Texto por Felipe Klopper

Após três anos sem entrarem em um estúdio para gravação de um álbum, os meninos d’O Grilo retornam com grandes expectativas para uma nova era da banda com um disco que aborda temas sobre maturidade, a transição da adolescência para a fase adulta e até mesmo arrumar um namorado no GTA.

Teixeira, Cavallari, Pedro e Fepa conversaram com o Downstage sobre o recém-lançado Tudo Acontece Agora – Parte 1 e seu plano de dominação mundial em sua nova era. Vindo de uma fase bem frutífera com o disco anterior Você Não Sabe de Nada, tendo passagem pelo Lollapalooza, casas de show com ingressos esgotados, eles comentam como o Tudo Acontece Agora chega nesse momento tanto na carreira, quanto pessoalmente.

“Chega num momento que a gente está passando da nossa fase adolescente para a nossa fase adulta. Estamos ali entre os 25 e 26 anos”, explica Teixeira, o baterista da banda. 

“O Grilo foi um projeto que, individualmente, requereu uma maturidade muito grande em pouco tempo para cada um de nós. Então [o novo álbum] chega em um momento em que a gente conseguiu digerir um pouco desse turbilhão de coisas que aconteceu desde a volta da pandemia”, ele completa. 

Teixeira também contou sobre cada um deles estarem cursando faculdades diferentes no início do projeto e mesmo com outras profissões, existia o desejo de serem músicos, mas não a certeza, e foram descobrindo pelo caminho. 

“O Tudo Acontece Agora é um pouco o reflexo disso, de olharmos um pouco pra nós mesmos, ter a paz de escutar o que a gente gosta e falar ‘vamos fazer esse som e foda-se o mundo’, brinca o baterista. “A gente vai envelhecendo, vai querendo agradar menos algumas pessoas e vai querendo fazer mais aquilo que a gente quer mesmo. 

Ele completa: “Se as pessoas gostarem, ótimo, incrível. Acho que o Tudo Acontece Agora tem um pouco disso, talvez por isso seja um pouco mais roqueiro, mais nostálgico e emotivo.”

Cavallari disse ainda que o que contribuiu muito para esse amadurecimento foram muitos anos de terapia, uma demanda obrigatória vinda do produtor Igor. “Ele chegou para gente [depois do Lollapalooza] e a primeira coisa que ele falou não foi parabéns, foi tipo ‘Gente, a partir de agora, todos vocês precisam e é uma ordem fazer terapia” ‘, revela o baixista d’O Grilo. 

“Então, é uma coisa que a gente meio que se resolveu um pouco mais com o passado e talvez parou de ser um pouco ansioso em relação ao futuro”, acrescentou Cavallari. “E a gente passou a viver o agora um pouco mais fortemente assim. Então esse ‘agora’ é tipo ‘cara, o que a gente é agora? O que a gente tá pegando vibe? É isso, então foda-se, Vamos fazer isso aqui’.”

“Ter maturidade não é você necessariamente falar as palavras mais bonitas e ter as reflexões mais profundas, às vezes é ter maturidade suficiente para falar que eu posso fazer uma música sobre arrumar um namorado no GTA e tá tudo bem velho, sabe?”, responde Pedro. 

Ele ainda declara que no Você Não Sabe de Nada ainda tinham a preocupação sobre o que falar nas músicas. “Agora é tipo ‘porra, soou legal, meus amigos deram risada, então foda-se’, é dentro, sabe? Então, é um processo diferente. A gente fez um pouco mais as pazes com esse processo todo de criação”

“Dominação mundial!”, brinca Pedro, quando perguntado quais eram as expectativas para o novo álbum. “Acho que um pouco desse momento, e até o nome, “tudo acontece agora” e a gente cria sempre expectativas, mas a gente é um pouco mais tranquilo com elas assim, sabe?”, ele completa. 

“Então é tipo, a gente quer sempre tocar em palcos maiores e crescer e atingir mais pessoas e poder fazer mais do que a gente gosta. [..] Hoje em dia a gente tá numa [vibe] de tipo ‘pô, cara, entregamos uma coisa muito legal e vamos colher os frutos disso sem também nos cobrar tanto assim’”, declarou.

Pedro ainda acrescenta que no Você Não Sabe de Nada a expectativa da banda era de ganhar um Grammy, mas agora são outros objetivos e eles estão felizes com isso.

Cavallari ressaltou sobre a vontade de querer crescer, chegar em outros lugares e tocar em palcos maiores. “Mas no final das contas, a gente quer criar e entregar uma experiência ainda mais legal com os nossos fãs, com a galera que curte a gente. Assim, a gente tem uma experiência muito positiva e se divertindo, no final das contas é o principal.”, completa

TURNÊ MUNDIAL OU ROADTRIP COM OS AMIGOS?

“Eu peguei uma camisa de piloto de avião e tive a ideia que seria muito legal se O Grilo fosse uma agência de viagens, tipo uma companhia aérea, sabe?”, respondeu Teixeira quando perguntei como surgiu a estética do Tudo Acontece Agora. Ele afirma ainda que foi uma “ideia meio solta”, mas que recuperaram a ideia quando começaram a produzir o álbum.

“Porque o álbum fala muito sobre mudar, sobre ver a vida de outros olhos, de outras perspectivas, aceitar o tédio as vezes aceitar que ele faz parte da vida e que você pode pegar pequenos momentos do seu dia a dia e transformar ele em ótimos momentos, sabe?”, explica.

“E então a gente foi relacionando um pouco esse contexto de viagem com as músicas e aí surgiu a ideia de fazer uma agência de viagens, em vez de uma companhia aérea [..], acrescenta. “E coube muito bem assim, porque além de ambientar bem as músicas e o álbum, ele também ambienta bem esteticamente. É muito legal a gente poder explorar visualmente a agência de viagens. Nós sermos os funcionários. E a gente fez todo o photoshoot da agência como se fosse de verdade. Fez um vídeo de propaganda, um site.”

Ele relembra do Você Não Sabe de Nada em que criaram um personagem, o Lauro, com histórias em quadrinhos e músicas que acompanham visualmente o álbum. “Foi super natural também”, conta.

O segundo álbum de estúdio d’O Grilo já vem dividido ao meio com uma estratégia em mente: “pulverizar um pouco os lançamentos para várias músicas pegarem playlists para você ter vários momentos que as pessoas vão ouvir as músicas e revisitar bandas”, eles comentaram.

Teixeira explica inclusive que quando começaram a fazer o álbum, nem pensavam muito nisso. “Só foi surgindo muita música e quando a gente foi ver, já tava com 20 músicas para gravar”, revelou.

“De primeira ia ser um álbum de vinte músicas, e é isso aí. Depois acho que foi o momento de olhar isso para um certo distanciamento e entender que o álbum seria melhor digerido pelo mundo, e pelas pessoas, se a gente dividisse em duas partes, porque vinte músicas em um álbum pode ficar um pouco cansativo, principalmente para uma banda que tá iniciando.” complementa. 

“Quando a gente estiver no quarto, quinto [álbum], a gente mete essa marra”, Teixeira já promete em tom de brincadeira declarando se inspirar em Red Hot Chilli Peppers com o Stadium Arcadium que contém 28 faixas.

“Tudo pode mudar”, declara Teixeira quando sobre o lançamento da Parte 2. “A gente não quis bater essa decisão agora, como se a gente tivesse 100% de certeza.”, completou o baterista. 

Sem previsão para a segunda metade do álbum, a banda fala sobre suas referências musicais para Tudo Acontece Agora e o que define como o “tripé” das influências. Citando Coldplay, Tame Impala e Red Hot Chilli Peppers com nomes internacionais, eles ressaltam também as raízes na música brasileira como Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso, Djavan e Jorge Vercilo.

Pedro explica que em Você Não Sabe de Nada, eles tinham a intenção de fazer um álbum muito brasileiro. “E aí, quando a gente fez as pazes de que todo mundo aqui nasceu no Brasil, inevitavelmente tudo o que a gente fizer vai ser brasileiro. A gente pensou: ‘Tá bom, então posso fazer qualquer coisa.’”

Teixeira revela que a faixa Já Não me Faz Bem, a favorita de praticamente todos eles, foi criada em uma jam faltando apenas uma semana para o início das gravações. “Foi um momento muito especial também pra gente.”

“Fazer música é tipo ter um filho, tá ligado? Aí alguém vira e fala: ‘Mas qual é o teu filho favorito?’”, declara Pedro rindo. “Eu gosto muito de todas, cara, até TUDO// que é esquisitona, me amarro.”
Tudo Acontece Agora – Parte 1 já está disponível em todas as plataformas digitais.