A fórmula que nunca sai de moda: Marinas Found une política a rock agressivo
Com pitadas de sarcasmo, crítica social e sentimentalismo, banda lança o single Fodidaísmo
Formada por amigos desde a época do colégio e cheia de idas e vindas na formação. A história comum no mundo das bandas formou o que hoje é a Marinas Found. Atualmente contando com Pedro Soler, Eduardo Walerko, Murilo Uarth e Mike Pires, a banda originária de Pelotas vem construindo seu espaço na música alternativa do Rio Grande do Sul e também do Brasil.
Ainda sobre sua história de origem, Soler conta que “tudo começou na época do colégio com as bandinhas que a gente montava. A gente sempre gostou muito de blink-182 e de Green Day, então era o que a gente tocava no início”, revela. “Durante esse período a gente já era amigo do Walerko e quando o nosso primeiro baixista teve que sair ele entrou na banda.”
“Em 2020 nosso baterista deixou a banda, e foi quando a gente chamou o Murilo pra fazer parte”, relembra Walerko. “Ele tinha 17 anos, então era tudo que a gente precisava: alguém que fosse bom baterista e estivesse com tempo livre. E nessa mesma pegada depois chegou o Mike”, brincou o baixista enquanto finaliza o roteiro que levou à atual formação do grupo.
Questionados sobre as influências que formaram e formam a sonoridade da Marinas Found, Soler comenta que no começo era “bem blink e Green Day“, mesmo. “Se pegar nosso primeiro álbum ele vira quase uma demo se comparar com o que a gente vem lançando agora — em termos de qualidade. Então seguia uma identidade bem monotemática.”
Além disso, a banda ainda revela que suas referências no âmbito nacional são bem mais próximas do hardcore brasileiro, sobretudo Dead Fish e Sugar Kane. “No nosso disco Ansiolítico, de 2019, já tem influências de Refuse, que é mais post-hardcore. Ao mesmo tempo que a gente tenta trazer outras paradas, a gente mantém essas referências no hardcore”, revela o grupo.
A sonoridade bastante diversa ao longo dos anos tem uma explicação: a vontade de experimentar. Enquanto no primeiro disco há tentativas mais tímidas com ska, o segundo a mistura é “um caminhão de coisas, com influências de post-hardcore e até metal”, como descreve a própria banda.
“Esse ano a gente fez toda a produção dos singles. Eu comecei a produzir eu mesmo então deu pra experimentar ainda mais”, complementa Pedro Soler. “Dá pra citar o Turnstile como uma referência. Nem tanto no som mas com as inovações que eles trazem, colocando um sintetizador, um efeito, que são as coisas que a gente trouxe nos singles desse ano.”
Uma banda politizada
Sobre a temática bastante política que acompanha a banda em algumas músicas, Walerko explica: “Quando surge a vontade de escrever sobre um determinado assunto a gente escreve […] acaba que por sermos todos pessoas que vivem a política de forma bem ativa a gente acaba também falando sobre.”
“No geral é uma coisa bem fluida porque até nas canções que pegam mais no emocional acabam sendo atravessadas pela vida política”, continua. “Não tem como ser plenamente feliz no Brasil de Bolsonaro, no Brasil de Temer.”
Ainda falando sobre o tema, Mike Pires elabora a ideia de que o emo é um produto do momento político do país. “Tem até uma teoria de um amigo nosso de que o emo só tem sua ascensão no Brasil porque a gente tava vivendo um momento econômico mais tranquilo e, por isso, dava pra pensar nos sentimentos e no que tava doendo”, explica. “Faz todo sentido, porque se você tem um trampo legal, se tem comida em casa, é aí que você vai se deixar sofrer pelo emocional, por não estar bem com a sua companheira, ou por estar na busca de alguém. Então você tem tempo de pensar nessas coisas.”
Questionado se existe o receio de a banda ficar marcada como uma banda “de esquerda”, Soler é direto: “Particularmente eu acho importante ser identificado enquanto uma pessoa de esquerda, até porque eu não gostaria de ver colando no nosso show uma galera que vai ser machista, vai ser racista”, esclarece. “Ao mesmo tempo, a gente não quer ser só isso porque vão existir públicos que ainda não tem maturidade política pra escolher. Ouvir uma banda que canta assim ou assado… e pra essas pessoas a gente ainda quer ser uma banda legal de se escutar.”
Soler traz a experiência de Planícies, single da banda que fala sobre a desigualdade social, complementando o tema. “A gente entende que existe essa vontade de fazer uma música mais popular pra poder chegar mais longe, mas ao mesmo tempo, no Ansiolítico, nós lançamos cinco singles com a mentalidade de ter uns dois mais politizados e uns dois mais comerciais”, relembra.
“E Planícies é até hoje a nossa música mais ouvida e, apesar de falar sobre Pelotas, narra uma questão que se repete em muitos lugares”, analisa. “Então nem sempre esse cabo de guerra vai puxar em direções contrárias. Às vezes a música mais política vai ser justamente a mais ouvida.”
Próximos passos
Sobre o single que sai nessa sexta-feira (17), Soler antecipa alguns detalhes: “O nome dele é Fodidaísmo. É uma música que vai falar sobre política, vai falar sobre emoção, mas de uma forma bem sarcástica.”
Walerko, compositor da faixa, completa: “Quando eu tava escrevendo ela eu comecei falando sobre alguns episódios de depressão e ansiedade que eu tive. E nisso eu lembrei de dois amigos músicos que são o Tosco e o Rodrigo Duarte“, explica o músico. “[Eles] abordam a arte de uma forma bem visceral. E eu fiquei pensando enquanto escrevia a música que deveria ter um movimento artístico destinado a classificar esse tipo de artista . Assim como tem o dadaísmo e o cubismo, deveria ter o Fodidaísmo, que é a arte dos fodidos.”
Questionado sobre os próximos passos da banda, Mike comenta: “A partir daí a ideia é preparar um EP fechado pra ser lançado no próximo ano e ir pra rua fazer show. Tirar esse atraso dos shows e fazer muito mais até. Nossa ideia era, se não fosse a pandemia, tocar em outras cidades, outros estados, então assim que for possível a gente quer pegar a estrada e tocar em outros lugares por todo o país.”