20 anos de Fallen: o disco que trouxe vida ao Evanescence e tornou-se imortal

Duas décadas após seu lançamento, Fallen continua sendo um dos álbuns mais memoráveis quando se fala de metal gótico

Arte: Tayna Viana / Downstage

 “We’ve all fallen, but at the same time, we’re not broken. There is the hint that we are going to get up again” — Amy Lee

No começo dos anos 2000, em uma cena de rock e heavy metal totalmente dominada pelos homens, Evanescence se destacou já em seu primeiro álbum: 4 de março de 2003, Fallen foi a estreia de uma banda com uma mulher de 21 anos como vocalista.

O disco foi lançado com 11 faixas — sendo relançado em 2004 com uma nova versão de My Immortal, totalizando 12 músicas — e, junto aos vocais de Amy Lee, apresenta a banda dentro do metal gótico e hard rock com uma narrativa melancólica, sombria e, acima de tudo, extremamente crua e sincera. Um desabafo de 48 minutos e 46 segundos exposto a todos que escutam.

(Foto: Reprodução / Evanescence)

MULHERES NO METAL DOS ANOS 2000

Linkin Park, Limp Bizkit, Slipknot, Papa Roach, System Of A Down, Rage Against the Machine… A cena do heavy metal, principalmente as bandas que a crítica traçava comparações com Evanescence, era, em sua maioria, composta por homens, ainda mais observando o mainstream dos Estados Unidos. 

Quando falamos do começo do Evanescence, simbolizado pelo lançamento do Fallen, é impossível não falar também do começo de uma maior representação da mulher dentro de um espaço musical extremamente masculino. Tão masculino que Amy Lee teve que lutar para manter seu lugar.

A banda assinou com a Wind-up Records em 2001, gravadora que produziu os três primeiros álbuns. Entre 2002 e 2005, durante a produção de Fallen e os primeiros anos do Evanescence como banda consolidada, uma mulher ser a única voz em um disco era um problema. Inicialmente, a Wind-up Records se recusou a lançar o álbum sem que a banda tivesse um rapper como membro oficial e participação em 8 das 11 músicas. Amy não aceitou essa condição, porém, se comprometeu a adicionar um vocal masculino no single Bring Me to Life. Ela conta, anos depois, que fazer isso foi muito difícil e sentiu como se tivesse feito um sacrifício pela sua arte já no começo de sua carreira. 

Depois do lançamento de Fallen, um dos maiores consensos dentro das críticas musicais, sendo positivas ou negativas, era sobre a voz feminina e “angelical” da Amy, que, de acordo com Kirk Miller da Rolling Stone, entrega ao álbum um “tom espiritual e assustador” que falta nos “novos caras do metal”. 

O DISCO

O álbum abre logo de cara com os três primeiros singles lançados. O quarto single é My Immortal – Band Version, que foi adicionado no disco um ano depois do lançamento, sendo a 12ª track. 

Going Under apresenta o Fallen com guitarra pesada e bateria à altura, característico do hard rock, junto aos vocais raivosos da Amy. O álbum inteiro trabalha com efeitos quase que fantasmagóricos, assombrosos, como se o ouvinte estivesse dentro da cabeça da vocalista, e a primeira música já traz um pouco disso: So I don’t know what’s real and what’s not — sussurros entrepostos no meio da track trazem uma sensação de delírio, que é constante no disco inteiro. 

Dentre os singles, muito se fala sobre Bring Me To Life, e, apesar de ser a música mais conhecida do Evanescence, não é a que melhor define o álbum como um todo. É a segunda música do disco, e com o feat masculino na música, a sensação é que Amy divide sua história, que vai sendo desenrolada nos 48 minutos. É a única música com uma participação e destoa do resto da tracklist, que, ao ser escutada por inteira, parece ser pessoal demais para ser dividida — e talvez, se Bring Me To Life estivesse no meio do álbum, esse sentimento seria maior ainda. 

My Immortal, a 4ª track, deixa de lado o hard rock e as distorções de som e traz Amy, um piano e um violino. A melancolia é uma característica presente no álbum inteiro, mas, sem dúvidas, é uma das músicas mais sonoramente tristes. Haunted, que vem em seguida, traz novamente — quase no primeiro minuto inteiro — as distorções e efeitos de som que dão o tom sombrio e arrepiante do disco. Inclusive, são esses recursos que tornam difícil encaixar o Evanescence dentro de um gênero musical baseando-se apenas no Fallen. Os efeitos sonoros e vozes que trazem o gótico e o assombroso junto ao metal e hard rock fazem muitos enxergarem a banda como metal gótico/alternativo, mas alguns, por sua vez, encaixam dentro do nu metal — principalmente por conta do rap de Bring Me To Life

Um momento muito especial do Fallen é a transição entre Tourniquet e Imaginary. É uma passagem tão suave e imperceptível entre as músicas que o final de Tourniquet não tem gosto de final: quando você escuta o álbum todo, é, na verdade, um build up até a guitarra de Imaginary.

Além da tristeza e do desespero que a cantora traz no álbum com sua voz e composição, e da imersão no delírio e na loucura que os efeitos de som e segundas vozes criam no ouvinte, uma das narrativas mais presentes em Fallen é a invisibilidade que Amy sente. Gritar e não ser ouvida. Amar e estar sozinha. Não ser vista. É um pedido de socorro que ninguém escuta.

Screaming, deceiving and bleeding for you and you still won’t hear me

Don’t you see me? 

Do you remember me? 

You don’t remember me, but I remember you

Hello, I’m still here

Oh, can you hear me?

E então, na última música, Whisper, Amy percebe que não tem ninguém. 

Speaking to the atmosphere / No one’s here and I fall into myself 

Os sentimentos, a sinceridade crua e dolorosa e a história emocionante que o disco traz para o ouvinte explica o sucesso global que teve. Fallen vendeu 10 milhões de cópias nos Estados Unidos e mais de 17 milhões no mundo. Em 2022, virou disco de diamante. 

Assim, 20 anos depois, as perguntas da Amy ao longo de todo o álbum são facilmente respondidas. We see you, Amy. É um conjunto de vários fatores que torna algo memorável e Fallen é exatamente isso: memorável, tocante, intenso e imortal.