós passamos por muita coisa ao longo dos anos. Os últimos 30 anos foram loucos. É uma montanha russa de altos e baixos, e às vezes os altos são muito altos e os baixos são muito baixos, sabe?”, desabafa. “Estamos felizes que conseguimos fazer isso funcionar, continuamos e podemos falar de uma maneira positiva que nós iremos levantar novamente. Vai acontecer, eu consigo sentir.”

Dino Cazares afirma que os fãs verão muito da Fear Factory ainda. Após a turnê pela América Latina e Brasil e algumas semanas de férias, entrarão no estúdio em julho para começar a gravar um novo disco. No final da conversa, Dino agradeceu o apoio dos fãs e demonstrou novamente seu entusiasmo ao voltar para o país. “Vamos tocar muitas músicas para vocês”, prometeu Cazares. A setlist contou com músicas da maioria dos álbuns da banda, entregando aos fãs momentos especiais de praticamente toda sua discografia.

Além da empolgação para o show, o guitarrista também revelou seus maiores desejos ao pousar em solo brasileiro: tomar caipirinhas e visitar as famosas churrascarias do Brasil.  

E, para os fãs da banda, Dino Cazares deixou uma recomendação de banda que “vale a pena dar uma chance” para os leitores do Downstage: Svalbard é um grupo da Inglaterra que mistura black metal com melancolia e é uma indicação especial do guitarrista.