Siamês: Os momentos de uma vida compartilhada
Expoentes do emo caipira, Chococorn and the Sugarcanes lança seu álbum de estreia narrando as dores e angústias de crescer
Santa Bárbara d’Oeste é uma cidade do interior paulista com cerca de 200 mil habitantes. Para quem talvez não saiba onde fica o município, ele está localizado entre Campinas e Piracicaba, suas vizinhas um pouco mais famosas. Além de um importante produtor de cana de açúcar, a cidade é, desde 2021, também um exportador de música emo. E os principais responsáveis por isso são os meninos da Chococorn & The Sugarcanes, banda referência do “emo caipira”, como eles mesmos gostam de chamar, e que lançaram seu primeiro álbum de estúdio: Siamês.
A história do grupo tem início em uma festa de Halloween que não tinha sequer a proposta de ser um evento de bandas. “Era uma festa à fantasia em uma chácara com piscina, funk tocando e um monte de adolescente que não tava nem aí para gente, que não tinha porquê gostar da gente. Eles amaram o show, a gente amou eles e começou aí”, conta Pipe.
O “Emo Caipira”
Para o grupo, o momento atual é muito importante para o surgimento e consolidação de novas bandas no cenário nacional. “A gente nunca imaginou que a gente estaria do tamanho que a gente tá, alcançando as pessoas que a gente tá alcançando, sendo acompanhado por bandas como a El Toro Fuerte. E outras bandas que a gente acompanha, como Quem É Você Alice?, Bella e o Olmo da Bruxa, Chão de Taco, também estão ganhando espaço e andando junto com a gente. É muito legal fazer parte desse momento”, afirma Pietro.
Sobre o movimento do “emo caipira”, Pietro comenta: “A gente tem conseguido chegar na capital e levar essas bandas juntas com a gente, mas também temos conseguido fazer um movimento interessante que é o de levar essas bandas pro interior. Tem público em Campinas que gosta dessas músicas, tem público em Americana, em várias cidades que normalmente ficam de fora do roteiro de shows. E a gente tem conseguido mobilizar a galera pra ir até esses lugares”.
Ainda sobre o papel da Chococorn na cena, Pipe completa: “Eu enxergo que a gente tem também um papel de democratização do fazer música. De mostrar que dá pra você fazer música de dentro do seu quarto e alcançar muita gente a partir disso”.
Para os meninos, o banda de casinha fest foi um marco muito importante nesse processo de criar conexões e reafirmar que estavam no caminho certo. “Quando a gente tava compondo o álbum o Pietro várias vezes trazia o Rock Jr. do eliminadorzinho como referência. E aí chega o banda de casinha e a gente toca junto com os caras. E depois disso já tocamos outras duas vezes, já trouxemos eles para tocar em Campinas. É muito legal poder ter essa passagem de ídolo para amigo”, comenta Pipe.
Siamês
Sobre o processo criativo que deu origem ao novo álbum, Ale comenta: “fazer um álbum de midwest emo não faria sentido porque não é isso que a gente vive, não faz parte do nosso cotidiano. E foi quando a gente começou a explorar a ideia de emo caipira, de tentar trazer elementos brasileiros pra nossa música. Seja em sonoridade, ou progressões que vem aparecendo bastante por aqui. A gente não quer se limitar em uma sonoridade que já foi explorada lá fora”.
E, para Pietro isso se reflete também nas composições. “Quando a gente vive no interior, muitas vezes a gente precisa sair da nossa cidade pra conseguir fazer as coisas, seja ir pra faculdade, ir tocar em algum show. E a gente carrega muito isso nas músicas. Eu mesmo hoje tenho duas casas por conta da faculdade e isso faz com que eu sinta saudade em qualquer lugar que eu esteja. São essas vivências muito próprias que a gente tenta trazer”.
Ainda sobre o tema – e nome – do álbum, Ale comenta: “É um álbum que mostra um retrato desse momento da nossa vida, que também é parecido com a vida de muita gente, de ter que lidar com mudanças, ter que com crescer e muitas vezes se separar das pessoas que compartilharam toda a vida com você até aquele momento”.
Perguntados sobre qual seria a faixa favorita de cada um no novo álbum, Pipe responde: “A minha favorita é Kaworu. Ela não é a música mais complexa, nem tem um instrumental super rico. Mas ela consegue ser linda nessa simplicidade. Ela é linda no pelo”. Já Pietro, escolheu Tusca Nosso. E justificou assim: “Foi a última música que a gente compôs. Já fizemos ela separados, cada um em uma cidade por conta da faculdade e ela fala sobre essa separação. É triste mas também tem uma felicidade melancólica de lembrar de momentos legais nossos”. Já Ale escolheu Mansão Foster que, em suas palavras, traduz muito das suas influências artísticas e ainda tem a participação de uma pessoa muito especial. Já Pedro escolheu Tunico como sua favorita.
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