Analisando a discografia da John Wayne

Analisamos a discografia de um dos grandes nomes da música pesada no underground: um olhar aprofundado na discografia do John Wayne

Arte: Carol Moraes / Downstage

A John Wayne é um dos principais representantes da música pesada no Brasil. A banda que sempre transitou entre o deathcore e o metalcore, conquistou seu lugar no cenário underground brasileiro, lançando ao longo dos anos trabalhos cada vez mais expressivos e com um nível de qualidade altíssimo. Com uma trajetória cheia de momentos marcantes, passando até mesmo pelo palco do Rock in Rio, a John Wayne segue construindo sua história com muito respeito, humildade e é claro, muita música boa.

Com três álbuns e um EP, a banda conta com uma discografia curta, porém, consistente e com uma qualidade indiscutível. O Downstage analisou todos os discos da John Wayne, destacando as principais diferenças entre cada trabalho, além de ressaltar os pontos positivos e negativos de cada álbum. Um verdadeiro mergulho no universo musical da John Wayne.

Ep2011

(Imagem: Reprodução / Spotify John Wayne)

O primeiro trabalho da John Wayne é o registro de uma banda que tem como pilar principal a amizade. Formada por amigos de bairro e escola, a banda é o resultado de bons amigos que gostavam de se reunir para tocar, beber e trocar ideia frequentemente. Prova disso é que o primeiro EP d John Wayne levou um ano para ser produzido, já que queriam fazer tudo no ritmo deles. Com quatro faixas, Ep2011 é o pontapé inicial de uma banda que, mesmo sem grandes pretensões, estava disposta a colocar seu nome na cena underground fazendo um som original e com personalidade.

As três músicas do EP (já que a primeira é uma intro bem curtinha) são carregadas de peso e vocais guturais cheios de presença. O trabalho tem fortes influências de deathcore e mostrava que o Brasil também tinha ótimos representantes do gênero em atividade. A obra é bem importante na discografia da banda, apresentando o som da John Wayne para o mundo e abrindo caminho para as inúmeras conquistas que viriam ao longo dos anos.

Tempestade (2012)

(Imagem: Reprodução / Spotify John Wayne)

O álbum Tempestade até hoje é um dos álbuns mais bem conceituados e trabalhados da banda, com letras impactantes que mostram a nossa realidade e tudo o que a banda tem a oferecer para a cena. É nítido que John Wayne não é para todo mundo e dificilmente vamos encontrar outra banda nacional que faça tanta história como os caras andam fazendo desde então.

Conseguimos ver já na faixa-título Tempestade toda a técnica vocal do Fábio Figueiredo e todo o instrumental fenomenal da banda, com riffs impecáveis, muitas viradas e uma batida constante e encorpada; a melodia, então, é capaz de te transportar para um mosh pit do seu próprio quarto. A faixa Lágrimas já começa com um riff absurdo e uma bateria de outro mundo. É perceptível também o quanto o vocal do Fábio é bastante consistente, trazendo uma personalidade para a John Wayne jamais vista em qualquer outra banda naquela época. Essa é uma das músicas mais bem produzidas do álbum.

Retrato da Nossa Miséria é a faixa mais expressiva e com a melhor composição do Tempestade, retratando perfeitamente a nossa realidade e fazendo todos pensarem e repensarem sobre qual rumo seguir na vida. O lírico é forte e a melodia gruda na cabeça por dias. Solaris tem uma das melhores melodias do álbum, com o gutural bem sombrio e riffs de arrepiar até o último pelo do corpo. O lírico te transporta para o submundo e é impossível ficar parado com a batida constante.

Pregue a Paz começa com um riff sem igual e uma melodia impecável, daquelas que não saem da cabeça, fora que o vocal já começa a música arrebentando tudo. A faixa tem uma das letras mais bonitas do álbum, tentando trazer a união e, literalmente, pregar a paz na sociedade – ou morrer tentando.

Talvez o Amanhã é a música perfeita para aqueles que cometem diversos erros e acham que vão sair impunes. O passado não se apaga, os atos sempre serão lembrados, as vidas tiradas… É um lírico pesado e forte e nos faz parar para refletir sobre todas as coisas que fazemos e a quem fazemos. O solo da faixa é fenomenal e o vocal impecável, como sempre.

(Foto: Filipe Nevares)

Aliança é a faixa principal do álbum. Com participação especial do Bruno Figueiredo (vocalista do Black Days) e Rodrigo Brandão, a música retrata a união entre as bandas da cena underground e como é importante todos se manterem unidos. O vocal limpo dá um toque especial para a faixa e deixa tudo mais mágico de ouvir.

Estudando mais profundamente o álbum nos damos conta de como a nossa realidade miserável não mudou desde seu ano de lançamento. John Wayne soube muito bem como retratar tudo o que vivíamos na época e jamais imaginaria que nada mudaria 10 anos depois, mas seguimos tentando.

Dois Lados, Pt. I (2015)

(Imagem: Reprodução / Spotify John Wayne)

Em seu segundo trabalho, a John Wayne mostrou que é uma banda em constante evolução. Diferente de seu antecessor, Dois Lados Pt I é mais acessível, contando com um instrumental limpo e com vocais menos agressivos. Fabio Figueiredo ainda soa imponente e feroz, mas com linhas vocais rasgadas e limpas, intercalando com os guturais mais característicos do deathcore e abandonando os pig scream. O instrumental é mais amplo, pegando referências do metalcore, deixando a sonoridade da banda ainda mais afiada.

O peso é sem dúvidas um dos destaques da obra. Um álbum visceral e intenso, reforçando o talento da banda e mostrando como estavam dispostos a expandirem sua sonoridade, incorporando novas influências. Além do metalcore, é possível notar doses precisas de hardcore no som da John Wayne, o que acabou enriquecendo ainda mais a identidade musical do grupo.

O álbum abre com a faixa introdutória Passagem, preparando o ouvinte para a porrada sonora que está por vir. Quatro Velas já apresenta as mudanças na sonoridade da banda, com seu instrumental influenciado por outros gêneros além do deathcore. Os vocais de Fah estão mais limpos e rasgados, mostrando o quanto o vocalista é versátil.

Os riffs de guitarra dominam Dois Lados, Pt. I (Inferno), realçando o instrumental, que dá um verdadeiro show na faixa. Em Identidade, coloca os vocais furiosos de Fah em destaque, além de contar com uma mensagem bem positiva na letra. Aeternum é uma canção instrumental que traz um momento de descanso para o ouvinte.

Até o Fim vem com uma bateria destruidora. Uma das faixas mais intensas e completas do álbum. Fah mostra toda a potência de seus guturais em Pesadelo Real, deixando nostálgicos os fãs do clássico Tempestade. A sequência final do disco é de tirar o fôlego. Recomeço é uma das melhores músicas da obra, onde os vocais do Fah caminham em harmonia com o instrumental marcante.

Novo Círculo é um interlúdio para Caim, que traz um final apoteótico para o álbum. Sem dúvidas uma música que mostra todo o potencial da banda, onde todos os músicos mostram suas habilidades. Um final condizente com um trabalho intenso e poderoso como Dois Lados Pt. I.

(Imagem: Reprodução / Spotify John Wayne)

Boomer Sessions (2017)

Em 2017 a John Wayne, ainda com Fah Figueiredo nos vocais, gravou uma live sesions de 4 faixas no Boomer Studio, e disponibilizou no streaming com o nome de Boomer Sessions, trazendo músicas os álbuns Tempestade, Dois Lados pt. 1 e também o single Vida, lançado em 2016.

Um trabalho de excelente qualidade, que mostra o potencial de todos os músicos, sobretudo de Fah nos vocais, com muita entrega e voracidade, marca registrada do vocalista.

Purgatório (2019)

Com músicas mais densas e cheias de melodia, Purgatório é o terceiro álbum de estúdio, e o último lançado até então pelos paulistanos da banda John Wayne. Com temas que avançam desde a Divina Comédia de Dante Alighieri, até referências bíblicas que causam espanto até os dias atuais, como a avareza, por exemplo.

(Imagem: Reprodução / Spotify John Wayne)

São 10 faixas repletas de intensidade e entrega por parte do então quinteto que continua fazendo um metalcore de qualidade no nosso cenário underground, ressaltando a entrada e estreia do vocalista Guilherme Chaves.

O álbum abre com a faixa introdutória A Ilha, onde é possível ser inserido dentro de um mundo vasto de sofrimento, dúvidas, medos e batalhas, apresentando o famoso purgatório. Na sequência, a primeira faixa de fato, Abel, já mostra qual o rumo que o trabalho irá tomar. Fazendo alusão à passagem de Caim e Abel, a letra fala sobre inveja e o sentimento de querer ser superior, atrelada ao fazer sem pensar nas consequências. O instrumental revela um lado mais cadenciado e ‘violento’ que a banda adotará no decorrer das faixas, um ótimo começo.

Seguindo, Demasia entra com uma guitarra dobrada falando sobre sempre querer mais, buscar o que te pertence, mostrando além do vocal sujo, a potência vocal de Guilherme, com um belo breakdown na faixa.

Certamente a faixa mais trabalhada do álbum, Midas retrata a fome de ter seu lugar garantido. Com um instrumental quebrado e cheio de atos, a música entrega justamente o que a John Wayne sabe fazer de melhor: surpreender. É incrível a forma como todos os elementos se encaixam perfeitamente dentro do som, fazendo da track uma das mais exaltáveis dentro do álbum.

(Foto: Filipe Nevares)

Cair do Céu abre logo de cara com um blast beat poderoso, preparando para o restante da faixa que é peso puro. Destaque para as alternâncias de vocal de Guilherme, que dá um verdadeiro show à parte. Pecado Original é o famoso interlúdio na hora certa, antecedendo a poderosa Caminho das Pedras, que com certeza faz alusão a músicas clássicas da banda, deixando aquele ar saudosista no instrumental.

Seguindo temos Crucificado, uma faixa mais cadenciada, com fortes linhas de baixo, além de belas preparações das guitarras, a track fecha o momento peso do álbum, aguardando a última faixa.

Certamente a faixa mais melódica do trabalho, Amuleto dispensa elogios com as melodias das guitarras e o trabalho de percussão extremamente virtuoso acompanhando todas as linhas. Ganhando ainda mais vida na segunda metade da música, a track fecha com o seu poderoso refrão, juntamente de um dos riffs mais bonitos da banda. Adeus encerra de maneira harmônica a jornada do personagem que passou por todos os estágios, fechando as 10 faixas deste baita álbum.

(Imagem: Reprodução / Spotify John Wayne)

Brutal Sessions (2020)

Já a Brutal Sessions, projeto de live sessions da marca de roupas underground Brutal Kill, trouxe a John Wayne, juntamente de outros artistas para o Estúdio TOTH, gravando 3 sons no ano de 2020, onde a banda, já com o novo vocalista Guilherme Chaves, trouxe três música do seu então mais recente álbum de estúdio, o Purgatório.

Vale o check neste também, pela qualidade do material e a apresentação da banda.